Chile reescreve sua constituição de olho nas mudanças climáticas

Chile Rewrites Its Constitution, Confronting Climate Change Head On

Por Somini Sengupta

NY Times

Dezembro 2021



Depois de eleger um presidente de 35 anos de idade, o Chile se prepara para reescrever sua constituição. Desta vez de olho nos impactos ambientais das mineradoras, a base da sua economia. O Chile é o segundo maior produtor de lítio, utilizado nas baterias de celulares e automóveis elétricos. No entanto, a extração desse minério causa grande impacto no ecossistema do deserto do Atacama. Como a mineração deve ser regulamentada e que voz as comunidades locais devem ter sobre a mineração? A natureza deve ter direitos? E quanto às gerações futuras? Essas são as questões sistêmicas que enfrentaremos daqui em diante. Sua empresa está preparada para o futuro que se apresenta?





Caráter é destino?

O caráter, modo se ser e agir de uma pessoa, é um assunto de grandes discussões e foi tema de reflexão do escritor Salman Rushdie ao falar sobre a construção de seus personagens.




Talvez toda a arte do romance seja baseada em algo dito pelo filósofo grego Heráclito há milênios: "o caráter do homem é o seu destino". Caráter é destino. Ele afirmou que o tipo de pessoa que você é determina o tipo de vida que você terá. Toda a arte do romance vem dessa ideia. 

Mas o que acontece quando seu caráter não é seu destino? O que acontece quando uma bomba é o seu destino? Quando o colapso econômico é o seu destino? O que acontece quando o tipo de pessoa que você é não determina a vida que você tem? Quando essas coisas aleatórias, que são exteriores à sua vida, entram para determinar e definir sua vida? Esta é uma questão, eu acho que muitos escritores agora refletem a respeito e sentem a necessidade de encontrar respostas. 

Eu quero dizer para mim mesmo quando eu escrevi meu romance Shalimar o Palhaço, estava lidando em parte ou grande parte com o fenômeno da ascensão do radicalismo islâmico. O romance se passa na Caxemira, onde o conflito entre o Estado Indiano e a Jihad se tornou extremo, por razões pelas quais se poderia em grande parte culpar o Estado Indiano. Mas eu queria entender, o que faz um jovem pegar uma arma ou uma bomba? O que torna um jovem perfeitamente normal, se transformar num assassino?

Milionários do tempo. Um novo jeito de trabalhar

Time millionaires: meet the people pursuing the pleasure of leisure
por Sirin Kale
The Guardian
Outubro/21

A Pandemia nos fez mudar hábitos e refletir sobre nossas prioridades. Algumas pessoas estão preferindo levar uma vida mais simples e gratificante. "Milionários do Tempo" são pessoas desse tipo. As mudanças coletivas começam assim, um pequeno grupo começa a fazer uma coisa diferente da maioria, aos poucos outros adeptos vão se somando. Se o grupo cresce a um determinado ponto, o novo estilo de vida se torna padrão e o outro, ultrapassado. Esse pode ser o início de uma mudança cultural de longo prazo. Adotei esse estilo de vida há uns 20 anos e garanto que vale a pena.





In every job he has ever had, Gavin has shirked. When he worked in a call centre, he would mute the phone, rather than answer it. When he worked in a pub, he would sneak out of the building and go to another pub nearby, for a pint. His best-ever job was as a civil servant. He would take an hour for breakfast, and two for lunch. No one ever said anything. All his colleagues were at it, too.

When the pandemic began, Gavin, now working as a software engineer, realised, to his inexhaustible joy, that he could get away with doing less work than he had ever dreamed of, from the comfort of his home. He would start at 8.30am and clock off about 11am. To stop his laptop from going into sleep mode – lest his employers check it for activity – Gavin played a 10-hour YouTube video of a black screen.

One might reasonably describe Gavin (not his real name) as a deadbeat. In economic terms, he is a unit of negative output. In moral terms, he is to be despised; there are antonyms for the word “grafter”, and none of them are good. In religious terms – well, few gods would smile on such indolence. But that is not how Gavin views things. “I work to pay my bills and keep a roof over my head,” he says. “I don’t see any value or purpose in work. Zero. None whatsoever.”

Gavin’s job is an unfortunate expediency that facilitates his enjoyment of the one thing that does matter to him in life: his time. “Life is short,” Gavin tells me. “I want to enjoy the time I have. We are not here for a long time. We are here for a good time.” And for now, Gavin is living the good life. He’s a time millionaire. “I am delighted,” Gavin tells me. “I could not be happier.” He is practically singing.

And his boss? “My boss is happy with the work I’m doing,” he says. “Or more accurately, the work he thinks I’m doing.”

