O design humano e a busca por propósito

Por Dado Salem
Outubro 2024

A relação entre design humano e propósito. Como uma abordagem profunda sobre o desenvolvimento de talentos e a descoberta de funções sociais moldam a realização pessoal e contribuem para o bem coletivo.


                                             Espiral Indigena no Novo México - símbolo da 
                                             busca pela realização individual e coletiva (1)

Independente de qual país, cultura ou momento da história uma pessoa nasce, seu maior desejo foi, é e sempre será a realização de seus talentos e a necessidade de reconhecimento.

Cada pessoa nasce com um conjunto único de talentos, características e inclinações — o que podemos chamar de nosso design. Esse design pode ser visto como o projeto do nosso potencial, a matéria-prima a partir da qual somos moldados. Algumas pessoas são projetadas para liderar com força e visão, outras para nutrir, cuidar, criar ou inspirar. Nesse sentido, o design humano não se limita a atributos físicos ou intelectuais, mas inclui os aspectos emocionais, espirituais e psicológicos que formam a essência de quem somos.

No entanto, esse design não é estático ou completo no nascimento. Assim como um escultor molda sua escultura, somos influenciados pela família, pelo bairro, pela cidade, pelo estado, pelo país, pela configuração dos astros, pelos acontecimentos, pelos nossos relacionamentos e pelas escolhas que fazemos ao longo do tempo. Experiências e desafios desempenham um papel no refinamento do nosso design, aprimorando nossos talentos e revelando nosso potencial. Nesse processo, começamos a entender não apenas do que somos feitos, mas também para que fomos feitos. 

Autorretrato

Por Dado Salem
Setemebro 2024





Sempre fui movido pela curiosidade. Quando era pequeno gostava de abrir gavetas e armários para ver o que tinha dentro. Minha mãe me chamava de Dado Fução. O tempo passou, hoje estou com quase 60 anos mas esse instinto investigativo continua vivo. Só que ao invés de gavetas abro páginas de cursos e programas acadêmicos. Meu foco tem sido bem errático, entro na página de uma Universidade e deixo a curiosidade me levar. Quando vejo um curso que me interessa me inscrevo. Tem dado certo. Desta vez me matriculei num aventuroso curso de Desenhos do Cotidiano oferecido pela Faculdade de Letras da PUC/RJ. Lá dizia que não precisava saber desenhar, coisa que não fazia desde criança. Me senti convidado a entrar e que aceitei.

Na primeira aula, logo nas apresentações percebi que estava cercado por designers e artistas, me vi numa arena de gigantes. Vou passar vergonha, pensei, mas respirei fundo e fui, corajosamente, com vergonha mesmo.

Apocalipse canibal: o que um experimento com ratos ensina aos humanos

UOL Ciência
Agosto 2024

John B. Calhoun demonstrou como uma utopia pode resvalar pelo ralo comportamental e se transformar num apocalipse



Entre as décadas de 1950 e 1970, enquanto o mundo estremecia diante da ameaça da superpopulação, um cientista americano dispôs-se a criar sua própria versão mini do apocalipse. E sua série de experimentos alterou a compreensão do comportamento em condições de aglomeração, com conclusões inquietantes que ressoam até hoje.

Shiva e o beija-flor - Ailton Krenak e Satish Kumar

Transcrição do diálogo no Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Selvagem - Ciclo de estudos sobre a vida
Junho 2024




O mundo é muito barulhento. Em qualquer lugar fechamos o olho... nós podemos aprender a selecionar quais os sons que a gente quer ouvir. Tem um povo muito antigo aqui nessa região da mata Atlântica, são os Guarani, e essa cultura Guarani entende que é possível escapar desse barulho se refugiando num bosque, numa mata escura, no mais profundo do nosso ser, e dizem: vá atravessa a floresta, vai mais longe, vai mais fundo, muito muito muito longe, lá você vai encontrar uma mata escura, lá só tem névoa. Fique lá dentro e tudo me volta silencia. É um tipo de meditação, é um acesso livre, não precisa nenhuma iniciação. Eu achei esse lugar pra fazer essa troca que nós chamamos de aprendizagem. Aprender sobre esse mundo aqui fora. Para fazer esse percurso a gente pode ter a facilidade de fazer ele dentro dessas copas, é um privilégio maravilhoso mesmo estando no Rio de Janeiro. Não parece que essa metrópole é uma metrópole barulhenta, mas o bosque, o Jardim Botânico essa multidão de árvores, seres vivos que estão aqui, elas absorvem essa violência toda, transmuta isso e nos permite ficar aqui dentro desse pequeno bosque... na nossa mata escura. Só alguns pássaros chegam aqui.

A visão do Bobo

Por Dado Salem
inspirado no texto de Cecil Collins, artista inglês associado ao movimento surrealista
Julho 2024


Num mundo dominado pela razão, o Bobo desafia as convenções, revela a magia da imaginação e a beleza da simplicidade. 




Num mundo sobrecarregado de racionalidade e dominado pela lógica, existe uma figura que dança levemente à margem da razão, livre das amarras do pensamento convencional. Esta figura é o Bobo. O Bobo, muitas vezes incompreendido e subestimado, personifica uma visão que vai além das superficialidades da existência moderna, oferecendo o vislumbre de um mundo onde a inocência, o encanto e a sabedoria se misturam e reinam supremos.

O Bobo, em sua essência, não está preso às estruturas rígidas da sociedade. Ele é um andarilho, um buscador de verdades que estão além do senso comum. Seus olhos inocentes, livres do cinismo, veem o mundo de maneira pura – uma tapeçaria infinita de beleza, mistério e potencias. Para o Bobo, cada momento é um milagre, cada encontro uma troca significativa, e cada caminho uma jornada rumo ao sublime.

Na mitologia, o Bobo aparece como um símbolo tanto de começos quanto de finais, um guardião da fronteira entre o conhecido e o desconhecido. Ele está no limiar da aventura, sem medo de cair no vazio, pois confia na benevolência do universo. Esta confiança não nasce da ingenuidade, mas de uma compreensão profunda de que o mundo é um lugar de infinitas possibilidades, onde a alma pode florescer se ousar sonhar.

Amor e trabalho combinam?

Por Anne-Sophie Moreau
Philosophie Magazine
Junho 2024

Nada menos romântico que o escritório? Não se engane: às vezes é no trabalho que nascem as grandes paixões. No entanto, cônjuges que também são colegas estão se tornando mais raros. Amor e trabalho remoto são realmente compatíveis?


“De manhã, no auge do trabalho, quando a jovem chegou à cozinha, as mãos deles se encontraram no meio da carne picada. Ela às vezes o ajudava, segurava os intestinos, enquanto ele os recheava com carne e bacon. Ou provavam juntos a carne crua das salsichas, com a ponta da língua, para ver se estava adequadamente picante. […] Muitas vezes ele a sentia atrás do ombro, olhando para o fundo das panelas, chegando tão perto que seu pescoço forte ficava nas costas dela. […] O grande incêndio colocou sangue na pele deles. » É numa delicatessen familiar que Lisa e Quenu, personagens de Le Ventre de Paris (Émile Zola, 1873), se conhecem e se apaixonam. Juntos, eles assumiram a empresa e o transformaram em um negócio próspero. Sob a pena de Zola, o amor é um emaranhado de erotismo substancial e interesse bem compreendido. Um paradoxo para quem sonha com romance: ele não deveria nos tirar da banalidade do nosso cotidiano produtivo?

