Psicologia Econômica: A razão atropelada

Circuitos primitivos enlouquecem o mercado
Por JULIE CRESWELL
New York Times / Folha de S.Paulo
15/08/2011

Bradley Alford, um gestor financeiro em Atlanta, acaba de apertar o botão do pânico.
Bem, não exatamente. Alford acaba de apertar a tecla do seu computador que aciona o equivalente em termos de Wall Street à opção nuclear: venda tudo.

Ele estava agindo sob ordens de dois clientes ricos que ficaram tão alarmados com as perspectivas turbulentas que preferiram pular fora das Bolsas, passando para um fundo mútuo relativamente isolado de um colapso do mercado.

"Eu nunca, nunca fiz isso antes", diz Alford, presidente da Alpha Capital Management. "Foi inédito."



Profissionais de finanças estão sempre dizendo às pessoas que elas continuem investindo para a aposentadoria e permaneçam acreditando, a despeito do sobe e desce diário do mercado. Mas até eles têm pensado duas vezes.

Os giros e mergulhos malucos nas Bolsas mundiais e o rebaixamento na nota de crédito dos EUA fazem com que todos se perguntem: o que está acontecendo?

Já fazia tempo que se acumulavam evidências de que a economia americana vai de mal a pior. E todo mundo sabia que a Europa tinha um problema de dívida. Por que, então, todas essas loucas oscilações?

Uma possível resposta vem, quem diria, da psicologia e da neurociência. Nos últimos anos, um campo de estudos chamado de neurofinanças tem tentado usar a ciência cerebral para explicar como nossos circuitos primitivos podem atropelar a nossa razão quando se trata de investir.

Muitos especialistas dizem que a crise de 2008 recalibrou a psique dos investidores. Depois de passarem pelo colapso do Lehman Brothers e pelo pânico subsequente, alguns investidores estão dispostos a vender primeiro e perguntar depois.

Resultado: os mercados enlouquecem.

Dick Del Bello, sócio da Conifer Securities, empresa que assessora fundos de hedge, diz que esses fundos começaram a colocar mais fichas contra os mercados, mesmo que seja só para se protegerem. Mas como um todo, afirma, eles ainda estão apostando que as ações vão subir, ao invés de descerem.

"Os fundos de hedge decidiram ampliar suas posições de curto prazo e jogar mais defensivamente", diz ele.

Em outras palavras, a confiança é frágil.

Denise Shull, fundadora da Trader Psyches, que presta consultoria de estratégias de neurociência a fundos e investidores, diz que muitos investidores estão usando o pânico de 2008 como novo ponto de referência. Depois de tanta gente ter perdido tanto dinheiro, muitos investidores já não hesitam em vender no primeiro sinal de problemas, diz ela.

"O contexto de 2008 e o fato de não querer que ele ocorra de novo certamente influenciam essas pessoas a apertar o botão 'vender'. Então, isso se torna autorrealizável para o mercado."

Na verdade, vinha sendo relativamente fácil ganhar dinheiro em Wall Street.
Animadas pela esperança de que o Fed seria capaz de reativar o crescimento por meio do seu programa de compra de papéis, as Bolsas americanas dispararam em agosto de 2010 e continuaram subindo até maio.

Essa corrida deu aos investidores uma falsa sensação de segurança, afirma Roy Niederhoffer, que dirige a RG Niederhoffer Capital Management.

Niederhoffer, formado em neurociência computacional por Harvard, se diz surpreso com a complacência que os investidores demonstravam.

Uma medida disso é o índice VIX, da CBOE (Bolsa de opções de Chicago), que usa o preço das opções acionárias para mensurar as expectativas dos investidores a respeito da volatilidade futura.

Depois de disparar após o terremoto deste ano no Japão, o VIX caiu ao longo de junho e permaneceu relativamente em baixa até o começo de julho. Desde então, tem subido.
O professor de finanças Richard Sylla disse que as recentes quedas nas Bolsas tiveram todas as características de ataques de pânico.

O debate sobre o teto do endividamento americano, a preocupação com a economia dos EUA, a Europa -as más notícias não pararam de chegar, e os investidores deram o braço a torcer.

"Quando você junta todas essas coisas, os investidores ficam nauseados", diz ele.
Niederhoffer concorda. "Eu acho que, sem dúvida, houve uma tremenda mudança na psicologia, mas demorou um pouco", diz.

O próprio Niederhoffer passou por maus bocados devido à complacência dos investidores.

Ele usa a chamada estratégia do contrário, movendo-se contra a multidão. Agora, ele fareja oportunidades. "Vemos o que está acontecendo como um retorno à psicologia dos mercados em 2007 e 2008", disse. "Isso parece que vai longe."

Se ele tiver razão, os investidores deveriam apertar os cintos.

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