Somos todos protagonistas de nossas próprias histórias. Assumimos o papel central em nossas decisões, sonhos e ações. Cabe a nós conduzir a narrativa da nossa existência com autenticidade e responsabilidade, lidando com os desafios e escolhas que moldam quem somos. No entanto, ao mesmo tempo em que protagonizamos nossas vidas, desempenhamos papéis de coadjuvantes na história dos outros.
Não vou me aprofundar aqui em reflexões sobre a tensão intrapsíquica entre protagonismo e coadjuvância, como a dificuldade em assumir um protagonismo em pessoas com baixa autoestima ou excessivamente dependentes de aprovação externa que podem se sentir incapazes de protagonizar suas vidas, preferindo papéis de suporte ou submissão. E, por outro lado, a resistência à coadjuvância em pessoas com traços narcisistas exacerbados que podem recusar o papel de coadjuvante, enxergando isso como uma ameaça à sua identidade ou valor.
A palavra coadjuvante tem origem no latim coadjuvans, que significa, aquele que ajuda, apoia, que encoraja. Seu significado pode variar conforme o contexto, mas geralmente se refere a alguém que desempenha um papel de apoio. Isso não significa algo de menor importância, mas uma função complementar fundamental, que contribui para o sucesso ou desenvolvimento do protagonista ou de uma ação principal. O coadjuvante é alguém que colabora, que ajuda ou participa, sem assumir o papel central. Ele não é o centro da ação, mas sua presença é indispensável para que o todo funcione de maneira harmoniosa.
A palavra protagonista vem do grego protos ("primeiro") e agonistes ("lutador"), significando "aquele que lidera a ação". Ele, ou ela, ocupa o centro das atenções, conduzindo os acontecimentos de uma narrativa ou situação. Protagonista é o personagem principal, seja em literatura, no teatro, cinema ou na vida real. Ocupa o centro dos acontecimentos e conduz a história com suas ações e decisões. Enfrenta desafios e, muitas vezes, passa por transformações significativas ao longo da jornada. Ser protagonista significa assumir a responsabilidade pelo próprio destino, sabendo que nunca domina todos os fatores, mas que tem influência sobre a realidade e sobre o que lhe acontece.
O protagonismo e o papel de coadjuvante não implica uma hierarquia de valor, mas uma complementaridade essencial. Enquanto o protagonista lidera, o coadjuvante sustenta e enriquece a trama. Quando atuamos como protagonistas precisamos de coragem para agir e assumir responsabilidades. Por outro lado, quando estamos no papel de coadjuvantes, precisamos desenvolver humildade, respeito, generosidade e disponibilidade para entender as necessidades dos outros e ajudá-los da maneira que nos for possível. Alternar entre esses papéis é o que torna a vida interessante, nos permite crescer e nos tornar pessoas mais completas.
No meu caso, a questão foi um pouco mais complexa. Fui, de certa forma, orientado desde pequeno a ser um protagonista. No entanto, a vida foi aos poucos revelando que um dos meus principais papéis seria de Mentor. No início, me sentia incomodado com o fato de conseguir orientar e ajudar a vida dos outros, mas não a minha própria. Levou um tempo até eu perceber que se tratava de um talento paradoxal. Nesse sentido, meu verdadeiro protagonismo não estava no domínio sobre as situações ou em ocupar a centralidade da história, mas na habilidade de identificar e amplificar o potencial dos outros. Isso exigiu uma transformação interna, na qual tive que deixar de buscar minha realização pessoal, ou ocupar o centro das atenções, e passar a ver o sucesso dos outros como extensão do meu próprio.
A beleza da mentoria é justamente o papel de coadjuvante. Ser um bom Mentor é protagonizar uma vida dedicada a ajudar outros a serem protagonistas. Esse papel requer uma visão generosa onde o impacto está em ser um facilitador do sucesso alheio. Essa dinâmica ilustra como o protagonismo pode se manifestar de forma discreta, mas extremamente poderosa, no ato de apoiar e encorajar.
O papel de Mentor me ensinou que ser coadjuvante não é um papel secundário, mas uma forma generosa de protagonizar. Ao ajudar alguém a brilhar, o Mentor também escreve sua própria biografia como um agente transformador, construindo histórias que vão muito além de si mesmo.
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