No filme Notting Hill (Roger Michell, 1999), Julia Roberts, que interpreta uma atriz famosa, se apaixona por um modesto livreiro. É o clichê da comédia sentimental: a heroína apaixona-se por um estranho que conhece por acaso e cujo encanto a seduz apesar de tudo o que os separa. Segundo Ulrich Beck, o amor é “uma chave para escapar da jaula da normalidade”. O sociólogo alemão, autor de The Normal Chaos of Love (escrito com Elisabeth Beck-Gernsheim, Suhrkamp, 1990), compara-o à religião; ambos “quebram as cascas que recobrem o sentido do mundo”, “atacam realidades para revelar aspectos desconhecidos”. O amor, longe das convenções sociais, é um “comunismo mínimo”, diz o filósofo Alain Badiou. Ele se liberta de qualquer noção de interesse ou competição.

Você repetiria sua vida eternamente com alegria?

Por Dado Salem
Junho 2024

Breves contribuições de um historiador, um filósofo e um escritor para levar uma vida significativa, valorizando cada momento e fazendo escolhas que ressoem com o nosso eu profundo. 





Mircea Eliade nos ensina que nas sociedades tradicionais o tempo era visto como circular, pois tudo tendia a se repetir eternamente, as estações do ano, as fases da lua, o dia e a noite e os acontecimentos na vida humana. Essas culturas criavam rituais recorrentes que tinham o objetivo de renovar o mundo e oferecer oportunidades de regeneração para que as pessoas começassem um novo ciclo cheio de sentido e propósito.

O mito do eterno retorno foi utilizado por Friedrich Nietzsche como uma alegoria para examinarmos nossa vida e encontrar significado na nossa existência. Trata-se de um experimento mental que nos desafia a imaginar viver como se nossa vida se repetisse infinitamente. Nietzsche pergunta se aceitaríamos passar por tudo de novo, eternamente, se soubéssemos que teríamos de vivê-la em perpétua recorrência. Não se trata apenas de aceitar a vida, mas de afirmá-la de tal forma que viveríamos com alegria cada momento. Estamos vivendo vidas que estaríamos dispostos a repetir eternamente? 

Esta reflexão nos leva a fazer escolhas, valorizar as nossas experiências e assumir a responsabilidade pelas nossas ações. Encoraja-nos a viver de forma autêntica e apaixonada, buscando a realização no presente em vez de adiar a felicidade para um futuro distante.

Como se preparar para uma entrevista de emprego

Por Dado Salem
Junho 2024


É muito frequente eu ser procurado por profissionais para ajudá-los a se prepararem para entrevistas de emprego. Resumi num breve artigo alguns pontos importantes a serem observados bem como os aspectos principais que são avaliados pelos entrevistadores.






Preparar-se para uma entrevista é essencial para conseguir um emprego desejado. Envolve planejamento cuidadoso, pesquisa e alguma prática para garantir que você se apresente como um candidato adequado para a função. Um dos primeiros passos na preparação para uma entrevista é pesquisar a empresa. Compreender a missão, os valores, os produtos e os serviços que a empresa oferece, saber quem são os concorrentes, o posicionamento no mercado, bem como as notícias ou desenvolvimentos recentes relacionados com a empresa. Esse conhecimento permite que você oriente suas respostas e mostre um interesse genuíno pela organização.

Igualmente importante é uma compreensão completa da descrição da posição. Ao analisar os requisitos do trabalho, você pode combiná-los com suas habilidades e experiências. Identificar as principais responsabilidades e preparar exemplos que demonstrem as suas capacidades podem fazer uma diferença significativa. Praticar respostas a perguntas comuns em entrevistas é outro aspecto vital da preparação. Perguntas como “Conte-me sobre você”, “Por que você quer trabalhar aqui?” e “Quais são seus pontos fortes e fracos?” quase sempre são questionados.

A arte quase perdida de não fazer nada

Por Dado Salem
Junho 2024

Num mundo frenético, obcecado por produtividade e inteligências artificiais, o simples ato de não fazer nada pode nos ajudar a redescobrir a serenidade e a inspiração que emergem dos momentos de quietude, e se transformar numa verdadeira celebração da vida.





Dany Laferrière, escritor haitiano, membro da Academia Francesa de Letras, escreveu uma obra reflexiva e filosófica sobre a beleza e a importância de não fazer nada. Com um estilo perspicaz e poético, ele explora a ideia de que no nosso mundo acelerado e obcecado pela produtividade, o simples ato de não fazer nada é uma arte valiosa e quase perdida.

Ele defende a necessidade de reservar um tempo para descansar, observar e simplesmente ser, sem a pressão constante de ser produtivo. Essa abordagem nos permite viver o momento e saborear experiências em vez de correr constantemente para a próxima tarefa. Ele sugere que, ao desacelerar e abraçar momentos de inatividade, podemos nos reconectar com nós mesmos, com o mundo que nos rodeia, e a vida pode se tornar mais plena e significativa. 

O lazer, para Laferrière, não é apenas a ausência de trabalho, mas um aspecto fundamental da vida que estimula a criatividade, o bem-estar e o crescimento pessoal. O tempo de lazer proporciona espaço para autorreflexão, exploração intelectual e descanso emocional. Numa cultura que muitas vezes glorifica a ocupação, Laferrière defende a procura consciente de não fazer nada como forma de equilibrar as nossas vidas, essencial para manter a saúde física e mental.

Favela não é carência, favela é potência

Por Dado Salem
Fevereiro 2024




Nas últimas décadas, o termo "favela" tem sido frequentemente associado à pobreza, criminalidade e falta de infraestrutura básica. No entanto, esta visão simplista e estigmatizante não reflete a realidade complexa e multifacetada dessas comunidades.

Ao contrário do que muitos acreditam, as favelas são locais de grande potencial e resiliência. Essas áreas são habitadas por pessoas que, mesmo enfrentando desafios significativos, encontram maneiras criativas e inovadoras de sobreviver e prosperar.

Um dos aspectos mais impressionantes das favelas é a sua comunidade. Nestas áreas, as pessoas vivem em uma proximidade incomum, compartilhando espaços e experiências diárias. Essa proximidade cria uma forte rede de apoio, onde os moradores se ajudam mutuamente em tempos de necessidade. Essa solidariedade é uma prova da resiliência das favelas.

Além disso, as favelas são frequentemente centros de atividade econômica. Essas comunidades abrigam pequenos negócios e empreendimentos locais que oferecem produtos e serviços essenciais aos moradores. Esses negócios fornecem uma fonte de renda crucial para as famílias locais e ajudam a impulsionar a economia da área.

O que é Inteligência Coletiva e como fazê-la funcionar?

Por Dado Salem



Você já ouviu falar em Inteligência Coletiva? Inteligência Coletiva é a capacidade que um grupo numeroso de pessoas tem de tomar decisões melhores que um líder sozinho ou que um grupo de experts fariam. Isso ocorre porque indivíduos e grupos homogêneos, mesmo com alto QI, tenham viéses cognitivos difíceis de romper e que muitas vezes podem ser contraproducentes. Inteligência Coletiva significa que a colaboração, a diversidade e tomada de decisões descentralizadas tendem a gerar ideias inovadoras, resolver problemas complexos e impulsionar o progresso em empresas, organizações e na sociedade.

Para fazer a Inteligência Coletiva funcionar, vários elementos-chave entram em jogo. Em primeiro lugar, requer um grupo diverso de pessoas com uma variedade de formações, origens, perspectivas e conhecimentos. Essa diversidade de experiências garante um leque amplo de insights e ideias, fomentando uma Inteligência Coletiva mais poderosa.

O Centro da Zona Sul

Por Dado Salem
Setembro 2023



Neste sábado fiz um programa incrível com um grupo de empresários e suas famílias. Tinha até criança de colo. Participamos de uma experiência de um dia no Instituto Reação, projeto com quem venho colaborando.

Começamos no tatame com  uma aula de humildade: aprender a cair - orientadas por faixas pretas, crias da Rocinha e do Reação, que já caíram muito na vida. Essa atividade é instrutiva tanto pra quem está ficando velho, como eu, quanto para jovens que ainda vão levar um monte de rasteiras da vida. Percebi nesses mestres uma integridade de caráter como raramente se encontra por aí.