Por que cada vez há menos pessoas dispostas a ceder aos excessos da vida profissional

por María Sanchéz Sanchéz
El País
Novembro 2021






Embora ainda seja cedo para abordar de forma categórica o rombo que a pandemia nos deixou, há algumas transformações que parecem estar ganhando forma. Elas têm a ver com o trabalho, com a reinvenção da maneira como nos organizamos e com uma constatação feita por milhões de pessoas: que outra vida profissional —mais generosa com nossa saúde física e mental— é possível.

“Vi que outra forma de trabalhar é possível e já não quero voltar a como era antes”, diz Lourdes Díaz, funcionária de uma empresa de tecnologia. “Cheguei a fazer jornadas de 10 e 11 horas no escritório, mas já não estou disposta a viver pelo —e para— o trabalho. Além disso, no meu caso, a necessidade de trabalhar de forma remota mostrou que posso realizar as tarefas e conjugar muito melhor essas obrigações com o âmbito pessoal. Agora tenho mais tempo para mim, desfruto e noto que não estou tão estressada com tudo.”

No entanto, esse burburinho nas conversas com amigos e colegas de trabalho ocorre paralelamente à percepção de muitas empresas, que defendem um “retorno à normalidade”. Um enfoque convencional que deixa trabalhadores frustrados e deprimidos pela insistência na modalidade presencial ou, no caso dos mais privilegiados, reflete-se num êxodo rumo a firmas que oferecem maior flexibilidade. Recentemente, por exemplo, as ofertas em que aparece a palavra “teletrabalho” aumentaram 214% na Espanha.

Como atravessar um deserto

Por Dado Salem
Setembro 2021

                 
                                   Pastoras da aldeia de Al Tarfa, Egito. National Geographic
                                


Parece que não há mais dúvidas de que as coisas devem piorar muito antes de começarem a melhorar. As notícias que chegam é que as mudanças climáticas são irreversíveis e a catástrofe, inevitável. 

Elizabeth Kolbert, jornalista da revista The New Yorker e vencedora do prêmio Pulitzer pelo livro A Sexta Extinção, relata que o mundo passou por cinco extinções em massa, sendo a mais famosa a que aconteceu há 65 milhões de anos quando um asteroide colidiu com o planeta e eliminou os dinossauros, entre uma série de outros animais. Atualmente, os cientistas vêm monitorando uma sexta extinção, que pode ser a mais devastadora da história, só que dessa vez a causa é o nosso estilo de vida insustentável.

O grande desafio é que mesmo se parássemos com 100% das emissões de gases de efeito estufa e passássemos a plantar florestas de forma eficiente e sistemática, os resultados práticos não apareceriam antes de algumas décadas. Esse delay entre ação e a reação do ecossistema, favorece os argumentos de políticos populistas e negacionistas fervorosos, como “provas” de que essas atitudes não trazem benefício algum, o que tenderia a fazer com que continuemos a cavar o abismo onde estamos caindo. O mais assustador é que a maioria de nós vivenciará esse colapso, porque ele já começou.

Esses dias acordei pensando nisso e num exercício de futurismo, imaginei como é viver a situação dolorosa de uma catástrofe. Apesar de não substituir a experiência, saber o que as pessoas fazem para sair dessas situações é no mínimo instrutivo. Lembrei dos Krenak, povo que continua vivendo na margem esquerda do Rio Doce, anos depois da tragédia do rompimento da barragem da Vale e não aceita sair daquele lugar. 

Ailton Krenak, possivelmente um dos mais conscientes líderes brasileiros, associa o desastre a um deserto: “Estamos dentro do desastre, ninguém precisa vir tirar a gente daqui, vamos atravessar o deserto, temos que atravessar. Ou toda vez que você vê um deserto você sai correndo? Quando aparecer um deserto, o atravesse”, diz.

A era em que podíamos cultuar o supérfluo está terminando

por José Eduardo Agualusa
O Globo
Setembro 2021

Precisamos retornar ao essencial



Durante a guerra civil em Angola, nas cidades mais atingidas pelos confrontos, conheci pessoas que dormiam com os sapatos calçados e uma pequena mochila a servir de travesseiro. Guardavam na mochila tudo o que para elas era essencial, caso tivessem de fugir de repente.

Se alguma coisa nos ensinam estes dias estranhos, perigosos e voláteis, é que chegou o momento de colocar numa mochila aquilo que considerarmos essencial. Não porque precisemos fugir — na verdade, não temos para onde fugir —, mas porque a era em que podíamos cultuar o supérfluo, o ruído e o desperdício, está terminando. Precisamos retornar ao essencial.

Mas o que é essencial? Para uns pode ser uma garrafa de bom vinho do Porto, para outros um livro, as fotografias da infância, um console de videogame, uns tênis de marca, ou um anel de prata. O essencial de uns é o supérfluo de outros.

