Novembro 2024
Perder esse desejo é uma escolha de permanecer. De estar onde estamos. É encontrar prazer naquilo que já faz parte da nossa vida, no que antes parecia comum. Fazer um café pela manhã, preparar a própria comida, realizar um trabalho com atenção, uma pausa para ler um livro, um passeio no jardim, mergulhar no mar, ou mesmo no silêncio de um dia sem planos. É como descobrir que a jornada mais longa e transformadora não exige passaporte ou reservas em hotéis e restaurantes. É encontrar no presente e no que já está ao nosso alcance, as respostas que antes buscávamos em outros lugares.
Quando temos satisfação no cotidiano, não é preciso ir longe para se sentir vivo, não há necessidade de projetos porque o presente já é suficiente. O que antes era visto como repetitivo agora ganha um colorido diferente, como se os detalhes antes ignorados começassem a contar histórias que não percebíamos. Gostar do cotidiano é como apreciar uma paisagem que se renova diariamente.
Não ter vontade de viajar não é ausência de curiosidade, mas um redirecionamento dela. Ao invés de explorar o mundo externo, escolhemos explorar o entorno, o mundo que construímos, o local onde habitamos. Escolher o próprio espaço, ritmo e sabores é um ato de autenticidade. É um desejo de simplificar, de evitar o ruído, de transformar cada refeição num momento de intimidade. Não é rejeição ao externo, mas um chamado para o interno. Viajar, nesse contexto, pode até ganhar um novo significado, algo menos frequente talvez, mas mais intencional, quando realmente fizer sentido.
Ler um livro ou assistir um filme, substitui a necessidade de deslocamento. Abre mundos dentro de nós, leva para longe enquanto nos deixa perto. Não exige malas, aeroportos ou deslocamentos. Exige apenas disponibilidade para atravessar fronteiras, desbravar ideias, descobrir novos pensamentos. É uma viagem sem cansaço.
Esses sentimentos são um retorno ao essencial. Um desejo de conexão, não com lugares distantes ou experiências elaboradas, mas com a vida em sua forma mais pura e simples. É redescobrir que o que buscávamos não está lá, mas aqui, em cada gesto, em cada escolha, em cada instante.
Mas isso exige coragem. Coragem para desacelerar, num mundo que estimula a pressa. Coragem para encontrar significado onde a maioria vê monotonia. Coragem para tornar leve o que anda sobrecarregado. Coragem para dizer não ao excesso e sim ao suficiente. Coragem para fazer a vida ser boa aqui e agora. Talvez esse seja o maior ato de liberdade e presença, saber que estamos exatamente onde gostaríamos de estar, em paz com quem somos e com o espaço onde habitamos, sem a necessidade de desligar e fugir para algum lugar distante.
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