Pegamos então as vans e subimos até o topo do morro. Com um comércio atrás do outro e um sobe e desce constante de motos e vans, a Estrada da Gavea é mais ativa que a Avenida Rio Branco. Uma energia vibrante, empreendedora, colaborativa, amistosa, suja e caótica. Dessa efervescência vem a alegria e a criatividade que são a marca da alma brasileira. É o Brasil na veia. 

Comunicação não Violenta

Julho 2023 

Roxy Manning, psicóloga, imigrante afro-caribenha nos Estados Unidos, é uma grande mestra e uma das maiores especialistas em Comunicação Não Violenta na atualidade. Neste vídeo ela faz um resumo sobre a CNV, técnica que pode ajudar pessoas a lidarem com questões sensíveis tanto na esfera pessoal, quanto familiar, organizacional e coletiva.



A importância de um clima de trabalho saudável

Por Dado Salem
Maio 2023




O investimento em um ambiente saudável e motivador é uma estratégia fundamental para o sucesso a longo prazo de uma empresa. 


Relações Interpessoais

As relações entre as pessoas desempenham um papel crucial na construção de um clima de trabalho positivo. A cooperação entre colegas de trabalho é fundamental para promover a colaboração e a produtividade. Quando os membros da equipe se ajudam mutuamente e compartilham conhecimentos, é possível alcançar melhores resultados.

No artigo "Collective Intelligence and Group Performance", publicado por Woolley, Chabris, Pentland, Hashmi e Malone na revista Science em 2010, os pesquisadores analisaram como a inteligência coletiva afeta o desempenho do grupo em tarefas diversas, como resolução de problemas, tomada de decisões e planejamento estratégico. Eles descobriram que grupos nos quais os membros colaboram ativamente e compartilham conhecimentos têm um desempenho significativamente melhor do que grupos nos quais a colaboração é limitada. Além disso, a diversidade de conhecimentos e perspectivas entre os membros da equipe também foi identificada como um fator importante para aumentar a inteligência coletiva do grupo. Outra boa leitura sobre esse tema é "The Wisdom of Crowds" de James Surowiecki.

A Inteligência Artificial haqueou o sistema operacional da humanidade

Yuval Noah Harari argues that AI has hacked the operating system of human civilisation
Por Yuval Harari
The Economist
Abril 2023

Muitos artigos foram publicados sobre os impactos da Inteligência Artificial após o lançamento do Chat GPT, mas se você quiser ler apenas um, leia esse. 



Years of artificial intelligence (AI) have haunted humanity since the very beginning of the computer age. Hitherto these fears focused on machines using physical means to kill, enslave or replace people. But over the past couple of years new ai tools have emerged that threaten the survival of human civilisation from an unexpected direction. AI has gained some remarkable abilities to manipulate and generate language, whether with words, sounds or images. AI has thereby hacked the operating system of our civilisation.

Language is the stuff almost all human culture is made of. Human rights, for example, aren’t inscribed in our dna. Rather, they are cultural artefacts we created by telling stories and writing laws. Gods aren’t physical realities. Rather, they are cultural artefacts we created by inventing myths and writing scriptures.

Money, too, is a cultural artefact. Banknotes are just colourful pieces of paper, and at present more than 90% of money is not even banknotes—it is just digital information in computers. What gives money value is the stories that bankers, finance ministers and cryptocurrency gurus tell us about it. Sam Bankman-Fried, Elizabeth Holmes and Bernie Madoff were not particularly good at creating real value, but they were all extremely capable storytellers.

Inovação - necessidade, luz e sombra

Por Dado Salem
Abril 2023


É hora de termos um olhar mais equilibrado para o avanço tecnológico.





Ao longo da história, enfrentamos diversos desafios e obstáculos que nos obrigaram a inovar e adaptar para sobreviver. Desde a invenção da roda até o desenvolvimento da internet, a inovação foi impulsionada principalmente pela necessidade. O famoso provérbio, "A necessidade é a mãe da inovação" foi comprovado várias vezes.

Um dos exemplos mais conhecidos é o desenvolvimento da imprensa por Gutenberg no século XV. Na época, os livros eram manuscritos e, portanto, raros e caros. Gutenberg viu a necessidade de uma maneira mais rápida e eficiente de produzir livros e, assim, desenvolveu a imprensa. Essa inovação revolucionou o mundo editorial e tornou os livros mais acessíveis ao público em geral, levando a um aumento significativo nos índices de alfabetização e na disseminação do conhecimento.

Outro exemplo de necessidade impulsionando a inovação é o desenvolvimento da lâmpada por Thomas Edison no final do século XIX. Edison viu a necessidade de uma fonte confiável e duradoura de luz artificial, pois velas e lâmpadas a gás não eram apenas ineficientes, mas também perigosas. Ele passou anos experimentando diferentes materiais até encontrar um filamento adequado que pudesse produzir uma luz constante sem queimar rapidamente. A invenção da lâmpada elétrica não apenas revolucionou a maneira como vivemos, mas também abriu caminho para muitas outras inovações no campo da eletrônica.

Decisões de carreira em tempos voláteis e incertos

 Por Dado Salem

Abril 2023

O que vale mais a pena, seguir uma carreira que paga bem ou uma que esteja mais alinhada com seus valores e interesses? E o que fazer em tempos voláteis e incertos?



A Psicologia Econômica é um campo interdisciplinar que explora a interseção entre Economia e Psicologia e examina, por exemplo, o desenvolvimento de carreira, particularmente em termos de como tomamos decisões sobre nossas carreiras e como essas decisões afetam resultados econômicos e satisfação.

Um dos estudos mais recentes nesse campo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Wisconsin e publicado no Journal of Applied Psychology - "Making a Good Decision: The Relationship Between Decision Quality, Career Decision Self-Efficacy, and Postdecisional Affective States" por Amber N. Gaffney, Leigh Plunkett Tost, e Kristin D. Neff. O estudo examinou a relação entre a tomada de decisões de carreira e os resultados econômicos, observando especificamente os fatores que influenciam as decisões dos indivíduos de seguir carreiras em áreas com altos salários versus áreas que se alinham com seus interesses e valores pessoais.

O estudo descobriu que os indivíduos que priorizam seus interesses e valores pessoais ao tomar decisões de carreira tendem a ter maior satisfação no trabalho e maior sucesso na carreira a longo prazo. No entanto, aqueles que priorizam ganhar um salário alto no início de suas carreiras podem experimentar um aumento de ganhos de curto prazo, mas são mais propensos a se sentiram insatisfeitos com o trabalho ao longo do tempo.

Como se manter feliz e promover a transformação quando tudo à nossa volta parece que vai mal?

Motivos não faltam para um pessimista afirmar sua convicção. Guerra nas bordas da Europa com ameaça de armas nucleares, secas e dilúvios cada vez mais perto, intensos e constantes, IPCC dizendo que perdemos a oportunidade de evitar a catástrofe climática, bancos suíços e americanos quebrando, novas tecnologias ameaçando empregos e concentrando cada vez mais a renda, sensação generalizada de estar desatualizado e ficando para trás, governos que não tem capacidade de solucionar os problemas atuais, índice de suicídio crescendo... parece que estamos entrando num período de trevas. Mas será que vale a pena pensar dessa forma? 

O jornalista Charlie Brinkhurst-Cuff entrevistou um psiquiatra especializado em suicídios, uma médica de um hospital para crianças com doenças terminais, uma educadora e ativista ambiental em Uganda, país onde as mudanças climáticas mais mostraram seus efeitos até agora, entre outras. Essas pessoas contam como se mantem felizes e quanto ter uma perspectiva positiva melhora a própria vida e os resultados de seus trabalhos.




