Como fazer uma mudança de carreira?

Por Dado Salem
Dezembro 2022


Até o início dos anos 1990 quem mudava de carreira, ou mesmo de empresa, era visto como uma pessoa problemática, desajustada. Depois da revolução da Internet e da Sociedade em Rede, dos trabalhos flexíveis e globalizados, as mudanças de carreira são cada vez mais comuns. Quem não muda ao menos de empresa algumas vezes, é considerado(a) engessado(a), cabeça dura, sem capacidade de adaptação às mudanças, etc. Se você está pensando em fazer uma transição de carreira, que é uma coisa mais complexa, aqui vão algumas dicas.

Toda mudança começa com um fim, com a saída de uma situação conhecida, por isso tendemos a ficar com medo, perdidos, com sentimento de vazio... mas depois uma coisa nova inicia.

A primeira coisa a fazer é identificar suas habilidades e interesses. Quais são seus talentos e o que você gosta de fazer? O que você mais valoriza no seu trabalho e o que o(a) motiva? Existem setores ou atividades que se alinham com suas habilidades e paixões?

Depois de ter uma ideia geral do tipo de trabalho que você gostaria de fazer, a próxima etapa é começar a aprender mais sobre ele ou sobre o setor específico em que está interessado(a). Você pode conversar com pessoas que trabalham na área, perguntar como é o dia a dia delas, o que há de bom e de ruim, pedir conselhos sobre o caminho a seguir, os conhecimentos e pré requisitos como formação ou experiência. Outra maneira é fazer uma pesquisa online, isso pode dar uma visão geral dessa carreira. Os anúncios de empregos, por exemplo, mostram o que os empregadores procuram nos candidatos. Isso pode ajudar a entender as habilidades, qualificações e experiências específicas que normalmente são necessárias para esse trabalho.

Construindo as Empresas do Futuro - Comunicação e Gestão do Diálogo Colaborativo

Por Dado Salem
Agosto 2022


Estamos vivendo uma grande revolução. Vemos um sistema em declínio e outro emergindo. Nessa palestra no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), em julho de 2022, apresentei um apanhado histórico mostrando as principais revoluções que a humanidade passou e a que estamos vivenciando hoje. Com esse rápido exercício, relembramos de onde viemos, em que ponto estamos e percebemos com mais clareza para onde estamos indo. Apresento um quadro com os principais valores do Sociedade Industrial e da Sociedade em Rede. Isso pode trazer mais clareza para empreendedores de startups e para aqueles que administram empresas criadas com a cultura que está em declínio (e não querem ficar para trás), como deveriam estruturar suas organizações. Concluo demonstrando quanto a Comunicação e as habilidades de diálogo são fundamentais daqui em diante. 


Gostaria de agradecer ao IPT e ao IEL (Instituto Euvaldo Lodi) pelo convite. Estou aqui com meu querido amigo e parceiro Celso Alvim (Maestro do Monobloco) que vai conduzir depois da minha apresentação um exercício de comunicação. Eu vou sentir que atingi meu objetivo se no final da minha apresentação e do exercício junto com o Celso, vocês tiverem certeza de que a Comunicação é a coisa mais importante que vamos precisar aprender e desenvolver neste momento e daqui para frente. É a Comunicação que vai mandar e a minha palestra vai justamente mostrar por que isso está acontecendo. 

Eu nomeei essa apresentação Construindo as Empresas do Futuro, porque inovação é tudo o que estamos conversando aqui, e no subtítulo Comunicação e Gestão do Diálogo Colaborativo, vocês vêem que as palavras Comunicação e Diálogo se repetem justamente para reforçar importância disso. Vou apresentar a vocês um Contexto, mostrar um pouco do meu entendimento sobre o que está acontecendo hoje, mas contando uma história, lá de trás, até o aumento atual. 

 

O presidente do Google falou em 2021 (matéria do The Times) que a inteligência artificial vai ter um impacto maior do que o fogo para a humanidade. Isso mostra que estamos vivendo uma grande revolução, porque sabemos a importância que o fogo teve para nós. Se uma pessoa dessa importância está falando isso, acho bom prestarmos atenção.

 

Muitos dizem que estamos vivendo a quarta Revolução Industrial. Eu acho que essa denominação não é a mais apropriada perante o tamanho da transformação que estamos passando. Eu vou explicar por quê. 

Travessia para a vida adulta

Por Dado Salem
Abril 2022

Tornar-se adulto é um evento traumático e os pais tem um papel importante nesse processo.


Há coisas que são tão comuns a todos nós que podemos dizer que são universais. Uma delas é o desejo de viajar. Mais que o simples deslocamento físico, uma viagem representa a vontade do novo. De novas experiências, novos ares, novos horizontes, novos conhecimentos, novos desafios… e que no final conduzem à transformação, porque se fizermos uma verdadeira viagem, longa o suficiente, retornamos diferentes do que partimos. 

