A trágica correlação entre conflitos e desastres

Por Dado Salem
Março 2021

No momento em que estamos vivendo o pico da Pandemia no Brasil, vendo que poderíamos ter evitado essa situação mas que o conflito político impediu uma ação coordenada dos governos, multiplicando exponencialmente o número de mortos, fico preocupado com nosso futuro diante das mudanças climáticas que virão.  



Desastres não são decorrentes de acidentes naturais.

Todos os anos vemos acontecer terremotos, furacões, secas, incêndios, vulcões, tsunamis, enchentes, etc. Mas esses eventos naturais, por mais terriveis que sejam, não costumam causar desastres.

Desastres são eventos calamitosos que causam uma ruptura no funcionamento de uma sociedade gerando graves perdas humanas, econômicas, ambientais, etc. e que excedem a capacidade da comunidade resolver sozinha, precisando recorrer ao auxílio externo. A explosão no porto do Líbano é um exemplo, o rompimento da barragem de Mariana é outro recente no Brasil.   

Em geral, quando há um plano de mitigação de riscos, os impactos de acidentes naturais tendem a ser minimizados. Esses eventos só se tornam desastres quando pessoas e o ambiente estão expostas a riscos e os organismos responsáveis e governos negligenciam ou não agem coordenadamente. Aí o resultado tende a ser devastador, multiplicando o número de mortos e gerando graves consequências sociais, econômicas e ambientais. Ou seja, embora muitas vezes desastres tenham causas naturais, eles são resultado da ação humana, ou da sua inação*.

Conflitos políticos são causadores de desastres.

Conflitos acontecem quando dois ou mais grupos não se escutam, não encontram uma maneira construtiva de resolver suas diferenças e atuam no intuito de prejudicar o outro para atingir seus objetivos.

Num país políticamente estável é mais provável que se encontre pacificamente maneiras de resolver problemas e mitigar riscos de acidentes naturais. No entanto, num país onde há conflitos políticos deflagrados e se coloca interesses pessoais e partidários acima do interesse comum, uma ação coordenada é práticamente impossível, o que aumenta muito a probabilidade de ocorrerem desastres. 

A forma como a classe política e os grupos que os apoiam se manifestaram durante a Pandemia da Covid-19 no Brasil é um sinal do que pode vir por aí. No momento em que estamos começando a viver os efeitos da crise ecológica, e é praticamente certo que acidentes naturais ocorrerão com maior frequência e intensidade, se não aprendermos a dialogar, corremos sério risco de criar desastres sociais, econômicos e ambientais.

É preciso ter em mente que acidentes naturais são também oportunidades de fazer aflorar o melhor nas pessoas, quando esquecemos nossas diferenças e trabalhamos juntos para recuperar o que foi devastado. No entanto, podem também ampliar a disputa por recursos, estimular a rivalidade, a busca de culpados e servir de palanque para aumentar influência e poder. Ou seja, tudo indica que para vivermos bem daqui em diante precisamos fazer uma escolha simples: união ou desastre. 

*WHO - Disasters and Natural Hazards - https://www.who.int/hac/about/definitions/en/


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