Do You Have to Be an Optimist to Work Toward a Better World?
By Charlie Brinkhurst-Cuff
NYTimes
Fevereiro 2023


“I’m afraid that the world is entering a dark age,” said Dr. Igor Galynker, a psychiatrist who specializes in suicide research and intervention. But, he added: “On an individual level, helping people deal with this, and finding ways to live with this or fight this? I’m very optimistic.”

Dr. Galynker’s outlook expresses the paradox for professionals working on the front lines of different crises — whether it’s suicide prevention, climate science, hospice care for children or even imagining a dystopian future in literature — that demand you contend with the worst possible outcomes.

If you are working to make the world better, do you have to be an optimist? Or does pessimism better equip you to address the challenges the future presents?

Ser Anti-ESG pode custar caro.

Se você fosse um fabricante de velas quando inventaram a luz elétrica, sairia para tentar quebrar as lâmpadas ou procuraria fazer seu negócio evoluir? Pois é o que alguns empresários estão apostando. Ir contra o ESG a partir de agora é como sair quebrando lâmpadas. Esse artigo da The Economist ilumina a questão e alerta: essa aposta pode custar caro.







The anti-ESG industry is taking investors for a ride - Making a stand comes at a considerable price
The Economist
Março 2023


Until recently, there were two iron laws in investing. One, popularised by Milton Friedman, a Nobel-prizewinning economist, posited that a company’s responsibility above all else was to provide returns to its shareholders. The second, promoted by Jack Bogle, founder of Vanguard, an investment firm, held that asset-management fees must be driven to the lowest level possible.

Quase 30% da força de trabalho norteamericana pediu demissão em 2022

Por World Economic Forum
Janeiro 2023

A força de trabalho norteamericana soma 163,5 milhões de pessoas, dessas, 47 milhões pediram demissão no ano passado. O motivo dessa onda mostra que uma mudança cultural está em curso.





If you’ve quit your job in the last year or two, then you’re part of what’s become known as the Great Resignation.

It’s the term coined in 2021 to describe the record number of people in some advanced economies who have left their jobs since the onset of the COVID-19 pandemic.

And this mass shake-up of the workforce is continuing, according to the latest data from the US Bureau of Labor Statistics (BLS). Around 4 million Americans quit their jobs in October 2022, which is 2.6% of the workforce, it says. This is similar to recent months, after hitting a record 4.5 million workers in November 2021.

The hospitality and leisure industry had the highest number of people leaving their jobs among the major industries in October 2022, at 5.5%, the BLS says. The quit rate in the transportation, warehousing and utilities industry was 2.8%, and in the construction industry it rose to 2.4% from 2% a month earlier.

Bem-vinda nova geração

por Dado Salem
Janeiro 2023


No mundo da tecnologia se diz que as mudanças vem primeiro com os inovadores e visionários, em seguida os pragmáticos percebem e se adaptam, depois, sempre um pouco atrasados, estão os conservadores e por último, nadando contra a correnteza, os céticos. Uma grande transição de poder está acontecendo agora. Após a leitura desse breve artigo me diga, em qual dessas posições você se vê?  




Grandes eventos tem o poder de moldar gerações. A Pandemia foi para os jovens o que as duas grandes guerras do século XX e bomba atômica significaram para nossos avós e bisavós. Foi o que a crise do petróleo, a queda das torres gêmeas e a crise de 2008 representaram para a nós e nossos pais. A parada e o “restart” da economia decorrente da Covid-19 teve esse nível de impacto para a Geração Z (nascida entre 1995 e 2010). Ficou claro para eles como é viver num mundo calmo e sem poluição. Foi possível ver o céu azul em Beijing, o ar de Londres ficou limpo, foram vistos 33% mais esquilos, 66% mais abelhas, 97% mais borboletas e segundo geólogos, a terra tremeu menos (1). Deu para perceber, mensurar e questionar o impacto do nosso estilo de vida no planeta. 

Como fazer uma mudança de carreira?

Por Dado Salem
Dezembro 2022



Até o início dos anos 1990 quem mudava de carreira, ou mesmo de empresa, era visto como uma pessoa problemática, desajustada. Depois da revolução da Internet e da Sociedade em Rede, dos trabalhos flexíveis e globalizados, as mudanças de carreira são cada vez mais comuns. Quem não muda ao menos de empresa algumas vezes, é considerado(a) engessado(a), cabeça dura, sem capacidade de adaptação às mudanças, etc. Se você está pensando em fazer uma transição de carreira, que é uma coisa mais complexa, aqui vão algumas dicas.

Toda mudança começa com um fim, com a saída de uma situação conhecida, por isso tendemos a ficar com medo, perdidos, com sentimento de vazio... mas depois uma coisa nova inicia.

A primeira coisa a fazer é identificar suas habilidades e interesses. Quais são seus talentos e o que você gosta de fazer? O que você mais valoriza no seu trabalho e o que o(a) motiva? Existem setores ou atividades que se alinham com suas habilidades e paixões?

Depois de ter uma ideia geral do tipo de trabalho que você gostaria de fazer, a próxima etapa é começar a aprender mais sobre ele ou sobre o setor específico em que está interessado(a). Você pode conversar com pessoas que trabalham na área, perguntar como é o dia a dia delas, o que há de bom e de ruim, pedir conselhos sobre o caminho a seguir, os conhecimentos e pré requisitos como formação ou experiência. Outra maneira é fazer uma pesquisa online, isso pode dar uma visão geral dessa carreira. Os anúncios de empregos, por exemplo, mostram o que os empregadores procuram nos candidatos. Isso pode ajudar a entender as habilidades, qualificações e experiências específicas que normalmente são necessárias para esse trabalho.

Como encontrar um trabalho que você ama?

Dezembro 2022
Por Chat-GPT (com pequenos ajustes)




Encontrar um trabalho que você ama é uma jornada desafiadora e pessoal. Aqui vão alguns passos que você pode seguir e irão ajudá-lo(a) a encontrar sua paixão e o trabalho dos seus sonhos:

1. Reflita sobre seus interesses, valores e pontos fortes: reserve um tempo para pensar sobre o que você gosta, o que é importante para você e que você faz bem. Considere as atividades que gosta fora do trabalho e quaisquer hobbies ou interesses que tenha.

2. Pesquise diferentes carreiras: Depois de ter uma ideia melhor de seus interesses e pontos fortes, comece a explorar diferentes carreiras que se alinhem com eles. Procure carreiras que permitam que você use seus pontos fortes e que estejam alinhadas com seus interesses e valores.

Billionaire no More

por David Gelles 
NYTimes
Setembro 2022

Visionário fundador da Patagônia, ao invés de abrir o capital ou vender sua empresa, doou suas ações para um Trust e uma ONG com objetivo de reverter 100% do lucro para preservação do meio ambiente.

                        




A half century after founding the outdoor apparel maker Patagonia, Yvon Chouinard, the eccentric rock climber who became a reluctant billionaire with his unconventional spin on capitalism, has given the company away.

Rather than selling the company or taking it public, Mr. Chouinard, his wife and two adult children have transferred their ownership of Patagonia, valued at about $3 billion, to a specially designed trust and a nonprofit organization. They were created to preserve the company’s independence and ensure that all of its profits — some $100 million a year — are used to combat climate change and protect undeveloped land around the globe.

Profissionais rejeitam ofertas de emprego que sinalizam excesso de trabalho

‘Work Hard, Play Hard’ and More Phrases That Can Scare Away Job Applicants
por Ray A. Smith
The Wall Street Journal
Setembro 2022

À medida que o movimento da "demissão silenciosa" cresce, mais profissionais estão rejeitando ofertas de emprego que sinalizam um desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal.


When Becky Phillips, a pharmaceutical industry scientist, has looked for work, one phrase in job ads has turned her away from applying to otherwise promising-sounding opportunities: “fast-paced environment.”