Volto ao brevíssimo período em que fiz reportagem de guerra em Angola. Certa manhã, vi um velho camponês carregando um colchão à cabeça. Lembro-me de ter comentado, em tom de troça, com outro jornalista: “Eis alguém que valoriza a preguiça”. Voltei a ver o velho ao entardecer, carregando a mulher no colchão. Envergonhado, atormentado pelos remorsos, fui falar com ele. “Só o colchão me pesa”, disse-me o homem com um sorriso tímido. Pesava-lhe mais quando não a carregava. A mulher tirava peso do colchão. É que o amor não pesa — liberta-nos do peso das coisas.

Os 4 estágios daqueles que acham que o futuro será uma reprodução do presente

No primeiro estágio dizemos que nada vai acontecer. No segundo estágio dizemos que algo pode acontecer, mas não devemos fazer nada a respeito. No estágio três dizemos que deveríamos fazer algo a respeito, mas não há nada que podemos fazer. No estágio quatro dizemos que deveríamos ter feito algo, mas é tarde demais.

Sobre a boa vida

por Dado Salem
Setembro 2021



O que é uma vida boa? Como usar bem o tempo que tenho para viver? Quais são as coisas que preciso buscar porque são fundamentais e quais outras são secundárias ou até mesmo desnecessárias? Este questionamento existe desde os primórdios da filosofia numa discussão que frequentemente girou em torno dos conceitos de Eudaimônia e Hedonia

Na Hedonia, a felicidade e o bem-estar são obtidos por meio dos prazeres, por desfrutar as coisas boas da vida e procurar evitar a dor, os desconfortos e sofrimentos. Segundo essa visão, somos movidos pela busca de objetos de desejo, alguns naturais e necessários como casa, comida, roupas, proteção, afeto… e outros desnecessários, como luxos de todos os tipos, riqueza, glamour, cargos, poder, honras, etc.

Eudaimônia, frequentemente traduzida como felicidade, seria mais corretamente definida como florescer, pois, significa literalmente o desenvolvimento pleno do daimon, o espírito que nos habita. Equivalente ao design, que contêm um projeto, um esquema em mente, um desígnio, um propósito. Eudaimônia é cumprir seu papel no mundo, o que requer um profundo autoconhecimento. Neste caso, embora as experiências de prazer sejam fortemente positivas, não seriam um objetivo a ser buscado, mas sim um subproduto da expressão dos nossos potenciais, do melhor que existe em nós colocado a serviço da sociedade.

Com vinte e poucos anos, um tempo depois de ter saído da casa dos meus pais, comecei a me questionar que vida deveria levar. Aos poucos fui percebendo que algumas coisas que considerava importantes como, morar num bairro nobre, viajar nas férias para lugares paradisíacos, jantar em bons restaurantes, ter uma família perfeita como num comercial de margarina, trocar de carro a cada 2 ou 3 anos, ter um plano de saúde com acesso aos melhores hospitais, ou seja, viver um padrão de vida elevado, e ainda, ter distinção na sociedade, ser admirado, ter sucesso… eram na verdade parte de um modelo que eu havia aprendido a valorizar. Aprendi isso com a minha família, com meus amigos e amigas, com a nossa cultura, com a publicidade... 

Esse sistema de valores culturais, essencialmente hedonistas, na maior parte das vezes costuma dirigir nossos desejos, influenciar nossos pensamentos e definir nossas escolhas. É difícil ficar fora ou ir contra essas regras sociais explícitas ou implícitas. Aquele que transgride, que se desvia, que sai do padrão, que não segue o pensamento convencional, tende a se sentir um estrangeiro na sua própria casa e muitas vezes é criticado e atacado. Não foi diferente comigo.

Só se vive uma vez

Welcome to the YOLO Economy
por Kevin Roose
NY Times
publicado em abril, 2021


Esgotados e com dinheiro no bolso, alguns profissionais estão deixando empregos estáveis ​​em busca de aventuras pós-pandêmicas, ou pensando em largar o trabalho caso seus chefes não os permitam trabalhar quando e de onde quiserem.





Something strange is happening to the exhausted, type-A millennial workers of America. After a year spent hunched over their MacBooks, enduring back-to-back Zooms in between sourdough loaves and Peloton rides, they are flipping the carefully arranged chessboards of their lives and deciding to risk it all.

Some are abandoning cushy and stable jobs to start a new business, turn a side hustle into a full-time gig or finally work on that screenplay. Others are scoffing at their bosses’ return-to-office mandates and threatening to quit unless they’re allowed to work wherever and whenever they want.

They are emboldened by rising vaccination rates and a recovering job market. Their bank accounts, fattened by a year of stay-at-home savings and soaring asset prices, have increased their risk appetites. And while some of them are just changing jobs, others are stepping off the career treadmill altogether.

If this movement has a rallying cry, it’s “YOLO” — “you only live once,” an acronym popularized by the rapper Drake a decade ago and deployed by cheerful risk-takers ever since. The term is a meme among stock traders on Reddit, who use it when making irresponsible bets that sometimes pay off anyway. (This year’s GameStop trade was the archetypal YOLO.) More broadly, it has come to characterize the attitude that has captured a certain type of bored office worker in recent months.

