Shiva e o beija-flor - Ailton Krenak e Satish Kumar

Transcrição do diálogo no Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Selvagem - Ciclo de estudos sobre a vida
Junho 2024




O mundo é muito barulhento. Em qualquer lugar fechamos o olho... nós podemos aprender a selecionar quais os sons que a gente quer ouvir. Tem um povo muito antigo aqui nessa região da mata Atlântica, são os Guarani, e essa cultura Guarani entende que é possível escapar desse barulho se refugiando num bosque, numa mata escura, no mais profundo do nosso ser, e dizem: vá atravessa a floresta, vai mais longe, vai mais fundo, muito muito muito longe, lá você vai encontrar uma mata escura, lá só tem névoa. Fique lá dentro e tudo me volta silencia. É um tipo de meditação, é um acesso livre, não precisa nenhuma iniciação. Eu achei esse lugar pra fazer essa troca que nós chamamos de aprendizagem. Aprender sobre esse mundo aqui fora. Para fazer esse percurso a gente pode ter a facilidade de fazer ele dentro dessas copas, é um privilégio maravilhoso mesmo estando no Rio de Janeiro. Não parece que essa metrópole é uma metrópole barulhenta, mas o bosque, o Jardim Botânico essa multidão de árvores, seres vivos que estão aqui, elas absorvem essa violência toda, transmuta isso e nos permite ficar aqui dentro desse pequeno bosque... na nossa mata escura. Só alguns pássaros chegam aqui.

A visão do Bobo

Por Dado Salem
inspirado no texto de Cecil Collins, artista inglês associado ao movimento surrealista
Julho 2024


Num mundo dominado pela razão, o Bobo desafia as convenções, revela a magia da imaginação e a beleza da simplicidade. 




Num mundo sobrecarregado de racionalidade e dominado pela lógica, existe uma figura que dança levemente à margem da razão, livre das amarras do pensamento convencional. Esta figura é o Bobo. O Bobo, muitas vezes incompreendido e subestimado, personifica uma visão que vai além das superficialidades da existência moderna, oferecendo o vislumbre de um mundo onde a inocência, o encanto e a sabedoria se misturam e reinam supremos.

O Bobo, em sua essência, não está preso às estruturas rígidas da sociedade. Ele é um andarilho, um buscador de verdades que estão além do senso comum. Seus olhos inocentes, livres do cinismo, veem o mundo de maneira pura – uma tapeçaria infinita de beleza, mistério e potencias. Para o Bobo, cada momento é um milagre, cada encontro uma troca significativa, e cada caminho uma jornada rumo ao sublime.

Na mitologia, o Bobo aparece como um símbolo tanto de começos quanto de finais, um guardião da fronteira entre o conhecido e o desconhecido. Ele está no limiar da aventura, sem medo de cair no vazio, pois confia na benevolência do universo. Esta confiança não nasce da ingenuidade, mas de uma compreensão profunda de que o mundo é um lugar de infinitas possibilidades, onde a alma pode florescer se ousar sonhar.

Amor e trabalho combinam?

Por Anne-Sophie Moreau
Philosophie Magazine
Junho 2024

Nada menos romântico que o escritório? Não se engane: às vezes é no trabalho que nascem as grandes paixões. No entanto, cônjuges que também são colegas estão se tornando mais raros. Amor e trabalho remoto são realmente compatíveis?


“De manhã, no auge do trabalho, quando a jovem chegou à cozinha, as mãos deles se encontraram no meio da carne picada. Ela às vezes o ajudava, segurava os intestinos, enquanto ele os recheava com carne e bacon. Ou provavam juntos a carne crua das salsichas, com a ponta da língua, para ver se estava adequadamente picante. […] Muitas vezes ele a sentia atrás do ombro, olhando para o fundo das panelas, chegando tão perto que seu pescoço forte ficava nas costas dela. […] O grande incêndio colocou sangue na pele deles. » É numa delicatessen familiar que Lisa e Quenu, personagens de Le Ventre de Paris (Émile Zola, 1873), se conhecem e se apaixonam. Juntos, eles assumiram a empresa e o transformaram em um negócio próspero. Sob a pena de Zola, o amor é um emaranhado de erotismo substancial e interesse bem compreendido. Um paradoxo para quem sonha com romance: ele não deveria nos tirar da banalidade do nosso cotidiano produtivo?