“Usually fast-paced sounds like that would be fun, like you’re going to make lots of progress on projects,” Ms. Phillips, 34 years old, said. “But, I think in practice, it just means that there’s no work-life balance.”

O que é 'demissão silenciosa' e por que ela pode ser benéfica para trabalhadores e empresas

por Nilufar Ahmed
BBC Brasil
Agosto 2022



Em muitos países do mundo, tem havido um debate sobre um fenômeno chamado de "a grande demissão".

O Reino Unido registrou um aumento acentuado no número de pessoas que deixaram seus empregos em 2021, e um quinto dos trabalhadores do país ainda diz que planeja pedir demissão no próximo ano em busca de uma maior satisfação profissional e melhores salários.

Se você está infeliz no trabalho, mas deixar seu emprego não é uma opção ou não há alternativas atraentes, você pode tentar a "demissão silenciosa".

Esta tendência de simplesmente fazer o mínimo que é esperado da sua função no trabalho ganhou força no TikTok e claramente repercutiu entre os jovens. Também frustrou gestores, e alguns parecem estar preocupados com a acomodação dos funcionários.

Construindo as Empresas do Futuro - Comunicação e Gestão do Diálogo Colaborativo

Por Dado Salem
Agosto 2022


Estamos vivendo uma grande revolução. Vemos um sistema em declínio e outro emergindo. Nessa palestra no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), em julho de 2022, apresentei um apanhado histórico mostrando as principais revoluções que a humanidade passou e a que estamos vivenciando hoje. Com esse rápido exercício, relembramos de onde viemos, em que ponto estamos e percebemos com mais clareza para onde estamos indo. Apresento um quadro com os principais valores do Sociedade Industrial e da Sociedade em Rede. Isso pode trazer mais clareza para empreendedores de startups e para aqueles que administram empresas criadas com a cultura que está em declínio (e não querem ficar para trás), como deveriam estruturar suas organizações. Concluo demonstrando quanto a Comunicação e as habilidades de diálogo são fundamentais daqui em diante. 



                Cibernética, Macy Conferences, NY 1946 a 1953

Gostaria de agradecer ao IPT e ao IEL (Instituto Euvaldo Lodi) pelo convite. Estou aqui com meu querido amigo e parceiro Celso Alvim (Maestro do Monobloco) que vai conduzir depois da minha apresentação um exercício de comunicação. Eu vou sentir que atingi meu objetivo se no final da minha apresentação e do exercício junto com o Celso, vocês tiverem certeza de que a Comunicação é a coisa mais importante que vamos precisar aprender e desenvolver neste momento e daqui para frente. É a Comunicação que vai mandar e a minha palestra vai justamente mostrar por que isso está acontecendo. 

Eu nomeei essa apresentação Construindo as Empresas do Futuro, porque inovação é tudo o que estamos conversando aqui, e no subtítulo Comunicação e Gestão do Diálogo Colaborativo, vocês vêem que as palavras Comunicação e Diálogo se repetem justamente para reforçar importância disso. Vou apresentar a vocês um Contexto, mostrar um pouco do meu entendimento sobre o que está acontecendo hoje, mas contando uma história, lá de trás, até o aumento atual. 

 

O presidente do Google falou em 2021 (matéria do The Times) que a inteligência artificial vai ter um impacto maior do que o fogo para a humanidade. Isso mostra que estamos vivendo uma grande revolução, porque sabemos a importância que o fogo teve para nós. Se uma pessoa dessa importância está falando isso, acho bom prestarmos atenção.

 

Muitos dizem que estamos vivendo a quarta Revolução Industrial. Eu acho que essa denominação não é a mais apropriada perante o tamanho da transformação que estamos passando. Eu vou explicar por quê. 

Psicologia Econômica e os Family Offices

por Dado Salem
Setembro 2018

Como lidar com a irracionalidade e aflições de clientes com ampla liquidez? O imaginário coletivo considera que o dinheiro é a solução dos nossos problemas. A experiência mostra que não é bem assim.


 


“Fui dono do meu próprio negócio por tanto tempo que, quando o vendi, foi desconcertante perceber que agora eu tinha que descobrir quem eu era. Nos meses seguintes à venda, comecei a refletir sobre o que eu queria fazer do meu futuro”. Depoimento de um ex-empresário.

Empresarios geralmente constroem a vida em torno de seus negócios, e por esse motivo costumam ficar desorientados quando vendem suas empresas. Um pedaço deles vai embora, justamente aquele que consumia boa parte de sua energia psíquica. Investimento, esforço, alegrias, aflições, vitórias e derrotas, histórias, pessoas… uma empresa é um aglomerado de emoções e a identidade do empreendedor está profundamente relacionada a ela.

Travessia para a vida adulta

Por Dado Salem
Abril 2022

Tornar-se adulto é um evento traumático e os pais tem um papel importante nesse processo.




Há coisas que são tão comuns a todos nós que podemos dizer que são universais. Uma delas é o desejo de viajar. Mais que o simples deslocamento físico, uma viagem representa a vontade do novo. De novas experiências, novos ares, novos horizontes, novos conhecimentos, novos desafios… e que no final conduzem à transformação, porque se fizermos uma verdadeira viagem, longa o suficiente, retornamos diferentes do que partimos. 

O texto mais antigo que se tem notícia, a Epopéia de Gilgamesh, apresenta justamente uma viagem. A do herói em busca da vida eterna, na Terra dos Vivos. Para chegar lá ele atravessa montanhas, florestas, mares, jardins e rios. Outro texto clássico cujo tema é a viagem é a Odisséia de Homero, que conta a longa e tumultuada jornada de Odisseu de volta para casa no final da Guerra de Tróia. Neste mesmo texto há também a viagem de seu filho Telêmaco em busca do pai, orientado por ninguém menos que Mentor, que veio dar nome à atividade de aconselhamento e no qual incorporou a deusa da sabedoria, Atená. Mentor (Atená) diz a Telêmaco que é a hora de deixar de ser criança e se tornar um homem. A viagem de Telêmaco representa, portanto, a passagem para a vida adulta.

A passagem para a vida adulta é um dos maiores desafios que enfrentamos. Na infância vivemos num mundo mágico em que as coisas são resolvidas para nós. No processo de nos tornarmos adultos, no qual precisamos prover nosso próprio sustento, arcar com as consequências de nossos atos, nos responsabilizarmos pela nossa vida, somos expulsos de uma zona de conforto. 

Tornar-se adulto é um evento traumático. Na natureza, a mãe pássaro empurra os filhotes para fora do ninho para que eles voem. Em sociedades tribais, os jovens passam por rituais em que muitas vezes têm que aguentar um sofrimento. Os Karajá, numa primeira iniciação, perfuram o lábio inferior dos jovens com a clavícula de um macaco. No Hetohoky, o maior ritual dos povos indígenas do Tocantins, as crianças são afastadas do convívio social e fazem uma viagem pela floresta onde adquirem aprendizados, para então retornarem adultas.

Inteligência e Sabedoria

por Dado Salem
março 2022


Sabedoria não é acúmulo de conhecimento nem pode ser mensurada num teste de QI. Inteligência é um dom que se recebe ao nascer. Sabedoria não. É algo que se desenvolve por meio de um longo estudo, exige tempo e demoradas reflexões que o tumulto e a polifonia da sociedade dificultam.



Dizem que estamos ficando mais inteligentes. Em países industrializados o QI médio da população subiu 3 pontos por década e aumentou incríveis 30 pontos no século XX(1) . Isso quer dizer que uma pessoa normal hoje seria considerada superdotada no início do século passado. E o que ganhamos coletivamente com esse avanço? Mercados transbordando de comida, água limpa encanada, pílulas que curam doenças, transportes rápidos e seguros, acesso a qualquer informação instantaneamente, uma abundância de bens materiais, maior longevidade etc. 