Pandemia provoca revolução doméstica e cria hábitos que vieram para ficar

por Carolina Giovanelli
O Globo
Agosto 2021



Lá para o final de março do ano passado, boa parte do Brasil se viu recluso em casa por causa de um vírus recém-chegado ao país. Para quem estava acostumado a uma vida agitada, com deslocamentos rotineiros, a quebra de rotina — carregada pelo medo da pandemia — causou um choque. Aqueles que puderam se beneficiar do isolamento enfrentaram questões que partiram do tédio (já arrumei todos os meus armários, e agora?), passando pela solidão (tenho saudades dos meus amigos, e agora?) até chegar às dúvidas existenciais (acho que estou com depressão, e agora?). Depois de muitos divórcios, videochamadas, novos hobbies, sessões de terapia e uma crise sanitária que dura muito mais do que o esperado, as coisas foram se assentando. O que era compulsório ganhou tons voluntários. Parte da turma que torcia o nariz para um modo de vida mais caseiro acabou se acostumando: redescobriu o valor do lar e pretende seguir na toada doméstica.

A casa virou um palco onde os conflitos aparecem com mais frequência, pois não foi possível adiar as soluções de algumas questões internas, analisa o terapeuta Arnaldo Cheixas.

No começo fiquei meio doida, o dia todo em casa, lidar com a família, mas agora estou mais tranquila — diz a artista visual Gabrieli Gama.

Ela deixou a criatividade aflorar. Começou a fazer cliques de si mesma para treinar a fotografia, a praticar exercícios aeróbicos com vídeos no YouTube e a assar pães, este um clássico pandêmico. “Fico uns 15 minutos sovando a massa, desestressando.”

Passar a preparar a própria comida foi um dos hábitos adquiridos nesse período de transformações drásticas que vieram para ficar. O bibliotecário carioca João Marco Luz, de 29 anos, se considera um “crítico” de feijão, mas dos outros, porque nunca havia tido coragem de usar a panela de pressão para preparar o prato. Com o contrato de trabalho suspenso, João, que sabia “no máximo fazer um macarrão”, aproveitou o tempo livre para se aventurar na cozinha. O feijão saiu saboroso. Depois, o rapaz se arriscou na picanha na cerveja, no peixe de forno...

Os Poetas e a Leitura da Realidade

por Dado Salem


“Só é poeta o homem que possui a faculdade de ver os seres espirituais que vivem e brincam em torno dele.” Nietzsche


                                          vista da cabana de Wittgenstein em Skjolden, Noroega

O estudo comparado de mitos indica que houve, logo após a pré-história, uma visão ética comum em toda a humanidade: O ser humano era considerado um microcosmo e deveria viver em harmonia com o macrocosmo.

 

A consciência dava ao ser humano a possibilidade de perceber a beleza da natureza e do sistema em que estava inserido. Tudo era uma coisa só, tudo estava interconectado. Nada escapava à imensa rede da vida, da qual o homem era apenas um fio. Tudo o que fizesse a esse tecido faria a si mesmo. A consciência diferenciava o homem dos outros seres, mas também dava a ele uma missão: ser o mantenedor, o guardião disso para as gerações seguintes. O ser humano não era dono da terra, ele fazia parte dela, não devia portanto explorar ou mandar na natureza, mas sim respeitá-la, reverenciá-la, aprender com ela para viver bem e em harmonia com os outros seres. O canto e a dança faziam parte do banquete que os homens ofereciam aos deuses para celebrarem a vida, que era considerada uma dádiva.

 

No entanto, o poder da consciência também nos oferecia a possibilidade de agirmos como substitutos de Deus ou, de viver de acordo com nossos interesses específicos e particulares. Essa pretensão era considerada em muitas tradições como a decadência do homem, pois isso significaria uma desarmonia do equilíbrio cósmico, um rompimento com as potências que regem o Universo e a nós mesmos, representadas pelas divindades e arquétipos.

 

No Egito antigo, no Oriente, nas tribos africanas e em todos povos e civilizações pré-Colombianas, os líderes eram seres humanos com uma cosmovisão, uma consciência superior que lhes dava a capacidade de ler e interpretar a ordem que agia como “pano de fundo” da vida. A função deles era transmitir essa visão de mundo para a sociedade e procurar fazer com que todos vivessem de acordo com essas Leis não escritas porque, tudo o que prosperava ou fracassava estava ligado à obediência ou infração delas. Sem essa cosmovisão as coisas tendiam a não ir tão bem. 

Vida Simples


Por volta dos 30 anos de idade optei por uma vida simples, tranquila e saudável, viver com o essencial e dedicar meu tempo a fazer as coisas que me pareciam significativas. As vilas operárias surgiram como locais ideais para morar nos grandes centros. Elas tem as vantagens de uma casa mas não as desvantagens. Há uma vida comunitária natural e genuína, um espírito inclusivo, diferente dos condomínios fortificados e exclusivos.