No filme Notting Hill (Roger Michell, 1999), Julia Roberts, que interpreta uma atriz famosa, se apaixona por um modesto livreiro. É o clichê da comédia sentimental: a heroína apaixona-se por um estranho que conhece por acaso e cujo encanto a seduz apesar de tudo o que os separa. Segundo Ulrich Beck, o amor é “uma chave para escapar da jaula da normalidade”. O sociólogo alemão, autor de The Normal Chaos of Love (escrito com Elisabeth Beck-Gernsheim, Suhrkamp, 1990), compara-o à religião; ambos “quebram as cascas que recobrem o sentido do mundo”, “atacam realidades para revelar aspectos desconhecidos”. O amor, longe das convenções sociais, é um “comunismo mínimo”, diz o filósofo Alain Badiou. Ele se liberta de qualquer noção de interesse ou competição.

Você repetiria sua vida eternamente com alegria?

Por Dado Salem
Junho 2024

Breves contribuições de um historiador, um filósofo e um escritor para levar uma vida significativa, valorizando cada momento e fazendo escolhas que ressoem com o nosso eu profundo. 





Mircea Eliade nos ensina que nas sociedades tradicionais o tempo era visto como circular, pois tudo tendia a se repetir eternamente, as estações do ano, as fases da lua, o dia e a noite e os acontecimentos na vida humana. Essas culturas criavam rituais recorrentes que tinham o objetivo de renovar o mundo e oferecer oportunidades de regeneração para que as pessoas começassem um novo ciclo cheio de sentido e propósito.

O mito do eterno retorno foi utilizado por Friedrich Nietzsche como uma alegoria para examinarmos nossa vida e encontrar significado na nossa existência. Trata-se de um experimento mental que nos desafia a imaginar viver como se nossa vida se repetisse infinitamente. Nietzsche pergunta se aceitaríamos passar por tudo de novo, eternamente, se soubéssemos que teríamos de vivê-la em perpétua recorrência. Não se trata apenas de aceitar a vida, mas de afirmá-la de tal forma que viveríamos com alegria cada momento. Estamos vivendo vidas que estaríamos dispostos a repetir eternamente? 

Esta reflexão nos leva a fazer escolhas, valorizar as nossas experiências e assumir a responsabilidade pelas nossas ações. Encoraja-nos a viver de forma autêntica e apaixonada, buscando a realização no presente em vez de adiar a felicidade para um futuro distante.

Como se preparar para uma entrevista de emprego

Por Dado Salem
Junho 2024


É muito frequente eu ser procurado por profissionais para ajudá-los a se prepararem para entrevistas de emprego. Resumi num breve artigo alguns pontos importantes a serem observados bem como os aspectos principais que são avaliados pelos entrevistadores.






Preparar-se para uma entrevista é essencial para conseguir um emprego desejado. Envolve planejamento cuidadoso, pesquisa e alguma prática para garantir que você se apresente como um candidato adequado para a função. Um dos primeiros passos na preparação para uma entrevista é pesquisar a empresa. Compreender a missão, os valores, os produtos e os serviços que a empresa oferece, saber quem são os concorrentes, o posicionamento no mercado, bem como as notícias ou desenvolvimentos recentes relacionados com a empresa. Esse conhecimento permite que você oriente suas respostas e mostre um interesse genuíno pela organização.

Igualmente importante é uma compreensão completa da descrição da posição. Ao analisar os requisitos do trabalho, você pode combiná-los com suas habilidades e experiências. Identificar as principais responsabilidades e preparar exemplos que demonstrem as suas capacidades podem fazer uma diferença significativa. Praticar respostas a perguntas comuns em entrevistas é outro aspecto vital da preparação. Perguntas como “Conte-me sobre você”, “Por que você quer trabalhar aqui?” e “Quais são seus pontos fortes e fracos?” quase sempre são questionados.

