O dia em que passei um grande constrangimento numa Multinacional

Por Dado Salem


Eu ainda não me sentia muito bem trabalhando com grupos quando fui chamado para facilitar o encontro de uma equipe numa Multinacional. A primeira coisa que fiz foi convidar um psicólogo experiente para me acompanhar.

Sabia que nessas dinâmicas poderiam surgir coisas complicadas, inesperadas, não planejadas e principalmente das quais o grupo não tem consciência. O grande trabalho é saber lidar com os conteúdos que emergem.

Era um grupo de 9 executivos de múltiplas nacionalidades, muito produtivos e eficientes, espalhados pelos 5 continentes que se encontravam apenas uma vez ao ano para confraternizar. “O grupo vai bem, não temos problema algum”, brifou a executiva que contratou o trabalho. “Realizamos um encontro anual e gostaríamos de incluir um trabalho de Team Building”. O programa precisava ser conduzido em inglês. 

Nunca gostei desse termo Team Building. Talvez pelo fato de um time ser uma coisa fechada e ver o outro como um inimigo, um adversário a ser batido. Numa organização isso pode ser perigoso, especialmente se não houver olhar para os outros interessados, stakeholders na linguagem corporativa.

Esses executivos eram compradores de um insumo fundamental para a Organização. 

Neste evento realizamos uma série dinâmicas tradicionalmente utilizadas com grupos. Numa das últimas tarefas que meu amigo psicólogo propôs, fiquei um pouco preocupado, mas por algum motivo me faltou força para falar “não”. Intui que fosse dar merda, e deu.

Um dos casos mais interessantes e surpreendentes de mediação que atendi.

Foi em 2010 numa co-mediação com uma psicanalista argentina chamada Magdalena Ramos. Magdalena é uma figura emblemática, uma das grandes mestras da Psicologia de Família. Teve que sair fugida de seu país nos anos 1970 por conta da perseguição política. Uma perda para a Argentina, mas um ganho para o Brasil. Magdalena foi responsável por criar o primeiro programa de Psicanálise de Família na PUC-SP. Esse atendimento virou um artigo chamado – Mediação: um caso clínico e foi publicado no livro A violência doméstica e a cultura da paz

Escrevemos esse artigo pensando em fazer uma introdução simples e clara sobre o tema, pois na época ainda se confundia a palavra Mediação com Meditação. Em seguida relatamos nossa experiência.



Mediação: um caso clínico

Por Magdalena Ramos e Dado Salem


Histórico da Mediação

Antigamente o mediador tinha, a importante função de ajudar a recuperar a saúde física e psíquica das pessoas, re-estabelecendo a conexão entre o indivíduo e o cosmos. Era uma espécie de ponte (pontífice) que eliminava a separação entre os homens e os deuses, e trazia consciência às pessoas. Essa relação entre religião e mediação pode ser observada em várias tradições. Na cultura judaica por exemplo, até hoje os rabinos desempenham o papel de mediadores em diversos tipos de conflitos. Moore (1998) observou a mesma conexão em culturas islâmicas, hinduístas e budistas.

Diferentes práticas e modelos de mediação surgiram pelo mundo, mas todos com o mesmo princípio: re-aproximar o indivíduo do “outro”, seja este “outro” uma pessoa, um grupo, a sociedade ou o mundo.

A mediação como a entendemos hoje surgiu nos Estados Unidos na década de 1970. Teve uma divulgação muito rápida devido aos bons resultados atingidos e foi incorporada ao sistema legal americano. Em vários estados a mediação passou a ser um processo obrigatório sendo exigido como uma instância prévia antes de se poder abrir um processo judicial. Esta medida foi e continua sendo importante pois, em muitos casos, evita o desgaste e a morosidade inerentes aos processos jurídicos.

No final da década de 1970 a mediação teve o seu ingresso na Inglaterra. Em 1976 foi criado o Centro de Mediação Familiar, pioneiro na atuação da esfera familiar. Uma característica deste país é que a prática da mediação está nas mãos dos assistentes sociais. Na França, a mediação começou no direito público e passou em seguida ao setor privado. 

Apesar da mediação estar associada ao sistema judiciário como uma forma alternativa de resolução de conflitos, seu campo é muito mais amplo. Ela pode ser utilizada em escolas, empresas, em grupos familiares, em problemas ambientais, etc. A mediação pode atuar em todas as situações em que duas ou mais pessoas ou grupos, estejam se relacionando e vivendo situações de conflito.

