O design humano e a busca por propósito

Por Dado Salem
Outubro 2024

A relação entre design humano e propósito. Como uma abordagem profunda sobre o desenvolvimento de talentos e a descoberta de funções sociais moldam a realização pessoal e contribuem para o bem coletivo.


                                             Espiral Indigena no Novo México - símbolo da 
                                             busca pela realização individual e coletiva (1)

Independente de qual país, cultura ou momento da história uma pessoa nasce, seu maior desejo foi, é e sempre será a realização de seus talentos e a necessidade de reconhecimento.

Cada pessoa nasce com um conjunto único de talentos, características e inclinações — o que podemos chamar de nosso design. Esse design pode ser visto como o projeto do nosso potencial, a matéria-prima a partir da qual somos moldados. Algumas pessoas são projetadas para liderar com força e visão, outras para nutrir, cuidar, criar ou inspirar. Nesse sentido, o design humano não se limita a atributos físicos ou intelectuais, mas inclui os aspectos emocionais, espirituais e psicológicos que formam a essência de quem somos.

No entanto, esse design não é estático ou completo no nascimento. Assim como um escultor molda sua escultura, somos influenciados pela família, pelo bairro, pela cidade, pelo estado, pelo país, pela configuração dos astros, pelos acontecimentos, pelos nossos relacionamentos e pelas escolhas que fazemos ao longo do tempo. Experiências e desafios desempenham um papel no refinamento do nosso design, aprimorando nossos talentos e revelando nosso potencial. Nesse processo, começamos a entender não apenas do que somos feitos, mas também para que fomos feitos. 

Nosso propósito se revela quando encontramos nossa função na sociedade. É por meio do propósito que descobrimos como nossos talentos e habilidades se encaixam no mundo. Para alguns, isso vem na forma de uma carreira ou vocação — como a de professores ou curadores que montam exposições. Para outros, a designação pode ser mais sutil, como os cuidadores que desempenharam um papel fundamental durante a pandemia de COVID-19 ou os líderes comunitários que impulsionam movimentos sociais, como o Black Lives Matter. Seja qual for a forma que assuma, o propósito dá clareza e direção ao nosso design, transformando potencial em ação concreta no mundo.

O propósito é algo profundamente pessoal, mas também é influenciado pela comunidade. Em sociedades tradicionais, o propósito geralmente é estabelecido por meio de ritos de passagem ou reconhecimento comunitário. Anciãos, mentores ou guias espirituais reconhecem os dons de um jovem e o ajudam a entender seu papel na comunidade. Esse reconhecimento formal da ao indivíduo não apenas um senso de identidade, mas também a responsabilidade de usar seu design a serviço dos outros.

Na vida moderna, industrializada, esse propósito é menos óbvio porque somos educados e formados em formas coletivas. Por esse motivo, muitos de nós lutamos para entender onde nos encaixamos ou o que devemos fazer. Podemos nos sentir desconectados de nosso design, inseguros sobre como canalizar nosso potencial. Essa desconexão geralmente decorre de pressões sociais que enfatizam realizações externas em vez do propósito interno. Num mundo que prioriza produtividade e sucesso, é fácil perder de vista nossa verdadeira designação — o que estamos equipados e preparados para oferecer ao mundo.


Encontrando o Propósito

O processo de encontrar nosso propósito é uma jornada contínua. Requer autorreflexão, uma compreensão profunda de nosso próprio design e a coragem de seguir um caminho que se alinhe com esse chamado interior. Às vezes, esse caminho pode ser desafiador ou incerto, mas é por meio da busca que chegamos a entender nosso propósito.

Nosso design nos é dado pelos atributos que recebemos no nosso nascimento, somado às experiências e influências do meio, mas é por meio das escolhas que fazemos, dos papéis que assumimos e das contribuições que oferecemos que encontramos nosso verdadeiro lugar no mundo. O propósito, então, não é um evento único, mas um processo contínuo de descoberta e realização.

Assim como buscamos nosso próprio propósito, desempenhamos um papel em ajudar os outros a encontrarem os deles. Nas amizades, famílias e comunidades, reconhecemos e afirmamos o design dos que estão ao nosso redor. Por meio de apoio, orientação e reconhecimento, ajudamos uns aos outros a descobrir e viver nossos propósitos. Dessa forma, os relacionamentos são uma parte vital do processo, oferecendo tanto o espaço para o crescimento pessoal quanto a afirmação do papel único de cada pessoa. Como diz um ditado multimilenar africano, Ubuntu - que significa "eu sou porque nós somos".

Nosso design, o conjunto único de potenciais e dons com os quais nascemos, serve como base da nossa identidade. Mas é por meio do processo de descobrir nosso propósito, de nomear nosso papel e alinhar nossos talentos com as necessidades do mundo, que realmente realizamos nosso potencial.

Tanto em nossas vidas pessoais quanto em nossas comunidades, essa combinação entre design e propósito nos permite expressar completamente quem somos e contribuir significativamente para o mundo ao nosso redor. É essa interação que molda não apenas nossos destinos individuais, mas também a construção coletiva da humanidade, à medida que o design de cada pessoa encontra seu lugar no todo maior. No final das contas, o design nos dá a fundação, mas é a descoberta do propósito que nos traz significado e realização na vida.



(1) Gelya Frank PhD (2011) The Transactional Relationship between Occupation and Place: Indigenous Cultures in the American Southwest, Journal of Occupational Science

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