Megalomania: História da construção das pirâmides

por Dado Salem




É comum vermos pessoas se desvalorizando, se sentindo menos e não acreditando em si mesmas. Muitas vezes são talentos desperdiçados. Quando presenciamos esse tipo de coisa, percebemos o quanto é saudável gostar e cuidar de si mesmo. No entanto, quando a auto-estima cai abaixo de um certo patamar e o indivíduo passa a se achar um zero - incapaz de ser amado, acontece um fenômeno: o outro perde completamente a importância.

Desplugado afetivamente do mundo,
o indivíduo passa a se relacionar somente com ele mesmo. Essa experiência provoca uma mudança como forma de compensação. Aquele que se sub-estimava passa a se super-estimar e ter delírios de grandeza. Seu Ego tende a inflar produzindo uma visão exagerada de si mesmo. Em casos extremos vemos a pessoa se confundir com Deus. A necessidade de poder e controle é aflorada, e os outros passam a ser considerados na medida em que servem aos seus projetos e interesses.

Uma das formas mais comuns de expressão dessa síndrome é o chamado Complexo de Edificio. Grandes projetos são construídos para que o legado do megalômano seja lembrado e assim ele atinja a imortalidade.

Em seu livro História, Heródoto, o primeiro historiador do mundo, relata acontecimentos de arrepiar os cabelos. Numa viagem ao Egito, o historiador grego recolheu informações sobre a construção das pirâmides. Quem vê esses monumentos faraônicos na lista das Sete “Maravilhas” do Mundo Antigo não imagina que, entre outras atrocidades, o Faraó Quéops prostituiu a própria filha para arrecadar dinheiro quando, no meio da obra, os recursos se esgotaram. Mas a coisa não termina por aí, as consequências foram espantosas... leia abaixo.


História
Heródoto
Livro II par. CXXIV a CXXIX

“Os sacerdotes meus informantes acrescentaram que, até Rampsinito, tinha se visto florescer a justiça e reinar a abundância em todo o Egito, mas que não houve maldade que não praticasse Quéops. Este soberano, depois de mandar fechar todos os templos e proibir sacrifícios entre os egípcios, pôs todos a trabalhar para ele. Grande número de egípcios foi empregado na tarefa de cavar as pedreiras da montanha da Arábia e arrastar dali até o Nilo as pedras que iam retirando, levando-as em seguida, para a outra margem do rio, onde novos trabalhadores recebiam-nas e transportavam-nas para a montanha da Libia. Utilizavam-se de três em três meses, cem mil nesse trabalho. Para avaliar-se o suplício a que foi tão longamente submetido esse povo, basta dizer que se consumiram dez anos na construção da calçada por onde deviam ser arrastadas as pedras. Na minha opinião, essa calçada é uma obra não menos considerável do que a pirâmide […]. A pirâmide em si consumiu vinte anos de labuta.

A pirâmide foi construída em degraus, e alguns desses degraus tomam a forma de pequenos altares. Foi um trabalho realmente complexo. Para levar as pedras aos diversos planos empregavam-se máquinas feitas de pequenos pedaços de madeira e situadas em diferentes alturas […].

Com os cofres esgotados por tais despesas, Quéops lançou mão da própria filha, fazendo-a prostituir-se num lupanar e ordenando-lhe a tirar de seus amantes certa soma de dinheiro. Ignoro quanto montou a quantia obtida, pois os sacerdotes nada souberam dizer sobre isso. A princesa, não só executou a sordens do pai, como quis deixar ela própria, um monumento. Para isso pediu a cada um dos que iam vê-la uma pedra, assim reunidas que construiu a pirâmide que se encontra entre as outras três, de face com a grande pirâmide […].

Quéops, Segundo me disseram os Egípcios, reinou pelo espaço de cinquenta anos. Sucedeu-o, por sua morte o irmão Quéfren, que se conduziu como seu predecessor. Entre outros monumentos, mandou ele construir também uma pirâmide. Se bem que igualmente notável, seu tamanho, como pude verificar, nem se aproxima do da de Quéops […].

Segundo os sacerdotes, Quéfren reinou durante cinquenta e seis anos, e por todo esse longo período os egípcios foram atormentados por males sem conta, tendo os templos permanecidos fechados. Tal repulsa que os egípcios votam à memoria desses dois príncipes, que até evitam mencioná-los […].

Falecido Quéfren, subiu ao trono Micerino, filho de Quéops. Este príncipe, que sempre desaprovava os atos do pai, reabriu os templos e devolveu ao povo, reduzido à penúria e submetido à toda sorte de vexames, a liberdade de escolher suas ocupações e oferecer sacrifícios; enfim, julgou as pendências entre seus súditos com maior equidade do que todos os antecessores. Por esse motivo, os egípcios o veneram e cultuam sua memoria como nunca fizeram com relação aos outros governantes do país.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário