Solução em duas rodas

por Dado Salem
O Globo
Outubro 2014

Psiconomia apoia o uso da bicicleta como meio de transporte.


Em abril de 2008, a revista “Time” classificou a cidade de São Paulo como dona de um dos piores trânsitos do mundo. Presos entre um carro e outro, com o horizonte limitado ao para-choque da frente, os paulistas começaram a assistir aos telejornais, DVDs, navegar na internet, estudar línguas, fazer qualquer coisa dentro do carro para tentar escapar daquela situação desesperadora. Uma pessoa normalmente passa de duas a três horas por dia engarrafada no trânsito paulistano, cerca de 30 dias perdidos anualmente.

Quem vai para lá com frequência sabe que os congestionamentos enfrentados pelos cariocas hoje estão piores que os dos paulistas. Em São Paulo, à medida que mais pessoas estão usando o Waze (aplicativo para busca de melhores rotas de trânsito), caminhos alternativos têm sido aproveitados, ajudando a desafogar um pouco o movimento das grandes avenidas. No Rio, como a cidade é espremida entre o morro e o mar, os caminhos indicados pelo aplicativo são sempre os já conhecidos. Não há alternativa. Se um carro enguiça no Túnel Rebouças, se acontece um acidente na Lagoa-Barra, se um caminhão estaciona para descarregar em Botafogo ou na Jardim Botânico, instala-se o caos na Zona Sul. E a coisa tende a piorar. Como as ruas são as mesmas e o número de carros praticamente dobra a cada dez anos (segundo o Denatran), dá para imaginar como vai ficar a qualidade de vida por aqui, mesmo com a conclusão das obras do metrô.

O rodízio de veículos é uma medida paliativa, mas já ajuda bastante, especialmente nos primeiros anos de implantação, enquanto se investe em outras modalidades de transporte. Os paulistanos não conseguem mais pensar a cidade sem rodízio. Quando há greve nos transportes públicos e o rodízio é liberado, o trânsito vira um caos.

Para sair desse sufoco, optei pela bicicleta. Há dois anos praticamente não uso carro e minha vida melhorou. O trânsito deixou de ser um problema. A sensação de liberdade e a relação de proximidade com as pessoas e a cidade fazem com que uma obrigação se torne diversão, ainda mais numa cidade linda como o Rio. Levar o filho na escola, ir ao supermercado, ao trabalho, a uma reunião, ao cartório, ao dentista… até as coisas mais chatas viram programa, tudo fica mais gostoso.

Às vezes me perguntam se não chego muito suado. Se você for num ritmo tranquilo, com bolsas e mochilas no bagageiro, sem nada grudado no corpo e com alguns botões da camisa abertos, quando está em movimento o vento lhe mantém seco e numa temperatura confortável. O problema acontece quando você tem que parar num sinal ou quando há algum obstáculo. Por isso, as ciclovias são tão importantes. Além de dar mais segurança ao ciclista, a pedalada flui e você faz o mesmo trajeto num tempo muito menor, chegando mais inteiro ao seu destino. Quando tenho um compromisso importante ou está chovendo, costumo ir de táxi e levo uma bicicleta dobrável. No final do dia, o suor e a chuva deixam de ser problemas. Costumo voltar pedalando forte, fazendo exercício; assim chego em casa mais rapidamente e feliz.

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