Esta casa compramos em 2005 no bairro do Horto no Rio de Janeiro, em frente ao Jardim Botânico. Na época era uma região desvalorizada, utilizada como cenário para filmar os núcleos pobres de novelas. Hoje é um dos locais mais valorizados da cidade, pois está dentro e ao mesmo tempo fora da agitação dela. Francisco aprendeu a andar de bicicleta e jogar futebol na rua. 

Este vídeo retrata um pouco esse estilo de vida.  





 

O Cuidado de Si – A Hermenêutica do Sujeito

Por Dado Salem
Julho 2021


O cuidado de si, a arte de viver uma vida significativa, foi tema de um ciclo de palestras de Michael Foucault em Paris em 1982.



Se um gênio aparecesse agora na minha frente e oferecesse a possibilidade de fazer uma viagem no tempo, eu escolheria ir para quarta-feira, dia 6 de janeiro de 1982 em Paris e ficar por lá até 24 de março. Foi quando aconteceram as 12 conferências de Michel Foucault no College de France chamadas Hermenêutica do Sujeito.

Como parte de seu contrato com esta instituição, Foucault tinha que apresentar todos os anos o resultado de seus estudos por meio de 26 horas de aulas abertas. Num anfiteatro para 300 pessoas, se amontoavam cerca de 500 estudantes, professores, curiosos e pesquisadores, que vinham de vários países para ouvir o filósofo. Ao entrar na sala, Foucault, como um acrobata, precisava saltar por cima das pessoas para chegar à mesa, onde ainda teria que abrir espaço entre dezenas de gravadores dos estudantes, para ajeitar suas coisas e organizar seus papéis. Foucault reclamava da situação e da pouca possibilidade de troca com a plateia por conta do formato estabelecido para a conferência. 

O que ele apresentava nessas palestras era um esboço do que depois seria transformado em livro. Neste caso, o conteúdo foi resumido num capítulo do livro O cuidado de si.

Por trás do título enigmático Hermenêutica do Sujeito, Foucault abordou um tema fundamental na antiguidade clássica: o autoconhecimento, traduzido pela famosa frase "conhece a ti mesmo". O filósofo se concentrou principalmente nas práticas que uma pessoa deveria adotar no seu cotidiano para atingir esse objetivo e desenvolver seus potenciais.

Maestria - a arte de se tornar ninguém

por Dado Salem
Junho 2021

Tenho o hábito de escrever para mim mesmo coisas que acho importante lembrar. Releio com alguma frequência para não esquecer. Esse texto escrevi pensando no meu trabalho como facilitador de diálogos e orientador de carreiras. Compartilho porque acho que pode ser útil. 



A maestria é fruto de um longo caminho, uma busca eterna e não é aprendida facilmente.

Há que se render, se entregar ao ofício como um artesão. Se seu objetivo for ganhar dinheiro, então não trilhe este caminho. Existem opções mais lucrativas. Mas se quiser buscar a maestria, aprenda a ter uma vida simples.

É preciso acalmar a mente, deixar de lado os medos e o desejo de sucesso. Uma mente inquieta impede o estado de espírito necessário. Deixe os pensamentos e sentimentos aflorarem, não os reprima, apenas os observe.

Observe e ouça atentamente os seus mestres. Se concentre em fazer bem feito, na vontade de sempre estudar e aprender. Se concentre também na perseverança, porque a jornada é longa, árdua e não faltarão ocasiões para você desistir. Muitos abandonam no meio do caminho. Nem todos têm a disciplina e a força de caráter necessárias para continuar.

O vira-latas e a revolução da Sociedade em Rede

Por Dado Salem
Junho 2021



O vira-latas é o canivete suiço dos cachorros, pau pra toda obra, jack of all trades como dizem os norte-americanos. Criados na natureza urbana, são os lobos do asfalto. De fome não morrem. Sua natureza versátil, múltipla, os faz saber exatamente onde encontrar o que precisam e se reproduzem a valer. A adaptabilidade os torna capazes de sobreviver em realidades distintas.

Em contrapartida, os cães de raça – especialistas em determinadas funções – costumam ser caros, dependentes e ter saúde mais frágil. Isso significa que, se forem tirados de seu ambiente protegido e previsível, se não recuperam sua natureza essencial, é improvável que sobrevivam.

Na transição da Sociedade Industrial, estável e conhecida, para o mundo incerto e cambiante da Sociedade em Rede, diplomas e especializações têm a mesma utilidade que um pedigree para um cão de raça que foi abandonado pelo seu dono e posto na rua.

Na Sociedade em Rede estamos sempre em contato com coisas que não temos domínio. Quando nos apropriamos de um ambiente e achamos que estamos no controle, é justamente quando não podemos relaxar, porque o que é tendência agora, amanhã já está velho. Não há garantia de que o que está funcionando continuará. São várias redes com linguagens diferentes que estão aparecendo… e morrendo. É tudo muito rápido, instável, volátil. A cada dia há uma oportunidade diferente ou nova. 