A arte quase perdida de não fazer nada

Por Dado Salem
Junho 2024

Num mundo frenético, obcecado por produtividade e inteligências artificiais, o simples ato de não fazer nada pode nos ajudar a redescobrir a serenidade e a inspiração que emergem dos momentos de quietude, e se transformar numa verdadeira celebração da vida.





Dany Laferrière, escritor haitiano, membro da Academia Francesa de Letras, escreveu uma obra reflexiva e filosófica sobre a beleza e a importância de não fazer nada. Com um estilo perspicaz e poético, ele explora a ideia de que no nosso mundo acelerado e obcecado pela produtividade, o simples ato de não fazer nada é uma arte valiosa e quase perdida.

Ele defende a necessidade de reservar um tempo para descansar, observar e simplesmente ser, sem a pressão constante de ser produtivo. Essa abordagem nos permite viver o momento e saborear experiências em vez de correr constantemente para a próxima tarefa. Ele sugere que, ao desacelerar e abraçar momentos de inatividade, podemos nos reconectar com nós mesmos, com o mundo que nos rodeia, e a vida pode se tornar mais plena e significativa. 

O lazer, para Laferrière, não é apenas a ausência de trabalho, mas um aspecto fundamental da vida que estimula a criatividade, o bem-estar e o crescimento pessoal. O tempo de lazer proporciona espaço para autorreflexão, exploração intelectual e descanso emocional. Numa cultura que muitas vezes glorifica a ocupação, Laferrière defende a procura consciente de não fazer nada como forma de equilibrar as nossas vidas, essencial para manter a saúde física e mental.

Favela não é carência, favela é potência

Por Dado Salem
Fevereiro 2024




Nas últimas décadas, o termo "favela" tem sido frequentemente associado à pobreza, criminalidade e falta de infraestrutura básica. No entanto, esta visão simplista e estigmatizante não reflete a realidade complexa e multifacetada dessas comunidades.

Ao contrário do que muitos acreditam, as favelas são locais de grande potencial e resiliência. Essas áreas são habitadas por pessoas que, mesmo enfrentando desafios significativos, encontram maneiras criativas e inovadoras de sobreviver e prosperar.

Um dos aspectos mais impressionantes das favelas é a sua comunidade. Nestas áreas, as pessoas vivem em uma proximidade incomum, compartilhando espaços e experiências diárias. Essa proximidade cria uma forte rede de apoio, onde os moradores se ajudam mutuamente em tempos de necessidade. Essa solidariedade é uma prova da resiliência das favelas.

Além disso, as favelas são frequentemente centros de atividade econômica. Essas comunidades abrigam pequenos negócios e empreendimentos locais que oferecem produtos e serviços essenciais aos moradores. Esses negócios fornecem uma fonte de renda crucial para as famílias locais e ajudam a impulsionar a economia da área.

O que é Inteligência Coletiva e como fazê-la funcionar?

Por Dado Salem



Você já ouviu falar em Inteligência Coletiva? Inteligência Coletiva é a capacidade que um grupo numeroso de pessoas tem de tomar decisões melhores que um líder sozinho ou que um grupo de experts fariam. Isso ocorre porque indivíduos e grupos homogêneos, mesmo com alto QI, tenham viéses cognitivos difíceis de romper e que muitas vezes podem ser contraproducentes. Inteligência Coletiva significa que a colaboração, a diversidade e tomada de decisões descentralizadas tendem a gerar ideias inovadoras, resolver problemas complexos e impulsionar o progresso em empresas, organizações e na sociedade.

Para fazer a Inteligência Coletiva funcionar, vários elementos-chave entram em jogo. Em primeiro lugar, requer um grupo diverso de pessoas com uma variedade de formações, origens, perspectivas e conhecimentos. Essa diversidade de experiências garante um leque amplo de insights e ideias, fomentando uma Inteligência Coletiva mais poderosa.