Você repetiria sua vida eternamente com alegria?

Por Dado Salem
Junho 2024

Breves contribuições de um historiador, um filósofo e um escritor para levar uma vida significativa, valorizando cada momento e fazendo escolhas que ressoem com o nosso eu profundo. 





Mircea Eliade nos ensina que nas sociedades tradicionais o tempo era visto como circular, pois tudo tendia a se repetir eternamente, as estações do ano, as fases da lua, o dia e a noite e os acontecimentos na vida humana. Essas culturas criavam rituais recorrentes que tinham o objetivo de renovar o mundo e oferecer oportunidades de regeneração para que as pessoas começassem um novo ciclo cheio de sentido e propósito.

O mito do eterno retorno foi utilizado por Friedrich Nietzsche como uma alegoria para examinarmos nossa vida e encontrar significado na nossa existência. Trata-se de um experimento mental que nos desafia a imaginar viver como se nossa vida se repetisse infinitamente. Nietzsche pergunta se aceitaríamos passar por tudo de novo, eternamente, se soubéssemos que teríamos de vivê-la em perpétua recorrência. Não se trata apenas de aceitar a vida, mas de afirmá-la de tal forma que viveríamos com alegria cada momento. Estamos vivendo vidas que estaríamos dispostos a repetir eternamente? 

Esta reflexão nos leva a fazer escolhas, valorizar as nossas experiências e assumir a responsabilidade pelas nossas ações. Encoraja-nos a viver de forma autêntica e apaixonada, buscando a realização no presente em vez de adiar a felicidade para um futuro distante.

Outro que fez uma provocação parecida foi Albert Camus na sua leitura do Mito de Sísifo. Por trapacear o deus da morte, Sísifo foi condenado a empurrar uma pedra montanha acima apenas para que ela rolasse cada vez que se aproximava do cume, e começar tudo de novo, eternamente. Para Camus, a vida era um absurdo e o Universo indiferente à nossa existência. A chave para a situação de Sísifo, segundo Camus, era a busca de sentido e encontrar uma rotina que pudesse ser repetida eternamente com alegria. Ele nos ensina a abraçar nossas tarefas e desafios como partes intrínsecas da vida. Seja o que for que escolhermos, vai dar trabalho, vai ter um lado chato, mas que seja significativo. 

Portanto, quando nos sentimos tristes ou percebemos que algo em nossa vida perdeu o sentido, isso pode ser sinal de que um ciclo está se encerrando, de que estamos nos dedicando a atividades que não nos preenchem mais. Algo novo está querendo emergir. A nossa tarefa é identificar o que está brotando, abrir espaço para que possa florescer e abandonar aquilo que já não nos serve. Esse processo de renovação é essencial para uma vida autêntica e significativa. A ideia é que no final possamos olhar para trás e ter a certeza de que valeu a pena.


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