Escrevendo um currículo

Já escrevi uma centena de currículos com meus clientes. Uma das maiores dificuldades é a linguagem corporativa. Ela consegue tirar toda riqueza e personalidade de um indivíduo, aquilo que o torna quem é. O achatamento do caráter numa folha de papel. Nada mais duro, frio e sem vida que um currículo. É uma pena que essa característica ultrapassada da Sociedade Industrial, que procura encaixotar as pessoas, ainda perdure nas empresas e até mesmo naquelas que se dizem inovadoras. Funciona bem para descrever máquinas, não pessoas.  

A poetisa e ensaísta polonesa Wislawa Szymborska, vencedora do prêmio Nobel de Literatura, captou isso bem no poema que chamou de Escrevendo um currículo.




Escrevendo um currículo
Por Wislawa Szymborska


O que precisa ser feito?
Preencher a ficha de inscrição
e anexar um currículo.

Mesmo que a vida seja longa
o currículo tem que ser curto.

Obrigatória a concisão e seleção dos fatos.
As paisagens são substituídas por endereços,
memórias trêmulas dão lugar a datas inabaláveis.

De todos os seus amores mencione apenas o casamento,
de todos os seus filhos, apenas aqueles que nasceram.

Quem conhece você conta mais do que quem você conhece.
Viagens somente se forem feitas no exterior.
Associações em quê, mas sem por quê.
Honras, mas não como foram conquistadas.

Os 4 atos das Pandemias

Por Dado Salem
Abril 2021



Segundo o historiador da medicina Charles Rosenberg*, epidemias costumam ter quatro Atos, como numa peça de teatro.

No primeiro Ato, que ele chamou de Revelação Progressiva, empresários, comerciantes, politicos e a população em geral relutam em reconhecer a situação por conta da ameaça aos seus interesses e do modo de vida que não gostariam de mudar. O reconhecimento, embora relutante, acaba vindo gradualmente por conta das doenças e do número inegável de mortos. 

O segundo Ato ele nomeou de Gerenciando a Aleatoridade. Trata-se da busca de um acordo coletivo para gerenciar a realidade desanimadora da epidemia. O objetivo é identificar fatores de risco e mudar o comportamento, o estilo de vida. Trata-se de construir uma base lógica para enfrentar o problema. Fechamos o comércio? Deixamos abertas as igrejas? O que fazer com as escolas? Tornamos obrigatório o uso de mascaras? O que dizem os especialistas? Quais são os métodos eficazes de combate à doença? 

O maior erro da história da humanidade

The Worst Mistake in the History of the Human Race
por Jared Diamond
Discover Magazine
1999


O discurso científico dominante diz que evoluímos de uma vida selvagem e bárbara numa natureza hostil, até atingirmos a civilização. 

Mas se ouvirmos os poucos grupos que ainda vivem como caçadores coletores eles nos dizem que nunca existiu a idéia de lugar selvagem na natureza, que a natureza não é perigosa, mas hospitaleira e não é ameaçadora, mas amistosa. E pelo contrário, como uma grande mãe, ela oferece tudo o que precisamos. 

Na passagem da Sociedade Tribal para Sociedade Agrícola o ser humano deixou de pertencer à Terra e a terra passou a pertencer ao ser humano. Essa foi uma das maiores mudanças culturais da nossa história. Textos antigos retratam esse acontecimento como a Queda do Paraíso, quando começamos a ter que trabalhar e tirar o sustento do suor do nosso próprio rosto. 

Jared Diamond, geografo, antropólogo, historiador, ornitólogo e professor da UCLA escreveu esse artigo provocador trazendo evidências de que abandonar o estilo de vida tribal foi um grande divisor de águas e talvez o maior erro da humanidade. 




To science we owe dramatic changes in our smug self-image. Astronomy taught us that our earth isn't the center of the universe but merely one of billions of heavenly bodies. From biology we learned that we weren't specially created by God but evolved along with millions of other species. Now archaeology is demolishing another sacred belief: that human history over the past million years has been a long tale of progress. In particular, recent discoveries suggest that the adoption of agriculture, supposedly our most decisive step toward a better life, was in many ways a catastrophe from which we have never recovered. With agriculture came the gross social and sexual inequality, the disease and despotism, that curse our existence. At first, the evidence against this revisionist interpretation will strike twentieth century Americans as irrefutable. We're better off in almost every respect than people of the Middle Ages, who in turn had it easier than cavemen, who in turn were better off than apes. Just count our advantages. We enjoy the most abundant and varied foods, the best tools and material goods, some of the longest and healthiest lives, in history. Most of us are safe from starvation and predators. We get our energy from oil and machines, not from our sweat. What neo-Luddite among us would trade his life for that of a medieval peasant, a caveman, or an ape?