Ao longo do tempo nossa sociedade veio se estruturando em função da métrica da inteligência. O QI é um dos fatores que determinam onde as pessoas vão se formar, trabalhar e consequentemente, seu estilo de vida. Bill Gates foi claro numa entrevista: "o ponto chave para nós, em primeiro lugar, sempre foi contratar pessoas muito inteligentes"(2) . Adam Grant, psicólogo organizacional da Universidade de Wharton, revelou que os processos seletivos da maioria das grandes empresas são testes de QI disfarçados(3). O Google, por exemplo, não mede explicitamente as habilidades cognitivas de seus candidatos, mas quando pede para que eles resolvam oralmente os problemas propostos por um entrevistador, estão fazendo isso indiretamente. 

Mas apesar de todo esse progresso cognitivo e material, vivemos uma desigualdade crescente, uma epidemia de ansiedade e depressão, provocamos mudanças ambientais brutais que impactarão nossas vidas e principalmente as de nossos filhos e netos. Produzimos uma quantidade absurda de lixo, poluímos a terra, o ar, rios e mares, criamos armas nucleares potentes suficiente para destruir o planeta e temos líderes não só incapazes de mudar essa realidade como muitas vezes que contribuem para piorar as coisas.

Conhecimento e inteligência podem ser utilizados para o bem ou para o mal, de forma criativa ou destrutiva, e o aspecto negativo ocorre especialmente quando o foco é centrado em interesses particulares, sem observar aquilo que nos cerca, o contexto mais amplo. 

A ciência avança progressivamente por meio de um método que organiza e acumula o conhecimento ao longo do tempo de maneira que o saber atual é sempre superior ao de antigamente. O mesmo não pode ser afirmado com relação à sabedoria. Apesar de toda a ciência, não podemos dizer que somos mais sábios que pessoas que viveram há milhares de anos. Ou seja, ganhamos inteligência, conhecimento e tecnologia, mas não sabedoria.   

Sabedoria não é acúmulo de conhecimento nem pode ser mensurada num teste de QI. Inteligência é um dom que se recebe ao nascer. Sabedoria não. É algo que se desenvolve por meio de um longo estudo, exige demoradas reflexões que o tumulto e a polifonia da sociedade dificultam. Em geral estamos tão atolados com o dia a dia que não sobra tempo para cultivá-la. A sabedoria deveria ser praticada desde cedo porque alguns erros que poderiam ser evitados custam caro. E de que vale aprender no final da vida como poderíamos ter vivido? 

Sinais de mudança

Futuristas costumam dizer que os sinais do futuro já estão aí. Um pequeno grupo de pessoas começa a pensar e agir de uma determinada maneira. Aos poucos, se esse movimento cria força suficiente, depois de um tempo o novo comportamento é adotado coletivamente. 

Um desses sinais pode ser percebido na Tokyo Nutrition for Growth Summit em dezembro de 2021. Neste evento, investidores como UBS e PIMCO, que administram juntas US$ 12,4 trilhões em ativos, pediram a governos e empresas que acelerem as mudanças para promover alimentos e bebidas mais saudáveis. Os investidores reivindicaram aos formuladores de políticas que usem medidas fiscais e regulatórias e que as empresas de alimentos e bebidas se comprometam a relatar anualmente as vendas geradas por produtos saudáveis. Os investidores então usariam essas informações para orientar suas decisões de investimento. Se a moda pega, e as empresas não se ajustarem, o preço da má nutrição pode vir a recair sobre aquelas que produzem alimentos nocivos à saúde. (leia a matéria abaixo)




Investors push food & drink companies, govts over 'nutrition crisis'
por Simon Jessop
Reuters
Dezembro, 2021


LONDON, Dec 7 (Reuters) - Investors managing $12.4 trillion in assets on Tuesday called for governments and companies to accelerate the shift to promoting healthier food and drink to help fix what they described as a "global nutrition crisis".

Poor-quality diets are a leading cause of death and disease and carry individual, societal and economic costs that impact the value of their holdings, 53 investors said in a pledge at the Tokyo Nutrition for Growth Summit 2021.

The investors, including PIMCO and UBS Asset Management, urged policymakers to use fiscal and regulatory measures to help support healthy packaged food and do more to meet the nutrition targets laid out by the World Health Organisation.

Chile reescreve sua constituição de olho nas mudanças climáticas

Chile Rewrites Its Constitution, Confronting Climate Change Head On

Por Somini Sengupta

NY Times

Dezembro 2021



Depois de eleger um presidente de 35 anos de idade, o Chile se prepara para reescrever sua constituição. Desta vez de olho nos impactos ambientais das mineradoras, a base da sua economia. O Chile é o segundo maior produtor de lítio, utilizado nas baterias de celulares e automóveis elétricos. No entanto, a extração desse minério causa grande impacto no ecossistema do deserto do Atacama. Como a mineração deve ser regulamentada e que voz as comunidades locais devem ter sobre a mineração? A natureza deve ter direitos? E quanto às gerações futuras? Essas são as questões sistêmicas que enfrentaremos daqui em diante. Sua empresa está preparada para o futuro que se apresenta?





Caráter é destino?

O caráter, modo se ser e agir de uma pessoa, é um assunto de grandes discussões e foi tema de reflexão do escritor Salman Rushdie ao falar sobre a construção de seus personagens.




Talvez toda a arte do romance seja baseada em algo dito pelo filósofo grego Heráclito há milênios: "o caráter do homem é o seu destino". Caráter é destino. Ele afirmou que o tipo de pessoa que você é determina o tipo de vida que você terá. Toda a arte do romance vem dessa ideia. 

Mas o que acontece quando seu caráter não é seu destino? O que acontece quando uma bomba é o seu destino? Quando o colapso econômico é o seu destino? O que acontece quando o tipo de pessoa que você é não determina a vida que você tem? Quando essas coisas aleatórias, que são exteriores à sua vida, entram para determinar e definir sua vida? Esta é uma questão, eu acho que muitos escritores agora refletem a respeito e sentem a necessidade de encontrar respostas. 

Eu quero dizer para mim mesmo quando eu escrevi meu romance Shalimar o Palhaço, estava lidando em parte ou grande parte com o fenômeno da ascensão do radicalismo islâmico. O romance se passa na Caxemira, onde o conflito entre o Estado Indiano e a Jihad se tornou extremo, por razões pelas quais se poderia em grande parte culpar o Estado Indiano. Mas eu queria entender, o que faz um jovem pegar uma arma ou uma bomba? O que torna um jovem perfeitamente normal, se transformar num assassino?

Milionários do tempo. Um novo jeito de trabalhar

Time millionaires: meet the people pursuing the pleasure of leisure
por Sirin Kale
The Guardian
Outubro/21

A Pandemia nos fez mudar hábitos e refletir sobre nossas prioridades. Algumas pessoas estão preferindo levar uma vida mais simples e gratificante. "Milionários do Tempo" são pessoas desse tipo. As mudanças coletivas começam assim, um pequeno grupo começa a fazer uma coisa diferente da maioria, aos poucos outros adeptos vão se somando. Se o grupo cresce a um determinado ponto, o novo estilo de vida se torna padrão e o outro, ultrapassado. Esse pode ser o início de uma mudança cultural de longo prazo. Adotei esse estilo de vida há uns 20 anos e garanto que vale a pena.





In every job he has ever had, Gavin has shirked. When he worked in a call centre, he would mute the phone, rather than answer it. When he worked in a pub, he would sneak out of the building and go to another pub nearby, for a pint. His best-ever job was as a civil servant. He would take an hour for breakfast, and two for lunch. No one ever said anything. All his colleagues were at it, too.

