Pluto: um deus chamado dinheiro


Por Dado Salem


Em 388 a.C. Aristófanes encenou uma peça chamada Pluto, traduzida como A riqueza ou, Um deus chamado dinheiro. O enredo é bastante simples:

Um sujeito honesto porém pobre, inconformado de ver ricos desonestos andando impunemente pela cidade, decide consultar o oráculo de Apolo para saber se deve educar seu filho a ser um trambiqueiro.


É importante frisar que ser honesto ou ser justo na Grécia arcaica, não era uma questão moral. Significava dedicar-se ao cumprimento de seu destino. Segundo a cultura da época, todo ser humano nasce com inclinações naturais para desempenhar determinada atividade. Deveria portanto seguir essa razão e se esforçar para desenvolver seus talentos ao máximo a fim de executar aquela função com perfeição, desta forma, sendo quem nasceu para ser, atingiria uma vida plena e realizada.

Saindo do oráculo, Crêmilo, o protagonista, encontra-se com o deus Pluto (a riqueza) que estava cego porque Zeus tinha receio que se tornasse mais importante que ele. Crêmilo planeja uma operação em Pluto para que o deus volte a ver e com isso os justos se tornem ricos. O sucesso da operação fez com que ser rico se tornasse sinônimo de ser digno e honrado, com isso os deuses foram abandonados. Hermes e um sacerdote de Zeus, morrendo de fome, pedem para morar na casa de Crêmilo e no final, Pluto é entronizado.

A analogia de Aristófanes é visionária: no século XIX Nietzsche declarou a morte de Deus. Hoje se questiona se Ele algum dia existiu e “Cash is King” se tornou uma conhecida máxima norte-americana. Além disso, ilustra Hermes, o mensageiro de Zeus e condutor de almas, perdendo sua função assim como o sacerdote. Num momento histórico de decadência da sociedade grega, o poeta cômico alertava para o risco de descuidar o processo de individuação para dedicar-se exclusivamente ao enriquecimento. Mais tarde Hermes se transformará em Mercúrio, o deus do comércio, etimologicamente derivado da palavra mercadoria.

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