Vida acelerada e o excesso de informação


por Dado Salem

                                                                                                  ilustração: Maria Eugênia
                                                                                 
"Estou tão acelerada que começo uma conversa ao telefone e depois logo quero desligar e focar em outra coisa". "Faltam horas no meu dia. Estou sobrecarregado, e com as mudanças acontecendo na empresa, as coisas estão piorando". "Recebo e-mails demais, não dou conta de responder". 

Lembra quando não existia celular, email, sms, facebook e smartphones? Não faz muito tempo. Saíamos para almoçar com tranquilidade, conversavamos sem interrupções, depois voltavamos caminhando lentamente para o trabalho para resolver as coisas que faltavam. As 18:00hs já estavamos indo para casa. Essa vida acabou, pelo menos nas metrópoles.

Ninguém mais anda devagar nos grandes centros. Todos se movimentam o mais rápido possível para dar conta do que fazer. O psicólogo Robert Levine conta em Geography of Time que conduziu uma pesquisa em 31 países para medir a velocidade das pessoas caminhando nas ruas. Nos últimos anos a velocidade média subiu de 4,78 km/h para 5,26 km/h. Segundo ele, é prova inequívoca de que o ritmo de vida está acelerando.


Historicamente, a maior transformação no ritmo de vida ocorreu com a industrialização. Antes ninguém usava relógio. Os encontros eram marcados pela manhã, ao meio dia ou no final da tarde. Nunca depois do almoço, porque havia o sagrado cochilo da siesta. Mas as técnicas de produção acabaram com essa moleza. Todos passaram a ter hora certa para chegar nas fabricas porque se alguém se atrasasse atrapalharia a linha de produção. Junto com os relógios de ponto, os relógios de pulso se tornaram populares.

O novo ritmo, ditado pelas máquinas, mudou até a literatura. As histórias breves, escritas para serem lidas do começo ao fim num curto espaço de tempo, começaram a desbancar os grandes romances de 500 ou mais páginas. Ler um romance hoje é quase impossível. Durante a semana, inviável. No final de semana, quando pegamos o livro, precisamos reler quase tudo porque perdemos o fio da meada. Quando começamos a embalar na leitura, surge alguma coisa para nos distrair.

A internet e as novas tecnologias não estão apenas diminuindo nosso tempo livre, estão também limitando nossa atenção. Um estudo feito pela seguradora britânica Lloyds avaliou que o stress da vida contemporânea vem fazendo diminuir nosso tempo médio de atenção. Na última década, o que chamam de "attention span" caiu de 12 para menos de 5 minutos. Esse é o tempo que conseguimos focar numa coisa. O que mais assusta é o motivo do interesse da seguradora: "A falta de atenção tem sérios impactos na realização de tarefas e aumenta o risco de acidentes", afirmam.

Fazer muitas coisas ao mesmo tempo produz consequências preocupantes. O excesso de informação e a fragmentação do trabalho nos fazem perder capacidade cognitiva, dificultando a consolidação de informações e a discriminação. Não sabemos mais o que é importante e o que não é, buscamos apenas o que é novo. Apesar de termos uma impressão de eficiência, acabamos não fazendo nada direito. As constantes interrupções são contraproducentes e limitam nossos potenciais. Quando não há concentração, nossa produção equivale à de uma pessoa com QI 20% inferior, aponta pesquisa coordenada pelo psicólogo Richard Nisbett da Universidade de Michigan.

Os jovens são os mais afetados. Há uma verdadeira epidemia de défcit de atenção entre eles. Em vários casos o problema é o excesso de estímulo e informação, porém muitos acabam sendo medicados.

O avanço tecnológico não vai parar, nem o turbilhão da vida agitada. Cabe a cada um aprender a fazer bom uso das novas ferramentas e encontrar soluções para melhorar a própria vida e a dos que estão à sua volta.

5 comentários:

  1. Com certeza, mas acho tb que de certa forma nos viciamos em viver assim. As vezes nem e necessário correr, mas corremos. Um terapia boa e natural sao as atividades ao ar livre. Correr, pedalar pode fazer as pessoas canalizarem esta angustia para o desafio de ir mais longe e mais rápido. Após um treino fica tudo mais leve e parece que retomamos a consciência e a paz.

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  2. Vivo abordando esse assunto com as pessoas pq sofro muito desse mal! Preciso de tempo p me concentrar numa tarefa e no escritório impossível, skipe,celular,email,pessoas....hoje reservei 3 horas por dia numa calma sala da minha casa p trabalhar em paz , vou p escritorio mais tarde num horario melhor de transito , aumentou minha produtividade e diminuiu o stress, pena q muitas pessoas ainda achem importante o "arcaico"relogio de ponto e não enxergam isso como uma nova forma de trabalhar com qualidade de vida, a tecnologia nos deu mobilidade,não é preciso estar presente ,basta estar na tela. Nossa e as crianças!!? Nunca vi tanto DDA ,tanta ritalina ,tanta atividade extra curricular...isso me assusta!
    Priscila N.P.

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    1. Parabens Priscila, você é um exemplo... continue falando a respeito da sua experiência, certamente inspirará outros... é assim que se muda uma cultura.

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  3. A vida contemporânea agitada é inversamente proporcional à qualidade de vida, sendo essa qualidade de vida totalmente utópica a cada ano de ''desenvolvimento e progresso''. As pessoas se quer tem tempo para fazerem atividades que engrandeçam a si próprias, como ler, passear ao ar livre (com o pouco verde que resta), conversar tranquilamente com o próximo, alimentarem-se bem e coisas assim, pois para tudo isso é necessário tempo. E tal tempo, é marcado a risca. As pessoas vendem o seu tempo por um grana e perdem o mesmo tempo para dedicarem a si próprias. Ou seja, tá difícil ser saudável hoje em dia!

    Parabéns pelo site! Descobri hoje e já estou lendo várias matérias :)

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