A mediação familiar no Brasil teve início nos anos 90. Isso possibilitou que situações de conflito entre casais e problemas referentes à guarda de filhos pudessem ser resolvidos de forma mais rápida e eficiente. 

Os perigos do líder centralizador

Repost de 2012
por Dado Salem



Sabemos que tomar uma decisão sozinho é mais fácil que em grupo. O Psicólogo José Ernesto Bologna costumava dar o seguinte exemplo: se você quiser ir ao cinema basta entrar na internet, escolher o filme e comprar o ingresso. Agora tente fazer isso num grupo de 8 pessoas. Um prefere drama, outro filme europeu, um terceiro não pode naquele horário, um quarto já assistiu o filme, e por ai vai. Essa simples tarefa pode demorar horas e provocar muita discussão. 

Mas quando falamos de decisões complexas a coisa pode ser bem diferente.

Um estudo conduzido pelo psicólogo Patrick Laughlin (*) na Universidade de Illinois nos EUA revelou que grupos conseguem resolver problemas melhor que indivíduos. Segundo ele, os resultados obtidos por um grupo trabalhando cooperativamente costumam ser melhores que o mais eficiente membro do grupo trabalhando sozinho.

É comum um líder experiente e confiante deixar de ouvir membros de seu grupo quando precisa tomar uma decisão importante. Muitos são naturalmente centralizadores e narcisistas. Outros acabam se sentindo obrigados a agir desse jeito, sob a cobrança de que são pagos para tomar decisões e resolver questões complexas, se não fosse assim acreditam que seriam dispensáveis. Essa atitude costuma ser reforçada por membros de equipes que tendem a não querer assumir responsabilidades e a confiar no chefe para resolver problemas.

Cicatrizes psicológicas de crises podem impactar a economia por décadas

Psychological scars of downturns could depress growth for decades
The Economist
Aug 29th 2020


A visão que temos do futuro impacta nossas atitudes que por sua vez ajudam a criar o futuro. Situações traumáticas como a Pandemia do Covid-19 deixam cicatrizes emocionais que podem ter consequências econômicas durante décadas. É a hora dos governos e ministérios da economia ampliarem suas caixas de ferramentas e atuarem mais como psicólogos.




For the past 40 or so years, economists, central bankers and other eminences have gathered against the imposing backdrop of Wyoming’s Teton mountains every August, in order to chew over the great monetary challenges of the day. Not this year. As The Economist went to press the proceedings of the Jackson Hole symposium, organised by the Federal Reserve Bank of Kansas City, were unfolding online, thanks to covid-19. Those tuning in are all too aware of the economic damage wrought by the pandemic. But the headaches are only beginning. As one of the papers due to be presented at the conference explains, covid-19 is likely to reshape people’s beliefs about the world in ways that will complicate the already daunting task of restoring beleaguered economies to health.

The notion that a severe economic shock might do long-run damage is not new. Since the Depression macroeconomists have understood that deep downturns might tip an economy into a “liquidity trap”, in which interest rates fall to zero and monetary policy cannot easily provide a stimulating kick. Without a powerful dose of fiscal stimulus, the economy stays mired in a slump. Or a brutal recession may lead to “hysteresis” in the labour market, causing, say, a lasting increase in the unemployment rate. People out of work for long spells may become so disconnected from the labour market, as their skills and motivation erode, that even when demand recovers they struggle to find jobs. (In the 1980s Olivier Blanchard of the Massachusetts Institute of Technology and Lawrence Summers of Harvard University argued that this explained why unemployment was much higher in Europe than in America.) Both sorts of scarring could restrain economies as they leave the shadow of the pandemic.

Yet research also suggests that traumatic economic episodes can exert a drag on growth simply by altering people’s beliefs about the future. For example, Ulrike Malmendier of the University of California, Berkeley, and Leslie Sheng Shen of the Federal Reserve studied consumption patterns in the aftermath of downturns and find that periods of economic hardship and spells of unemployment tend to depress people’s consumption for some time, even after controlling for income and other variables. Consumers not only spend less but tend to opt for lower-quality or discounted items. Young people are especially affected, potentially prolonging the dampening effect on the economy. Pandemics unquestionably count as potentially scarring economic traumas. In one recent study of 19 of them, going back to the 14th century, Òscar Jordà, Sanjay Singh and Alan Taylor of the University of California, Davis, conclude that such outbreaks depress real rates of return for decades. They find that rates decline, on average, for about 20 years, and do not return to their previous level for 40 years. This effect, they speculate, could reflect the human toll exacted by past pandemics, which shrank the workforce and reduced the return on new capital investment. But they also reckon that an increase in saving by wary households could have a depressing effect.