Inovação - necessidade, luz e sombra

Por Dado Salem
Abril 2023

É hora de termos um olhar mais equilibrado para o avanço tecnológico.

Ao longo da história, enfrentamos diversos desafios e obstáculos que nos obrigaram a inovar e adaptar para sobreviver. Desde a invenção da roda até o desenvolvimento da internet, a inovação foi impulsionada principalmente pela necessidade. O famoso provérbio, "A necessidade é a mãe da inovação" foi comprovado várias vezes.

Um dos exemplos mais conhecidos é o desenvolvimento da imprensa por Gutenberg no século XV. Na época, os livros eram manuscritos e, portanto, raros e caros. Gutenberg viu a necessidade de uma maneira mais rápida e eficiente de produzir livros e, assim, desenvolveu a imprensa. Essa inovação revolucionou o mundo editorial e tornou os livros mais acessíveis ao público em geral, levando a um aumento significativo nos índices de alfabetização e na disseminação do conhecimento.

Outro exemplo de necessidade impulsionando a inovação é o desenvolvimento da lâmpada por Thomas Edison no final do século XIX. Edison viu a necessidade de uma fonte confiável e duradoura de luz artificial, pois velas e lâmpadas a gás não eram apenas ineficientes, mas também perigosas. Ele passou anos experimentando diferentes materiais até encontrar um filamento adequado que pudesse produzir uma luz constante sem queimar rapidamente. A invenção da lâmpada elétrica não apenas revolucionou a maneira como vivemos, mas também abriu caminho para muitas outras inovações no campo da eletrônica.

Nos últimos tempos, vimos a necessidade de impulsionar a inovação em resposta à pandemia do COVID-19. A necessidade de trabalho e educação remotos levou à rápida adoção de plataformas de videoconferência e aprendizado à distância, que agora se tornaram parte integrante de nossas vidas. A necessidade de práticas mais sustentáveis levou ao desenvolvimento de fontes de energia renováveis, como a eólica e a solar. A necessidade de saúde levou ao desenvolvimento de novos medicamentos, tratamentos e dispositivos médicos. 

A inovação trouxe, portanto, enormes benefícios para a humanidade, criando produtos e serviços que melhoraram nossa qualidade de vida.  

No entanto, a inovação também tem um lado sombrio. Ela pode criar consequências não intencionais e resultados negativos que muitas vezes são negligenciados na busca pelo progresso.

Um exemplo é o impacto ambiental da inovação. Atualmente, vivemos um período de mudança climática acelerada, desmatamento e colapso de alguns ecossistemas, frutos da mudança no estilo de vida decorrente da industrialização, que ameaçam a saúde e o bem-estar de todos os habitantes do planeta.

A inovação também pode ter efeitos negativos na sociedade. Pode levar à perda de empregos e à desigualdade econômica, à medida que novas tecnologias e indústrias substituem as antigas. Também pode criar desigualdade digital, em que algumas pessoas têm acesso às tecnologias mais recentes, enquanto outras não.

A inovação pode ter consequências não intencionais. Por exemplo, o uso excessivo de antibióticos levou ao surgimento de bactérias resistentes, dificultando o tratamento de infecções. Da mesma forma, o uso de mídias sociais tem sido associado ao aumento da ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental. É conveniente para inovadores rotularem algumas consequências negativas como “não intencionais”, mas elas podem também muitas vezes serem projetadas com objetivo aumentar o ganho das empresas. A Apple, por exemplo, foi repetidamente acusada de fazer atualizações de sistemas que desaceleram os iPhones para aumentar a venda de novos produtos. 

Empresas podem também mentir sobre a toxicidade de produtos ainda não comprovadamente nocivos, como por exemplo os cigarros eletrônicos. Inicialmente parecem resolver um problema de saúde, mas na verdade não o fazem. Na indústria de alimentos e bebidas, por exemplo, muitas inovações podem ser prejudiciais. Os adoçantes artificiais são frequentemente introduzidos para reduzir a quantidade de açúcar nos alimentos, mas seu uso é associado ao câncer.

A inovação científica é uma força poderosa que tem o potencial de transformar nosso mundo para melhor. No entanto, também tem um lado sombrio que é muitas vezes desconhecido ou subestimado, mas que não pode ser ignorado.