Por Dado Salem
Agosto 2025
O rei tinha ido viajar. O bobo da corte, vendo o trono vazio, resolveu ir lá e se sentar. Um dos guardas do palácio, ao passar pela sala, viu o bobo no trono e foi repreendê-lo.
- O senhor não pode ficar aí. O senhor não é o rei.
- Não - respondeu o bobo, eu estou acima do rei!
- Acima do rei? Então o senhor deve ser um grande sacerdote?
- Não, estou acima do sacerdote!
- Acima do sacerdote? Então o senhor só pode ser o Papa.
- Não, estou acima do Papa!
- Então o senhor só pode ser Deus.
- Não, estou acima de Deus!
- Acima de Deus? Mas não existe nada acima de Deus!
- Pois é, disse o bobo, eu sou o nada.
Essa pequena parábola inverte o jogo das hierarquias e me fez lembrar a Odisseia, de Homero, no episódio famoso em que Odisseu cai nas mãos do gigante ciclope Polifemo.
- O senhor não pode ficar aí. O senhor não é o rei.
- Não - respondeu o bobo, eu estou acima do rei!
- Acima do rei? Então o senhor deve ser um grande sacerdote?
- Não, estou acima do sacerdote!
- Acima do sacerdote? Então o senhor só pode ser o Papa.
- Não, estou acima do Papa!
- Então o senhor só pode ser Deus.
- Não, estou acima de Deus!
- Acima de Deus? Mas não existe nada acima de Deus!
- Pois é, disse o bobo, eu sou o nada.
Essa pequena parábola inverte o jogo das hierarquias e me fez lembrar a Odisseia, de Homero, no episódio famoso em que Odisseu cai nas mãos do gigante ciclope Polifemo.
Para escapar, o herói usa um truque: ele se apresenta como Outis, que em grego significa “Ninguém”.
Quando o ciclope é ferido e grita por socorro, seus amigos perguntam se alguém o atacou, e ele responde: “Ninguém, Ninguém me feriu!”. Assim, Odisseu consegue escapar.
Quando o ciclope é ferido e grita por socorro, seus amigos perguntam se alguém o atacou, e ele responde: “Ninguém, Ninguém me feriu!”. Assim, Odisseu consegue escapar.
Essa cena com Polifemo é mais do que um golpe de astúcia. É um momento simbólico em que Odisseu experimenta, mesmo que por necessidade, o que é viver sem nome e sem status.
Ao longo da Odisseia, ele vai se despindo de tudo, de navios, homens, riquezas, do próprio nome, até chegar em Ítaca como um mendigo irreconhecível. Essa longa jornada de volta a Ítaca é uma pedagogia do desapego.
No final da República, Platão narra o Mito de Er, em que as almas, após a morte, escolhem suas próximas vidas. Lá está Odisseu que, para sua próxima encarnação, escolhe ser um homem comum, viver uma vida simples, tranquila, longe das ambições e das lutas por poder, fama e glória. Ali está o amadurecimento completo. No passado, Odisseu quis ser celebrado; agora, quer apenas viver em paz.
A história do bobo e a jornada de Odisseu apontam para a mesma direção: a sabedoria está muito longe da necessidade de ser “importante”.
O mundo nos empurra para colecionar títulos, conquistas, cargos e feitos. Mas a liberdade está em não precisar provar nada a ninguém, nem para si mesmo.
Ser “nada” ou “ninguém”, ser uma pessoa simples, não é ser menos. É ser livre. É não estar preso à necessidade de ter que ser sempre algo grande, admirado. É poder se sentar numa varanda e ver o sol nascer… anônimo, tranquilo, dono apenas de si mesmo.
Ao longo da Odisseia, ele vai se despindo de tudo, de navios, homens, riquezas, do próprio nome, até chegar em Ítaca como um mendigo irreconhecível. Essa longa jornada de volta a Ítaca é uma pedagogia do desapego.
No final da República, Platão narra o Mito de Er, em que as almas, após a morte, escolhem suas próximas vidas. Lá está Odisseu que, para sua próxima encarnação, escolhe ser um homem comum, viver uma vida simples, tranquila, longe das ambições e das lutas por poder, fama e glória. Ali está o amadurecimento completo. No passado, Odisseu quis ser celebrado; agora, quer apenas viver em paz.
A história do bobo e a jornada de Odisseu apontam para a mesma direção: a sabedoria está muito longe da necessidade de ser “importante”.
O mundo nos empurra para colecionar títulos, conquistas, cargos e feitos. Mas a liberdade está em não precisar provar nada a ninguém, nem para si mesmo.
Ser “nada” ou “ninguém”, ser uma pessoa simples, não é ser menos. É ser livre. É não estar preso à necessidade de ter que ser sempre algo grande, admirado. É poder se sentar numa varanda e ver o sol nascer… anônimo, tranquilo, dono apenas de si mesmo.
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