When the pandemic began, Gavin, now working as a software engineer, realised, to his inexhaustible joy, that he could get away with doing less work than he had ever dreamed of, from the comfort of his home. He would start at 8.30am and clock off about 11am. To stop his laptop from going into sleep mode – lest his employers check it for activity – Gavin played a 10-hour YouTube video of a black screen.

One might reasonably describe Gavin (not his real name) as a deadbeat. In economic terms, he is a unit of negative output. In moral terms, he is to be despised; there are antonyms for the word “grafter”, and none of them are good. In religious terms – well, few gods would smile on such indolence. But that is not how Gavin views things. “I work to pay my bills and keep a roof over my head,” he says. “I don’t see any value or purpose in work. Zero. None whatsoever.”

Gavin’s job is an unfortunate expediency that facilitates his enjoyment of the one thing that does matter to him in life: his time. “Life is short,” Gavin tells me. “I want to enjoy the time I have. We are not here for a long time. We are here for a good time.” And for now, Gavin is living the good life. He’s a time millionaire. “I am delighted,” Gavin tells me. “I could not be happier.” He is practically singing.

And his boss? “My boss is happy with the work I’m doing,” he says. “Or more accurately, the work he thinks I’m doing.”

Por que cada vez há menos pessoas dispostas a ceder aos excessos da vida profissional

por María Sanchéz Sanchéz
El País
Novembro 2021






Embora ainda seja cedo para abordar de forma categórica o rombo que a pandemia nos deixou, há algumas transformações que parecem estar ganhando forma. Elas têm a ver com o trabalho, com a reinvenção da maneira como nos organizamos e com uma constatação feita por milhões de pessoas: que outra vida profissional —mais generosa com nossa saúde física e mental— é possível.

“Vi que outra forma de trabalhar é possível e já não quero voltar a como era antes”, diz Lourdes Díaz, funcionária de uma empresa de tecnologia. “Cheguei a fazer jornadas de 10 e 11 horas no escritório, mas já não estou disposta a viver pelo —e para— o trabalho. Além disso, no meu caso, a necessidade de trabalhar de forma remota mostrou que posso realizar as tarefas e conjugar muito melhor essas obrigações com o âmbito pessoal. Agora tenho mais tempo para mim, desfruto e noto que não estou tão estressada com tudo.”

No entanto, esse burburinho nas conversas com amigos e colegas de trabalho ocorre paralelamente à percepção de muitas empresas, que defendem um “retorno à normalidade”. Um enfoque convencional que deixa trabalhadores frustrados e deprimidos pela insistência na modalidade presencial ou, no caso dos mais privilegiados, reflete-se num êxodo rumo a firmas que oferecem maior flexibilidade. Recentemente, por exemplo, as ofertas em que aparece a palavra “teletrabalho” aumentaram 214% na Espanha.

Como atravessar um deserto

Por Dado Salem
Setembro 2021

                 
                                   Pastoras da aldeia de Al Tarfa, Egito. National Geographic
                                


Parece que não há mais dúvidas de que as coisas devem piorar muito antes de começarem a melhorar. As notícias que chegam é que as mudanças climáticas são irreversíveis e a catástrofe, inevitável. 

Elizabeth Kolbert, jornalista da revista The New Yorker e vencedora do prêmio Pulitzer pelo livro A Sexta Extinção, relata que o mundo passou por cinco extinções em massa, sendo a mais famosa a que aconteceu há 65 milhões de anos quando um asteroide colidiu com o planeta e eliminou os dinossauros, entre uma série de outros animais. Atualmente, os cientistas vêm monitorando uma sexta extinção, que pode ser a mais devastadora da história, só que dessa vez a causa é o nosso estilo de vida insustentável.

O grande desafio é que mesmo se parássemos com 100% das emissões de gases de efeito estufa e passássemos a plantar florestas de forma eficiente e sistemática, os resultados práticos não apareceriam antes de algumas décadas. Esse delay entre ação e a reação do ecossistema, favorece os argumentos de políticos populistas e negacionistas fervorosos, como “provas” de que essas atitudes não trazem benefício algum, o que tenderia a fazer com que continuemos a cavar o abismo onde estamos caindo. O mais assustador é que a maioria de nós vivenciará esse colapso, porque ele já começou.

Esses dias acordei pensando nisso e num exercício de futurismo, imaginei como é viver a situação dolorosa de uma catástrofe. Apesar de não substituir a experiência, saber o que as pessoas fazem para sair dessas situações é no mínimo instrutivo. Lembrei dos Krenak, povo que continua vivendo na margem esquerda do Rio Doce, anos depois da tragédia do rompimento da barragem da Vale e não aceita sair daquele lugar. 

Ailton Krenak, possivelmente um dos mais conscientes líderes brasileiros, associa o desastre a um deserto: “Estamos dentro do desastre, ninguém precisa vir tirar a gente daqui, vamos atravessar o deserto, temos que atravessar. Ou toda vez que você vê um deserto você sai correndo? Quando aparecer um deserto, o atravesse”, diz.

A era em que podíamos cultuar o supérfluo está terminando

por José Eduardo Agualusa
O Globo
Setembro 2021

Precisamos retornar ao essencial



Durante a guerra civil em Angola, nas cidades mais atingidas pelos confrontos, conheci pessoas que dormiam com os sapatos calçados e uma pequena mochila a servir de travesseiro. Guardavam na mochila tudo o que para elas era essencial, caso tivessem de fugir de repente.

Se alguma coisa nos ensinam estes dias estranhos, perigosos e voláteis, é que chegou o momento de colocar numa mochila aquilo que considerarmos essencial. Não porque precisemos fugir — na verdade, não temos para onde fugir —, mas porque a era em que podíamos cultuar o supérfluo, o ruído e o desperdício, está terminando. Precisamos retornar ao essencial.

Mas o que é essencial? Para uns pode ser uma garrafa de bom vinho do Porto, para outros um livro, as fotografias da infância, um console de videogame, uns tênis de marca, ou um anel de prata. O essencial de uns é o supérfluo de outros.

Volto ao brevíssimo período em que fiz reportagem de guerra em Angola. Certa manhã, vi um velho camponês carregando um colchão à cabeça. Lembro-me de ter comentado, em tom de troça, com outro jornalista: “Eis alguém que valoriza a preguiça”. Voltei a ver o velho ao entardecer, carregando a mulher no colchão. Envergonhado, atormentado pelos remorsos, fui falar com ele. “Só o colchão me pesa”, disse-me o homem com um sorriso tímido. Pesava-lhe mais quando não a carregava. A mulher tirava peso do colchão. É que o amor não pesa — liberta-nos do peso das coisas.

Os 4 estágios daqueles que acham que o futuro será uma reprodução do presente

No primeiro estágio dizemos que nada vai acontecer. No segundo estágio dizemos que algo pode acontecer, mas não devemos fazer nada a respeito. No estágio três dizemos que deveríamos fazer algo a respeito, mas não há nada que podemos fazer. No estágio quatro dizemos que deveríamos ter feito algo, mas é tarde demais.

Sobre a boa vida

por Dado Salem
Setembro 2021



O que é uma vida boa? Como usar bem o tempo que tenho para viver? Quais são as coisas que preciso buscar porque são fundamentais e quais outras são secundárias ou até mesmo desnecessárias? Este questionamento existe desde os primórdios da filosofia numa discussão que frequentemente girou em torno dos conceitos de Eudaimônia e Hedonia

Na Hedonia, a felicidade e o bem-estar são obtidos por meio dos prazeres, por desfrutar as coisas boas da vida e procurar evitar a dor, os desconfortos e sofrimentos. Segundo essa visão, somos movidos pela busca de objetos de desejo, alguns naturais e necessários como casa, comida, roupas, proteção, afeto… e outros desnecessários, como luxos de todos os tipos, riqueza, glamour, cargos, poder, honras, etc.

