O papel das emoções na Visão de Futuro

Por Dado Salem
Novembro 2019


                                           Paul Klee: Pathos

Quando jovem comprei num sebo uma biografia de Freud escrita por Stefan Zweig. Dentro desse livro encontrei um recorte de jornal da Folha da Manhã, de 16 de fevereiro de 1947. Era um artigo de Psicologia descrevendo a hipótese do funcionamento psíquico proposto por Freud. Nele estava a constatação de que conteúdos inconscientes, como instintos e emoções, interferem nos nossos pensamentos, decisões e ações.

Eu ignorava por completo que essa parte desconhecida poderia conduzir minha vida para um lado desfavorável, que não me interessava. Naquele momento o que mais me preocupava era a construção do meu futuro, afinal havia literalmente uma vida pela frente. Mas como poderia pensar no futuro sem conhecer minimamente o que se passava nesse outro lado, o inconsciente? Hoje, quando me vejo estudando a construção de futuros, essa história ressurge. Como investigar esse tema sem considerar o papel das emoções?

Na antiguidade, os gregos, profundos conhecedores da psique humana, chamavam as emoções de Pathos. Potência capaz de agitar a mais íntima e profunda instância do ser humano, Pathos era considerado uma inclinação natural, conteúdo psíquico influenciador de nossas decisões e ações que tinha como finalidade desenvolver e realizar o ser humano. Funcionava como uma bússola, sendo eficiente quando trabalhado em conjunto com o Logos, a Razão.

Por outro lado, se deixado sem controle, Pathos poderia se transformar em força destrutiva, nas paixões que os estóicos e cristãos consideraram posteriormente como vícios, ou nas doenças que a modernidade tratou como patologias. (Chaui, M)