Home office e a globalização do trabalho

Por Simon Kuper
Financial Times
Março 2021


“Se você pode fazer seu trabalho de qualquer lugar, alguém de qualquer lugar pode fazer seu trabalho.”



A Canadian I know has just started work at a bank in the US. He won’t have to move: he’ll work from home in Toronto and keep paying Canadian taxes. He will earn less than he would in the US, but more than in Canada.

An entrepreneur I know in Paris is recruiting staff in the same spirit. After the pandemic hit, he closed his office and laid off many employees. Now he hires graphic designers in South Africa instead of Paris, getting more experienced people at half the price. He won’t go back to recruiting Parisians.


There has been endless talk of remote workers moving from New York or London to Florida or Sussex. In fact, something more radical is happening: high-skilled jobs are being offshored out of superstar cities to the rest of the world. Like so many changes in this pandemic, what began as an emergency response may solidify into permanence.


The trend towards global remote work predated Covid-19, especially in tech. Companies in Silicon Valley and New York, looking for cheap top-class talent, created teams of developers in India and, later, in Latin America. Then, when the virus prompted mass homeworking, people in all sorts of highly paid professions seized the opportunity to offshore themselves. Again, the effect was probably strongest in tech, where most jobs can be done remotely and the workforce is global: about 71 per cent of tech employees in Silicon Valley were foreign-born, calculated The Seattle Times in 2018.


Australians, New Zealanders and Irish people were among those who brought their jobs home in the pandemic. Countries from Barbados to Estonia created visas to lure remote workers.

A trágica correlação entre conflitos e desastres

Por Dado Salem
Março 2021

No momento em que estamos vivendo o pico da Pandemia no Brasil, vendo que poderíamos ter evitado essa situação mas que o conflito político impediu uma ação coordenada dos governos, multiplicando exponencialmente o número de mortos, fico preocupado com nosso futuro diante das mudanças climáticas que virão.  



Desastres não são decorrentes de acidentes naturais.

Todos os anos vemos acontecer terremotos, furacões, secas, incêndios, vulcões, tsunamis, enchentes, etc. Mas esses eventos naturais, por mais terriveis que sejam, não costumam causar desastres.

Desastres são eventos calamitosos que causam uma ruptura no funcionamento de uma sociedade gerando graves perdas humanas, econômicas, ambientais, etc. e que excedem a capacidade da comunidade resolver sozinha, precisando recorrer ao auxílio externo. A explosão no porto do Líbano é um exemplo, o rompimento da barragem de Mariana é outro recente no Brasil.   

Em geral, quando há um plano de mitigação de riscos, os impactos de acidentes naturais tendem a ser minimizados. Esses eventos só se tornam desastres quando pessoas e o ambiente estão expostas a riscos e os organismos responsáveis e governos negligenciam ou não agem coordenadamente. Aí o resultado tende a ser devastador, multiplicando o número de mortos e gerando graves consequências sociais, econômicas e ambientais. Ou seja, embora muitas vezes desastres tenham causas naturais, eles são resultado da ação humana, ou da sua inação*.

Conflitos políticos são causadores de desastres.

Conflitos acontecem quando dois ou mais grupos não se escutam, não encontram uma maneira construtiva de resolver suas diferenças e atuam no intuito de prejudicar o outro para atingir seus objetivos.

Num país políticamente estável é mais provável que se encontre pacificamente maneiras de resolver problemas e mitigar riscos de acidentes naturais. No entanto, num país onde há conflitos políticos deflagrados e se coloca interesses pessoais e partidários acima do interesse comum, uma ação coordenada é práticamente impossível, o que aumenta muito a probabilidade de ocorrerem desastres. 

Estudar o passado para construir o futuro

Our Gutenberg Moment
Por Marina Gorbis
Stanford Social Innovation Review

Estamos vivendo uma época de tantas transformações que muitas vezes nos sentimos desorientados. Alguns sábios da antiguidade diziam que a história se repete. Aqui vai um exemplo atual de como estudar os acontecimentos do passado pode ajudar a entender para onde estamos indo e mesmo influenciar o futuro. Marina Gorbis, presidente do Institute for the Future, organização sediada em Palo Alto e que presta serviços para muitas empresas no Vale do Silício, escreveu esse interessante artigo que merece ser lido com atenção.





Futurists often have to imagine things that seem impossible today. This is why we have to be as much historians as future thinkers. People are naturally predisposed to think about the future as an extension of today. We tend to assume that many established ways of being and doing are immutable—that they are a part of the natural order of things. It is difficult today, for example, to see how one might live without having a job. It is hard to imagine an alternative economic system beyond capitalism or communism.

Immersing oneself in the past widens the repertoire of what we might consider possible. When we read history, we discover that wage employment—the idea that our labor is a commodity we can sell to others—is a relatively recent concept (about 300 years old). We learn that throughout the span of our human existence, societies and communities have developed many different systems of gifting, transacting, and trading that did not fall into traditional communism-capitalism dichotomy.

