por Dado Salem e Boris Frenk
Existem muitas forças que atuam no cotidiano de uma empresa. É comum vermos autores e professores prestigiosos citarem fatores como clientes, fornecedores, concorrentes, governos, ambientes setorial e macroeconômico, e até a natureza. No entanto, a maior parte das empresas tem seu controle nas mãos de famílias. É possível dizer, portanto, que um elemento de influência poderoso costuma ser deixado de lado: a psicodinâmica familiar.
Esse “esquecimento”, que mais parece um ato falho, estabeleceu uma lacuna na administração e se tornou uma espécie de “buraco negro” sorvedor de empresas e impérios, tendo em vista que, segundo o Family Business Advisor, o principal motivo da mortalidade das empresas familiares é a psicodinâmica familiar e não questões econômicas.
Por ser um campo obscuro e desconhecido, consultores costumam fugir desse monstro irracional sugerindo a profissionalização como recurso fundamental para que a racionalidade se estabeleça e conduza as ações naquele ambiente. Noutras tentativas de estabelecer a ordem, classificam os integrantes da família controladora entre “competentes” e “incompetentes” projetando, naqueles cujas inclinações não estão alinhadas com os negócios da família, suas próprias incapacidades de lidar com situações de alta complexidade psicológica.
A profissionalização da gestão é um bom caminho, mas nem sempre é a melhor opção para uma família. Em alguns casos ela nem é possível. A reorientação profissional de alguns integrantes, por outro lado, exige conhecimentos profundos e específicos e não pode ser negligenciada. É um processo angustiante, indissoluvelmente ligado à noção de sentido e propósito da vida.
A família é um sistema emocional composto de costumes e valores cuja dinâmica atravessa várias gerações. Nessa estrutura, existem leis não ditas que orientam o comportamento das pessoas. Nos bastidores de uma empresa familiar existe um drama psicológico funcionando como extensão do ambiente doméstico, do qual os indivíduos na maioria das vezes não tem consciência. Analisar essa psicodinâmica é como chegar a um país estrangeiro, leva-se algum tempo para entender o panorama geral. É preciso observar tudo – o ambiente, as relações interpessoais, as reações a determinados eventos e até mesmo fatos curiosos aparentemente sem sentido. Entrevistas com pessoas-chave são esclarecedoras, mas um trabalho tão importante quanto recolher informações é analisar e interpretar o que foi observado.
Para fazer um trabalho adequado numa empresa familiar é preciso ter dois olhos: um da gestão de negócios e outro da psicodinâmica familiar. Dada a complexidade desses sistemas, é sempre bom que o trabalho seja feito por mais de um profissional.
O grande desafio da empresa familiar é sobreviver e crescer conseguindo equilibrar duas forças que naturalmente se opõem: os objetivos e valores da empresa, e os objetivos e valores da família. Estes dois conjuntos, embora tenham a sobrevivência e o lucro como objetivo comum, pretendem atingir estes objetivos utilizando critérios e valores diferentes e opostos. Famílias são guiadas por sentimentos e buscam estabilidade. Empresas pretendem se guiar pela razão e buscam mudanças. Isto já é suficiente para gerar uma dinâmica de conflitos e demandar permanente atenção para o equilíbrio.
Como já dizia Montaigne: “não há menos dificuldades em governar uma família que administrar todo um estado”.
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