Eudaimônia, frequentemente traduzida como felicidade, seria mais corretamente definida como florescer, pois, significa literalmente o desenvolvimento pleno do daimon, o espírito que nos habita. Equivalente ao design, que contêm um projeto, um esquema em mente, um desígnio, um propósito. Eudaimônia é cumprir seu papel no mundo, o que requer um profundo autoconhecimento. Neste caso, embora as experiências de prazer sejam fortemente positivas, não seriam um objetivo a ser buscado, mas sim um subproduto da expressão dos nossos potenciais, do melhor que existe em nós colocado a serviço da sociedade.

Com vinte e poucos anos, um tempo depois de ter saído da casa dos meus pais, comecei a me questionar que vida deveria levar. Aos poucos fui percebendo que algumas coisas que considerava importantes como, morar num bairro nobre, viajar nas férias para lugares paradisíacos, jantar em bons restaurantes, ter uma família perfeita como num comercial de margarina, trocar de carro a cada 2 ou 3 anos, ter um plano de saúde com acesso aos melhores hospitais, ou seja, viver um padrão de vida elevado, e ainda, ter distinção na sociedade, ser admirado, ter sucesso… eram na verdade parte de um modelo que eu havia aprendido a valorizar. Aprendi isso com a minha família, com meus amigos e amigas, com a nossa cultura, com a publicidade... 

Esse sistema de valores culturais, essencialmente hedonistas, na maior parte das vezes costuma dirigir nossos desejos, influenciar nossos pensamentos e definir nossas escolhas. É difícil ficar fora ou ir contra essas regras sociais explícitas ou implícitas. Aquele que transgride, que se desvia, que sai do padrão, que não segue o pensamento convencional, tende a se sentir um estrangeiro na sua própria casa e muitas vezes é criticado e atacado. Não foi diferente comigo.

Só se vive uma vez

Welcome to the YOLO Economy
por Kevin Roose
NY Times
publicado em abril, 2021


Esgotados e com dinheiro no bolso, alguns profissionais estão deixando empregos estáveis ​​em busca de aventuras pós-pandêmicas, ou pensando em largar o trabalho caso seus chefes não os permitam trabalhar quando e de onde quiserem.





Something strange is happening to the exhausted, type-A millennial workers of America. After a year spent hunched over their MacBooks, enduring back-to-back Zooms in between sourdough loaves and Peloton rides, they are flipping the carefully arranged chessboards of their lives and deciding to risk it all.

Some are abandoning cushy and stable jobs to start a new business, turn a side hustle into a full-time gig or finally work on that screenplay. Others are scoffing at their bosses’ return-to-office mandates and threatening to quit unless they’re allowed to work wherever and whenever they want.

They are emboldened by rising vaccination rates and a recovering job market. Their bank accounts, fattened by a year of stay-at-home savings and soaring asset prices, have increased their risk appetites. And while some of them are just changing jobs, others are stepping off the career treadmill altogether.

If this movement has a rallying cry, it’s “YOLO” — “you only live once,” an acronym popularized by the rapper Drake a decade ago and deployed by cheerful risk-takers ever since. The term is a meme among stock traders on Reddit, who use it when making irresponsible bets that sometimes pay off anyway. (This year’s GameStop trade was the archetypal YOLO.) More broadly, it has come to characterize the attitude that has captured a certain type of bored office worker in recent months.

Pandemia provoca revolução doméstica e cria hábitos que vieram para ficar

por Carolina Giovanelli
O Globo
Agosto 2021



Lá para o final de março do ano passado, boa parte do Brasil se viu recluso em casa por causa de um vírus recém-chegado ao país. Para quem estava acostumado a uma vida agitada, com deslocamentos rotineiros, a quebra de rotina — carregada pelo medo da pandemia — causou um choque. Aqueles que puderam se beneficiar do isolamento enfrentaram questões que partiram do tédio (já arrumei todos os meus armários, e agora?), passando pela solidão (tenho saudades dos meus amigos, e agora?) até chegar às dúvidas existenciais (acho que estou com depressão, e agora?). Depois de muitos divórcios, videochamadas, novos hobbies, sessões de terapia e uma crise sanitária que dura muito mais do que o esperado, as coisas foram se assentando. O que era compulsório ganhou tons voluntários. Parte da turma que torcia o nariz para um modo de vida mais caseiro acabou se acostumando: redescobriu o valor do lar e pretende seguir na toada doméstica.

A casa virou um palco onde os conflitos aparecem com mais frequência, pois não foi possível adiar as soluções de algumas questões internas, analisa o terapeuta Arnaldo Cheixas.

No começo fiquei meio doida, o dia todo em casa, lidar com a família, mas agora estou mais tranquila — diz a artista visual Gabrieli Gama.

Ela deixou a criatividade aflorar. Começou a fazer cliques de si mesma para treinar a fotografia, a praticar exercícios aeróbicos com vídeos no YouTube e a assar pães, este um clássico pandêmico. “Fico uns 15 minutos sovando a massa, desestressando.”

Passar a preparar a própria comida foi um dos hábitos adquiridos nesse período de transformações drásticas que vieram para ficar. O bibliotecário carioca João Marco Luz, de 29 anos, se considera um “crítico” de feijão, mas dos outros, porque nunca havia tido coragem de usar a panela de pressão para preparar o prato. Com o contrato de trabalho suspenso, João, que sabia “no máximo fazer um macarrão”, aproveitou o tempo livre para se aventurar na cozinha. O feijão saiu saboroso. Depois, o rapaz se arriscou na picanha na cerveja, no peixe de forno...

Os Poetas e a Leitura da Realidade

por Dado Salem


“Só é poeta o homem que possui a faculdade de ver os seres espirituais que vivem e brincam em torno dele.” Nietzsche


                                          vista da cabana de Wittgenstein em Skjolden, Noroega

O estudo comparado de mitos indica que houve, logo após a pré-história, uma visão ética comum em toda a humanidade: O ser humano era considerado um microcosmo e deveria viver em harmonia com o macrocosmo.

 

A consciência dava ao ser humano a possibilidade de perceber a beleza da natureza e do sistema em que estava inserido. Tudo era uma coisa só, tudo estava interconectado. Nada escapava à imensa rede da vida, da qual o homem era apenas um fio. Tudo o que fizesse a esse tecido faria a si mesmo. A consciência diferenciava o homem dos outros seres, mas também dava a ele uma missão: ser o mantenedor, o guardião disso para as gerações seguintes. O ser humano não era dono da terra, ele fazia parte dela, não devia portanto explorar ou mandar na natureza, mas sim respeitá-la, reverenciá-la, aprender com ela para viver bem e em harmonia com os outros seres. O canto e a dança faziam parte do banquete que os homens ofereciam aos deuses para celebrarem a vida, que era considerada uma dádiva.

 

No entanto, o poder da consciência também nos oferecia a possibilidade de agirmos como substitutos de Deus ou, de viver de acordo com nossos interesses específicos e particulares. Essa pretensão era considerada em muitas tradições como a decadência do homem, pois isso significaria uma desarmonia do equilíbrio cósmico, um rompimento com as potências que regem o Universo e a nós mesmos, representadas pelas divindades e arquétipos.

 

No Egito antigo, no Oriente, nas tribos africanas e em todos povos e civilizações pré-Colombianas, os líderes eram seres humanos com uma cosmovisão, uma consciência superior que lhes dava a capacidade de ler e interpretar a ordem que agia como “pano de fundo” da vida. A função deles era transmitir essa visão de mundo para a sociedade e procurar fazer com que todos vivessem de acordo com essas Leis não escritas porque, tudo o que prosperava ou fracassava estava ligado à obediência ou infração delas. Sem essa cosmovisão as coisas tendiam a não ir tão bem.