O dia em que passei um grande constrangimento numa Multinacional

Por Dado Salem

Setembro 2020


Eu ainda não me sentia muito bem trabalhando com grupos quando fui chamado para facilitar o encontro de uma equipe numa Multinacional. A primeira coisa que fiz foi convidar um psicólogo experiente para me acompanhar.

Sabia que nessas dinâmicas poderiam surgir coisas complicadas, inesperadas, não planejadas e principalmente das quais o grupo não tem consciência. O grande trabalho é saber lidar com os conteúdos que emergem.

Era um grupo de 9 executivos de múltiplas nacionalidades, muito produtivos e eficientes, espalhados pelos 5 continentes que se encontravam apenas uma vez ao ano para confraternizar. “O grupo vai bem, não temos problema algum”, brifou a executiva que contratou o trabalho. “Realizamos um encontro anual e gostaríamos de incluir um trabalho de Team Building”. O programa precisava ser conduzido em inglês. 

Nunca gostei desse termo Team Building. Talvez pelo fato de um time ser uma coisa fechada e ver o outro como um inimigo, um adversário a ser batido. Numa organização isso pode ser perigoso, especialmente se não houver olhar para os outros interessados, stakeholders na linguagem corporativa.

Esses executivos eram compradores de um insumo fundamental para a Organização. 

Neste evento realizamos uma série dinâmicas tradicionalmente utilizadas com grupos. Numa das últimas tarefas que meu amigo psicólogo propôs, fiquei um pouco preocupado, mas por algum motivo me faltou força para falar “não”. Intui que fosse dar merda, e deu.

Um dos casos mais interessantes e surpreendentes de mediação que atendi.

Foi em 2010 numa co-mediação com uma psicanalista argentina chamada Magdalena Ramos. Magdalena é uma figura emblemática, uma das grandes mestras da Psicologia de Família. Teve que sair fugida de seu país nos anos 1970 por conta da perseguição política. Uma perda para a Argentina, mas um ganho para o Brasil. Magdalena foi responsável por criar o primeiro programa de Psicanálise de Família na PUC-SP. Esse atendimento virou um artigo chamado – Mediação: um caso clínico e foi publicado no livro A violência doméstica e a cultura da paz

Escrevemos esse artigo pensando em fazer uma introdução simples e clara sobre o tema, pois na época ainda se confundia a palavra Mediação com Meditação. Em seguida relatamos nossa experiência.



Mediação: um caso clínico

Por Magdalena Ramos e Dado Salem


Histórico da Mediação

Antigamente o mediador tinha, a importante função de ajudar a recuperar a saúde física e psíquica das pessoas, re-estabelecendo a conexão entre o indivíduo e o cosmos. Era uma espécie de ponte (pontífice) que eliminava a separação entre os homens e os deuses, e trazia consciência às pessoas. Essa relação entre religião e mediação pode ser observada em várias tradições. Na cultura judaica por exemplo, até hoje os rabinos desempenham o papel de mediadores em diversos tipos de conflitos. Moore (1998) observou a mesma conexão em culturas islâmicas, hinduístas e budistas.

Diferentes práticas e modelos de mediação surgiram pelo mundo, mas todos com o mesmo princípio: re-aproximar o indivíduo do “outro”, seja este “outro” uma pessoa, um grupo, a sociedade ou o mundo.

A mediação como a entendemos hoje surgiu nos Estados Unidos na década de 1970. Teve uma divulgação muito rápida devido aos bons resultados atingidos e foi incorporada ao sistema legal americano. Em vários estados a mediação passou a ser um processo obrigatório sendo exigido como uma instância prévia antes de se poder abrir um processo judicial. Esta medida foi e continua sendo importante pois, em muitos casos, evita o desgaste e a morosidade inerentes aos processos jurídicos.

No final da década de 1970 a mediação teve o seu ingresso na Inglaterra. Em 1976 foi criado o Centro de Mediação Familiar, pioneiro na atuação da esfera familiar. Uma característica deste país é que a prática da mediação está nas mãos dos assistentes sociais. Na França, a mediação começou no direito público e passou em seguida ao setor privado. 

Apesar da mediação estar associada ao sistema judiciário como uma forma alternativa de resolução de conflitos, seu campo é muito mais amplo. Ela pode ser utilizada em escolas, empresas, em grupos familiares, em problemas ambientais, etc. A mediação pode atuar em todas as situações em que duas ou mais pessoas ou grupos, estejam se relacionando e vivendo situações de conflito.

A mediação familiar no Brasil teve início nos anos 90. Isso possibilitou que situações de conflito entre casais e problemas referentes à guarda de filhos pudessem ser resolvidos de forma mais rápida e eficiente. 

Os perigos do líder centralizador

Repost de 2012
por Dado Salem


Sabemos que tomar uma decisão sozinho é mais fácil que em grupo. O Psicólogo José Ernesto Bologna costumava dar o seguinte exemplo: se você quiser ir ao cinema basta entrar na internet, escolher o filme e comprar o ingresso. Agora tente fazer isso num grupo de 8 pessoas. Um prefere drama, outro filme europeu, um terceiro não pode naquele horário, um quarto já assistiu o filme, e por ai vai. Essa simples tarefa pode demorar horas e provocar muita discussão. 

Mas quando falamos de decisões complexas a coisa pode ser bem diferente.

Um estudo conduzido pelo psicólogo Patrick Laughlin (*) na Universidade de Illinois nos EUA revelou que grupos conseguem resolver problemas melhor que indivíduos. Segundo ele, os resultados obtidos por um grupo trabalhando cooperativamente costumam ser melhores que o mais eficiente membro do grupo trabalhando sozinho.

É comum um líder experiente e confiante deixar de ouvir membros de seu grupo quando precisa tomar uma decisão importante. Muitos são naturalmente centralizadores e narcisistas. Outros acabam se sentindo obrigados a agir desse jeito, sob a cobrança de que são pagos para tomar decisões e resolver questões complexas, se não fosse assim acreditam que seriam dispensáveis. Essa atitude costuma ser reforçada por membros de equipes que tendem a não querer assumir responsabilidades e a confiar no chefe para resolver problemas.