O texto mais antigo que se tem notícia, a Epopéia de Gilgamesh, apresenta justamente uma viagem. A do herói em busca da vida eterna, na Terra dos Vivos. Para chegar lá ele atravessa montanhas, florestas, mares, jardins e rios. Outro texto clássico cujo tema é a viagem é a Odisséia de Homero, que conta a longa e tumultuada jornada de Odisseu de volta para casa no final da Guerra de Tróia. Neste mesmo texto há também a viagem de seu filho Telêmaco em busca do pai, orientado por ninguém menos que Mentor, que veio dar nome à atividade de aconselhamento e no qual incorporou a deusa da sabedoria, Atená. Mentor (Atená) diz a Telêmaco que é a hora de deixar de ser criança e se tornar um homem. A viagem de Telêmaco representa, portanto, a passagem para a vida adulta.

A passagem para a vida adulta é um dos maiores desafios que enfrentamos. Na infância vivemos num mundo mágico em que as coisas são resolvidas para nós. No processo de nos tornarmos adultos, no qual precisamos prover nosso próprio sustento, arcar com as consequências de nossos atos, nos responsabilizarmos pela nossa vida, somos expulsos de uma zona de conforto. 

Tornar-se adulto é um evento traumático. Na natureza, a mãe pássaro empurra os filhotes para fora do ninho para que eles voem. Em sociedades tribais, os jovens passam por rituais em que muitas vezes têm que aguentar um sofrimento. Os Karajá, numa primeira iniciação, perfuram o lábio inferior dos jovens com a clavícula de um macaco. No Hetohoky, o maior ritual dos povos indígenas do Tocantins, as crianças são afastadas do convívio social e fazem uma viagem pela floresta onde adquirem aprendizados, para então retornarem adultas.

Inteligência e Sabedoria

por Dado Salem
março 2022


Sabedoria não é acúmulo de conhecimento nem pode ser mensurada num teste de QI. Inteligência é um dom que se recebe ao nascer. Sabedoria não. É algo que se desenvolve por meio de um longo estudo, exige tempo e demoradas reflexões que o tumulto e a polifonia da sociedade dificultam.


Dizem que estamos ficando mais inteligentes. Em países industrializados o QI médio da população subiu 3 pontos por década e aumentou incríveis 30 pontos no século XX(1) . Isso quer dizer que uma pessoa normal hoje seria considerada superdotada no início do século passado. E o que ganhamos coletivamente com esse avanço? Mercados transbordando de comida, água limpa encanada, pílulas que curam doenças, transportes rápidos e seguros, acesso a qualquer informação instantaneamente, uma abundância de bens materiais, maior longevidade etc. 

Ao longo do tempo nossa sociedade veio se estruturando em função da métrica da inteligência. O QI é um dos fatores que determinam onde as pessoas vão se formar, trabalhar e consequentemente, seu estilo de vida. Bill Gates foi claro numa entrevista: "o ponto chave para nós, em primeiro lugar, sempre foi contratar pessoas muito inteligentes"(2) . Adam Grant, psicólogo organizacional da Universidade de Wharton, revelou que os processos seletivos da maioria das grandes empresas são testes de QI disfarçados(3). O Google, por exemplo, não mede explicitamente as habilidades cognitivas de seus candidatos, mas quando pede para que eles resolvam oralmente os problemas propostos por um entrevistador, estão fazendo isso indiretamente. 

Mas apesar de todo esse progresso cognitivo e material, vivemos uma desigualdade crescente, uma epidemia de ansiedade e depressão, provocamos mudanças ambientais brutais que impactarão nossas vidas e principalmente as de nossos filhos e netos. Produzimos uma quantidade absurda de lixo, poluímos a terra, o ar, rios e mares, criamos armas nucleares potentes suficiente para destruir o planeta e temos líderes não só incapazes de mudar essa realidade como muitas vezes que contribuem para piorar as coisas.

Conhecimento e inteligência podem ser utilizados para o bem ou para o mal, de forma criativa ou destrutiva, e o aspecto negativo ocorre especialmente quando o foco é centrado em interesses particulares, sem observar aquilo que nos cerca, o contexto mais amplo. 

A ciência avança progressivamente por meio de um método que organiza e acumula o conhecimento ao longo do tempo de maneira que o saber atual é sempre superior ao de antigamente. O mesmo não pode ser afirmado com relação à sabedoria. Apesar de toda a ciência, não podemos dizer que somos mais sábios que pessoas que viveram há milhares de anos. Ou seja, ganhamos inteligência, conhecimento e tecnologia, mas não sabedoria.   

Sabedoria não é acúmulo de conhecimento nem pode ser mensurada num teste de QI. Inteligência é um dom que se recebe ao nascer. Sabedoria não. É algo que se desenvolve por meio de um longo estudo, exige demoradas reflexões que o tumulto e a polifonia da sociedade dificultam. Em geral estamos tão atolados com o dia a dia que não sobra tempo para cultivá-la. A sabedoria deveria ser praticada desde cedo porque alguns erros que poderiam ser evitados custam caro. E de que vale aprender no final da vida como poderíamos ter vivido?