Janeiro 2023
Grandes eventos tem o poder de moldar gerações. A Pandemia foi para os jovens o que as duas grandes guerras do século XX e bomba atômica significaram para nossos avós e bisavós. Foi o que a crise do petróleo, a queda das torres gêmeas e a crise de 2008 representaram para a nós e nossos pais. A parada e o “restart” da economia decorrente da Covid-19 teve esse nível de impacto para a Geração Z (nascida entre 1995 e 2010). Ficou claro para eles como é viver num mundo calmo e sem poluição. Foi possível ver o céu azul em Beijing, o ar de Londres ficou limpo, foram vistos 33% mais esquilos, 66% mais abelhas, 97% mais borboletas e segundo geólogos, a terra tremeu menos (1). Deu para perceber, mensurar e questionar o impacto do nosso estilo de vida no planeta.
As pessoas mais velhas querem voltar à vida normal, ou seja, tocar as coisas com a mesma mentalidade de sempre. Mas há uma nova geração entrando no comando a partir de agora, que tem todo o necessário para dirigir uma transformação na sociedade: Vontade, Dinheiro e Poder.
A geração Z é aquela que nunca viveu sem internet. É a primeira verdadeiramente global, sem fronteiras e nativa-digital. Ela tem capacidade de se organizar e se mobilizar online, é extremamente politizada, ativista, consciente, e sobretudo, não é apegada a instituições e tradições. Para essa geração, aquilo que não está bom tem que ser modificado. Como eles nasceram num mundo instável, incerto e complexo, aprenderam a importância da flexibilidade, por isso não têm medo de turbulência. Ou seja, são essencialmente revolucionários.
A geração Z, somada aos Millenials (nascidos entre 1981 e 1995), já representam 50% da população mundial. Segundo a empresa de consultoria Delloite (2), em 2025 eles serão 75% da força de trabalho. Isto significa que este grupo está prestes a receber uma transferência de renda de muitos trilhões de dólares e que suas atitudes, crenças e valores definirão os rumos da economia e da política.
Uma pesquisa recente feita pela Wharton University (3), mostra que para a Geração Z, a sustentabilidade é mais importante do que marcas e estão dispostos a pagar mais por isso, ou mesmo comprar produtos usados para preservar o meio-ambiente.
Não adianta fazer de conta e dar uma maquiada no produto com um belo marketing. A Eurasia Group (4), uma conceituada consultoria política, apontou que um dos principais riscos de 2023 é o poder desses jovens de denunciar atitudes das empresas que estejam inconsistentes com seus discursos e que tendem a colocar pressão nas organizações.
Para essa galera, o propósito, as relações, as experiências e o aprendizado, são mais importantes que dinheiro e benefícios. Daí a dificuldade dos RH’s para lidar com eles. Se a empresa não tiver um propósito sincero, desconhecer ou não cuidar de seus impactos ambientais, sociais e políticos, até mesmo as poderosas multinacionais correm o risco de balançar a partir de um clique.
Não se pode mais governar uma empresa com foco no resultado para os acionistas apenas. E isso não é pra 2030 ou 2040. Isso é agora! As empresas que quiserem se adaptar a esse novo tempo precisam se abrir para o diálogo. Venho há 25 anos facilitando conversas entre gerações e líderes de empresas e vejo o quanto isso é fundamental neste momento.
As novas gerações são abertas ao autoconhecimento, têm vontade de se desenvolver, sabem construir colaborativamente e com simplicidade, são solidárias, pensam no coletivo, ou seja, elas têm os atributos necessários para criar líderes e organizações alinhadas com um tempo de paz, harmonia e prosperidade. Aqueles que não tiverem um propósito sincero nesse sentido que se preparem, pois vão ter que correr atrás do prejuízo.
Bem-vinda nova geração!
Notas
(1) Nature: Liberated by Lockdown? – Natural History Museum
(2) Deloitte: Big Demands and High Expectations
(3) The Sustainability Disconnect Between Consumers and Retail Executives – First Insight and Baker Retailing Center – Wharton University
(4) Top Risks 2023 – Eurasia Group
Excelente reflexão Dado, vou compartilhar com a Kerena para nos ajudar com os "caras"...abs
ResponderExcluirValeu Mauricio! forte abraço... saudades
ExcluirÓtimo artigo
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