Por que cada vez há menos pessoas dispostas a ceder aos excessos da vida profissional

por María Sanchéz Sanchéz
El País
Novembro 2021






Embora ainda seja cedo para abordar de forma categórica o rombo que a pandemia nos deixou, há algumas transformações que parecem estar ganhando forma. Elas têm a ver com o trabalho, com a reinvenção da maneira como nos organizamos e com uma constatação feita por milhões de pessoas: que outra vida profissional —mais generosa com nossa saúde física e mental— é possível.

“Vi que outra forma de trabalhar é possível e já não quero voltar a como era antes”, diz Lourdes Díaz, funcionária de uma empresa de tecnologia. “Cheguei a fazer jornadas de 10 e 11 horas no escritório, mas já não estou disposta a viver pelo —e para— o trabalho. Além disso, no meu caso, a necessidade de trabalhar de forma remota mostrou que posso realizar as tarefas e conjugar muito melhor essas obrigações com o âmbito pessoal. Agora tenho mais tempo para mim, desfruto e noto que não estou tão estressada com tudo.”

No entanto, esse burburinho nas conversas com amigos e colegas de trabalho ocorre paralelamente à percepção de muitas empresas, que defendem um “retorno à normalidade”. Um enfoque convencional que deixa trabalhadores frustrados e deprimidos pela insistência na modalidade presencial ou, no caso dos mais privilegiados, reflete-se num êxodo rumo a firmas que oferecem maior flexibilidade. Recentemente, por exemplo, as ofertas em que aparece a palavra “teletrabalho” aumentaram 214% na Espanha.