Vida acelerada e o excesso de informação


por Dado Salem

                                                                                                  ilustração: Maria Eugênia
                                                                                 
"Estou tão acelerada que começo uma conversa ao telefone e depois logo quero desligar e focar em outra coisa". "Faltam horas no meu dia. Estou sobrecarregado, e com as mudanças acontecendo na empresa, as coisas estão piorando". "Recebo e-mails demais, não dou conta de responder". 

Lembra quando não existia celular, email, sms, facebook e smartphones? Não faz muito tempo. Saíamos para almoçar com tranquilidade, conversavamos sem interrupções, depois voltavamos caminhando lentamente para o trabalho para resolver as coisas que faltavam. As 18:00hs já estavamos indo para casa. Essa vida acabou, pelo menos nas metrópoles.

Ninguém mais anda devagar nos grandes centros. Todos se movimentam o mais rápido possível para dar conta do que fazer. O psicólogo Robert Levine conta em Geography of Time que conduziu uma pesquisa em 31 países para medir a velocidade das pessoas caminhando nas ruas. Nos últimos anos a velocidade média subiu de 4,78 km/h para 5,26 km/h. Segundo ele, é prova inequívoca de que o ritmo de vida está acelerando.

O que há por trás da compra compulsiva

por Dado Salem

A Sociedade de Consumo existe desde o início da modernidade, com a ascensão da burguesia após a Revolução Francesa. Alguns dizem que o livro de Gustave Flaubert - Madame Bovary, publicado em 1856, marca esse momento, descrevendo uma mulher que consome além de suas possibilidades e se afunda em dívidas, como tentativa de aplacar uma sensação de vazio. É a ideia do “consumo logo sou”, ou "existo".




Por que consumimos? Essa questão pode parecer simples à primeira vista, mas esconde um universo complexo de significados, desejos e construções sociais. O consumo vai muito além da satisfação de necessidades básicas; ele é um elemento estruturante da identidade, da distinção social e da cultura contemporânea. Mais do que adquirir produtos, consumimos significados. Escolhemos um objeto não apenas por sua utilidade, mas pelo que ele representa para nós e para os outros. A moda, por exemplo, não é apenas estética; é um código social que define pertencimento e status. A imaginação é essencial para essa dinâmica: quando um objeto perde seu apelo imaginativo, buscamos um novo.

A transformação do consumo em um motor cultural está ligada à influência do romantismo, que consolidou a ideia de que objetos e experiências podem modificar nossa identidade e nos aproximar de nossos ideais. O ato de consumir se torna uma forma de projetar e reinventar quem somos. Historicamente, as sociedades eram marcadas pelo coletivismo, onde a identidade era herdada e fixa. Com a modernidade, houve uma transição para o individualismo, onde a identidade se tornou relacional e fluida. Esse processo se intensificou com o consumo, que passou a ser um meio de autoexpressão e diferenciação. A liberdade de escolha é um dos grandes valores do mundo contemporâneo, mas também gera tensões: queremos ser autônomos, mas também pertencemos a grupos e buscamos aprovação. Isso leva ao fenômeno do consumo como marcador de identidade, onde estilos de vida e experiências substituem bens materiais como principais formas de distinção social.