Mercadorias e futuros


por José Miguel Wisnik
O Globo
agosto 2012




Quando se trata de futuro, alinham-se logo futuristas de um lado, prontos a correr no tempo movidos pela aceleração tecnológica, e catastrofistas de outro, apegados a tudo o que não falta de sombrio nos cenários contemporâneos. Mais do que uma análise objetiva de fatos, que aliás nos ultrapassam em toda escala, acho que vão nisso também as propensões subjetivas, configurações íntimas de desejos e medos que nos arrastam para um lado e para o outro, e que em alguns se fixam na euforia do mais moderno e em outros se recolhem na melancolia da falta de sentido do mundo agressivamente mutante.

Rápido e devagar: duas formas de pensar

Os truques da mente rápida e a hora de pensar devagar
por Cesar Baima
O Globo
agosto 2012


Daniel Kahneman, psicologo nobel de economia



O psicólogo Daniel Kahneman, ganhou o Prêmio Nobel de Economia de 2002 pelo desenvolvimento da Teoria da Perspectiva, que mostra a nossa falta de racionalidade nas decisões entre alternativas que envolvem riscos

Considerado um dos maiores estudiosos da mente humana na atualidade, Daniel Kahneman ganhou o Prêmio Nobel de Economia de 2002, apesar de ser psicólogo. Prestando bem atenção, a última oração da frase anterior é uma amostra do que ele chama de Sistema 1, nosso pensamento rápido, intuitivo e automático. Antes dele, outros psicólogos e pesquisadores do comportamento já tinham recebido a honraria, mas isso não impediu a sensação de estranheza. Já a outra parte de nossa mente, o Sistema 2, é responsável pela reflexão, racionalização e solução de problemas complexos, mas lento e um preguiçoso nato. Muitas vezes, ele confia nas respostas automáticas do “irmão”, mesmo que elas fujam à lógica. Por outro lado, a intuição também permite que especialistas, como um médico, diagnostiquem doenças com um simples olhar em um paciente, ou um chefe dos bombeiros mande seus homens se retirarem instantes antes de um prédio desabar. Passamos a vida entre um e outro e é com eles que experimentamos o mundo, tomamos decisões e construímos nossa memória. Kahneman reúne as suas mais de cinco décadas de estudo deste processo no livro “Rápido e devagar – Duas formas de pensar” (Ed. Objetiva), recém-lançado no Brasil. Em entrevista a O GLOBO, ele conta alguns truques que a mente pode nos pregar e confessa que, mesmo depois de tanto tempo tentando desvendar seus mistérios, ainda não foi capaz de se treinar para evitar ser enganado pelo Sistema 1.

No livro o Sr. aponta o Sistema 1 como o verdadeiro herói da história, responsável por grande parte de nossa percepção do mundo. Mas nós nos identificamos mais com o Sistema 2, gostamos de pensar que sempre somos pessoas razoáveis e racionais. O fato de nos fiarmos mais no Sistema 1 significa que a racionalidade humana é um mito?