Foi em 2010 numa co-mediação com uma psicanalista argentina chamada Magdalena Ramos. Magdalena é uma figura emblemática, uma das grandes mestras da Psicologia de Família. Teve que sair fugida de seu país nos anos 1970 por conta da perseguição política. Uma perda para a Argentina, mas um ganho para o Brasil. Magdalena foi responsável por criar o primeiro programa de Psicanálise de Família na PUC-SP. Esse atendimento virou um artigo chamado – Mediação: um caso clínico e foi publicado no livro A violência doméstica e a cultura da paz.
Escrevemos esse artigo pensando em fazer uma introdução simples e clara sobre o tema, pois na época ainda se confundia a palavra Mediação com Meditação. Em seguida relatamos nossa experiência.
Mediação: um caso clínico
Por Magdalena Ramos e Dado Salem
Histórico da Mediação
Antigamente o mediador tinha, a importante função de ajudar a recuperar a saúde física e psíquica das pessoas, re-estabelecendo a conexão entre o indivíduo e o cosmos. Era uma espécie de ponte (pontífice) que eliminava a separação entre os homens e os deuses, e trazia consciência às pessoas. Essa relação entre religião e mediação pode ser observada em várias tradições. Na cultura judaica por exemplo, até hoje os rabinos desempenham o papel de mediadores em diversos tipos de conflitos. Moore (1998) observou a mesma conexão em culturas islâmicas, hinduístas e budistas.
Diferentes práticas e modelos de mediação surgiram pelo mundo, mas todos com o mesmo princípio: re-aproximar o indivíduo do “outro”, seja este “outro” uma pessoa, um grupo, a sociedade ou o mundo.
A mediação como a entendemos hoje surgiu nos Estados Unidos na década de 1970. Teve uma divulgação muito rápida devido aos bons resultados atingidos e foi incorporada ao sistema legal americano. Em vários estados a mediação passou a ser um processo obrigatório sendo exigido como uma instância prévia antes de se poder abrir um processo judicial. Esta medida foi e continua sendo importante pois, em muitos casos, evita o desgaste e a morosidade inerentes aos processos jurídicos.
No final da década de 1970 a mediação teve o seu ingresso na Inglaterra. Em 1976 foi criado o Centro de Mediação Familiar, pioneiro na atuação da esfera familiar. Uma característica deste país é que a prática da mediação está nas mãos dos assistentes sociais. Na França, a mediação começou no direito público e passou em seguida ao setor privado.
Apesar da mediação estar associada ao sistema judiciário como uma forma alternativa de resolução de conflitos, seu campo é muito mais amplo. Ela pode ser utilizada em escolas, empresas, em grupos familiares, em problemas ambientais, etc. A mediação pode atuar em todas as situações em que duas ou mais pessoas ou grupos, estejam se relacionando e vivendo situações de conflito.
A mediação familiar no Brasil teve início nos anos 90. Isso possibilitou que situações de conflito entre casais e problemas referentes à guarda de filhos pudessem ser resolvidos de forma mais rápida e eficiente.