In light of today’s spread of “fake news” and debates about post-truth society, I’ve been re-reading the history of the printing press, Johannes Gutenberg’s invention dating back to the mid-1400’s. Probably the most exhaustive exploration of the subject is in Elizabeth Eisenstein's two-volume book The Printing Press as an Agent of Change. In her writings, Eisenstein refers to the “Unacknowledged Revolution” that followed Gutenberg’s invention, which encompassed not only the Protestant Reformation, but also the Renaissance and the Scientific Revolution. Print media allowed the general public to access ideas and information not previously available to them. This in turn led to the growth of public knowledge, and enabled individuals to formulate and share their own thoughts, independent from the church. Hence, new, non-church authorities and influences grew, and the arts and sciences flourished.

Todo futuro tem mau passado

por José Eduardo Agualusa
O Globo 
Fev/2021



Imaginemos que em 1696, poucos meses antes de morrer, o poeta Gregório de Matos tivesse publicado um romance de antecipação política, cuja ação decorresse no início do século XXI. Nesse livro, Matos imaginaria um mundo no qual a escravatura tivesse sido completamente abolida. A compra e venda de pessoas seria ilegal em todos os países. Os habitantes desse tempo futuro olhariam com intenso horror para o passado, aquele distante século XVII, no qual por toda a parte se comerciava gente.

Como é que um livro assim teria sido acolhido pela sociedade da época?

Provavelmente com troça. Eventualmente com susto e incompreensão. Alguns olhariam Gregório com desdém, como se olham os muito ingênuos e os sonhadores ociosos. O poder político acusaria o poeta de pretender subverter a ordem estabelecida. A Santa Inquisição iria acusá-lo de heresia ao sugerir imperfeições morais na Bíblia e nos ensinamentos do senhor Jesus Cristo, que recomendava aos senhores tratar os escravos com respeito e dignidade, mas em nenhum momento foi capaz de compreender que o tal respeito e dignidade só se alcançariam com a abolição completa do sistema escravocrata.

Um exercício como este pode ser útil nos momentos amargos, quando, face a uma nova atrocidade, tendemos a duvidar da evolução moral da sociedade no seu conjunto. Vale também sempre que nos deixamos cair na tentação de julgar personalidades de épocas passadas segundo os valores do presente. É fácil esquecer que o passado já foi futuro. Pensando bem: todo futuro tem mau passado.

São inúmeros os romances de ficção científica que foram capazes de prever avanços tecnológicos, das viagens à Lua à invenção dos robôs, passando pela criação de centrais de energia solar e até de algo semelhante à internet. Já os romances de antecipação política, como “1984”, de George Orwell, ou “Submissão”, do francês Michel Houellebecq, são muito mais raros. Ou então falham de tal forma nas suas previsões que depressa os esquecemos (é o que irá acontecer com “Submissão”). 

A sabedoria dos antigos

por Dado Salem
Jan 2021

                                                                       Nemesis: a Justiça primitiva


Os mitos, vistos hoje como sinônimo de mentira ou histórias para divertir as crianças, contem um profundo conhecimento e grande sabedoria formados por milhares de anos de experiência e observação do funcionamento da vida.

Francis Bacon, a quem se atribui a criação do método científico – o selo de autenticidade que comprova o que consideramos “verdade” no mundo contemporâneo, reconheceu a utilidade desse conhecimento arcaico: “não posso deixar de atribuir um alto valor para a mitologia antiga […] e todo homem, de qualquer erudição, deve prontamente permitir que este método de instrução seja grave, sóbrio ou extremamente útil, e às vezes necessário nas ciências, pois abre uma passagem fácil e familiar para o entendimento humano”.

Na mitologia antiga, a divindade que considero mais importante de ser conhecida e observada é Nemesis, a Justiça primitiva. Venerada por todos mas especialmente temida pelos ricos, poderosos e afortunados, essa deusa era, segundo algumas versões, filha do titã Oceano e da deusa Nix (a noite). Por esse motivo Nemesis agia sem ser percebida, de maneira inconsciente e tinha ao seu lado a inconstância, as mudanças, a imprevisibilidade e as adversidades da vida, que utilizava para castigar aqueles que ultrapassavam o métron, os limites pessoais, e cometiam um descomedimento errando pelo excesso.

Considerada implacável e impiedosa, Nemesis foi amplamente utilizada nas tragédias gregas como a divindade que daria ao protagonista descuidado aquilo que lhe era devido. No mito de Narciso por exemplo, um jovem bonito mas arrogante que desprezava os outros, Nemesis o levou ao lago onde se apaixonou por sua própria imagem e lá morreu. Na Guerra de Troia, Aquiles o principal gerreiro grego, foi punido pelo mesmo princípio por mutilar o corpo de seu arqui inimigo Heitor.