Pais milionários correm o risco de criar filhos infelizes e preguiçosos

por Ben Steverman - Bloomberg
Valor Econômico
Agosto 2014

As pessoas ricas têm dinheiro para resolver quase todos os seus problemas, com exceção de um: os filhos crescem e muitos se tornam herdeiros preguiçosos, materialistas e infelizes.



Consultores de fortunas que trabalham com os ricos se deparam com isso o tempo todo, diz Coventry Edwards-Pitt, que ajuda clientes a gerenciarem seus negócios na Ballentine Partners, uma firma de consultoria a fortunas que fica nos arredores de Boston. Com frequência, os filhos de pais ricos não conseguem caminhar por conta própria, diz ela. Eles iniciam empresas condenadas ao fracasso e vivem trocando de ocupação, ao mesmo tempo em que drenam as contas bancárias do papai e da mamãe (ou seus próprios fundos fiduciários) quando estão na casa dos 30 e além. É um fenômeno para o qual muitos pais e consultores fiscais contribuem, embora não intencionalmente, afirma Coventry Edwards-Pitt em um novo livro sobre o tema, "Raised Healthy, Wealthy and Wise".

A maioria dos pais quer que seus filhos se tornem adultos bem-sucedidos e autossuficientes. Mas um planejamento tributário inteligente, na verdade, pode sabotar a boa educação dos filhos. Para evitar o imposto sobre o patrimônio, os ricos americanos são informados de que podem e devem doar aos filhos até US$ 14.000, ou US$ 28.000 por casal, a cada ano, sem a incidência de imposto. Isso não é suficiente para a aposentadoria, mas é um colchão que a maioria das pessoas não tem. Adultos jovens e ricos podem pular de emprego para emprego enquanto perseguem "suas paixões", sem se esforçar muito para chegar a algum lugar.

O trabalho de Coventry Edwards-Pitts, enquanto consultora, é alertar os clientes quando eles estão mimando demais os filhos. Os pais precisam dizer "não" com mais frequência, observa ela. O objetivo não é proteger suas próprias fortunas, e sim encorajar os filhos a serem independentes. "Os pais acham que se não derem dinheiro estão privando os filhos", explica ela. "Na verdade é justamente o oposto."

Conforme disse Warren Buffett em uma entrevista à revista "Fortune", em 1986, que é sempre mencionada, "sustentar os herdeiros só porque eles vieram do útero certo" pode ser "um ato prejudicial e antissocial". Abrir o talão de cheques toda vez que os filhos enfrentam uma adversidade é uma coisa que mina o senso de realização desses indivíduos, diz Coventry. Se o papai banca todos os custos da empresa iniciante da filha, ela inevitavelmente vai sentir que o projeto é mais do pai do que dela e não vai aprender a cortejar os investidores ou se ater a um orçamento.

Para seu livro, Coventry entrevistou duas dezenas de jovens ricos que conseguiram ser bem-sucedidos por esforço próprio. Seus pais ajudaram, mas, no geral, houve limites para esse auxílio. No caso de um desses personagens, um videomaker que iniciou sua própria produtora, seus pais e um avô limitaram suas contribuições a 25% do capital. Já o dono de uma galeria de arte na casa dos 30 anos passou dez anos recebendo um pequeno cheque mensal dos pais para cobrir despesas de sobrevivência e o montante nunca aumentou.

O resultado de muito mimo pode ser uma mistura de culpa e ressentimento. O conselho de Coventry para ajudar nessa conquista de independência: pelo menos por um tempo, os filhos precisam ficar afastados física e emocionalmente dos pais ricos.

Para conseguir isso, outro entrevistado, um empresário indiano que nasceu rico, emigrou da Índia para os Estados Unidos. Um produtor de TV de uma conhecida família de Nova York tirou uma folga de um ano na Universidade Yale e viajou para a Austrália, onde trabalhou em uma fazenda de criação de gado, e depois como pescador no Pacífico. "Pela primeira vez em sua vida ele conheceu pessoas que nunca tinham ouvido falar de Yale ou de sua família", diz Coventry. Iniciativas como essas permitem aos filhos criar uma identidade fora do casulo familiar, uma conquista que não tem preço. (Tradução Mario Zamarian)

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