Desânimo às segundas-feiras pode ser sinal de que você está na profissão errada


Publicado no Uol
por Simone Cunha
junho 2012 


                                                                               ilustração: Maria Eugênia


Uma pesquisa feita em maio pelo Instituto Datafolha constatou que 25% dos brasileiros ainda trabalham insatisfeitos. "Há uma grande parcela que precisa aceitar atividades que estão disponíveis por não ter oportunidade de atuar em outras áreas", afirma José Roberto Leite, chefe do Setor de Medicina Comportamental do departamento de Psicobiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). Por isso, para alguns profissionais, encarar a segunda-feira ainda é um drama. "Tem gente que já começa a sofrer no domingo e acha que não vai suportar mais uma semana", diz a "leader coach" Mirian Zacarelli, diretora da KMZ Consultoria e Eventos.

Os especialistas confirmam que quem não faz o que gosta tende a desenvolver sintomas de estresse crônico. "Irritabilidade, cansaço, tristeza, apatia, ansiedade, quadros agressivos e até um estado de humor depressivo", exemplifica Leite. Para Renato Grinberg, diretor geral do site Trabalhando.com, a quantidade de problemas de saúde pode ser um sinal de que a pessoa não está feliz profissionalmente. "A doença acaba sendo usada como fuga, ou seja, uma maneira de a pessoa ficar longe daquele ambiente que tanto a incomoda", diz.


É claro que toda profissão tem altos e baixos. E ninguém precisa estar sempre bem disposto e satisfeito com tudo. "Estar na profissão errada é não ser apaixonado por aquilo que faz. O importante é conseguir, apesar dos dias ruins e das frustrações, olhar para o espelho e dizer ‘estou satisfeito’”, explica Vitor Sampaio, psicólogo clínico. Segundo ele, quem faz o que gosta enxerga o futuro com perspectiva, ao contrário daquele que fica de olho no relógio, contando os minutos para encerrar o expediente.


Dá para mudar

Para Grinberg, estar na profissão errada é um dos principais motivos para o insucesso na carreira. "Por isso, ao detectar o problema, é importante fazer uma avaliação para saber se é a profissão ou o ambiente atual que incomodam, o chefe e até mesmo a função que lhe foi atribuída". Em alguns casos, uma readequação já é capaz de provocar motivação. No entanto, se o rumo tomado realmente não tem nada a ver com a sua vocação, é melhor preparar um cronograma. "Não adianta 'chutar o balde'. É melhor ir devagar e pesquisar quais recursos serão necessários para essa mudança", afirma Mirian.

Segundo Sampaio, uma ajuda especializada pode ser muito útil neste momento. "Muitas vezes, as pessoas preferem a segurança infeliz que a insegurança do desconhecido", diz o psicólogo. E esse medo é natural. "Por isso, a mudança deve ser bem avaliada e feita de forma gradual. E um coaching pode ajudar muito neste processo", diz Roberto Leite. Mudar de profissão quando ela não traz felicidade é preciso, pois, segundo ele, as pessoas tendem a se acomodar em uma situação ruim, porém conhecida. "E o estresse crônico é provocado em função dessa escolha.

Mesmo que seja necessário apostar em outra graduação, os especialistas defendem que vale a pena investir em uma carreira feliz. "A realização profissional é fundamental para o bem-estar", afirma Mirian. E, nessa balança, estabilidade, salário e status não devem pesar mais do que a satisfação.


A influência da família

A partir do momento que a pessoa detecta o problema e decide traçar um plano para mudar o rumo profissional, é preciso preparar-se para enfrentar críticas. Comentários como ‘você está louco!’, ‘agora que conseguiu uma promoção’ ou ‘você vai abrir mão desse salário’ podem surgir dos colegas de trabalho, amigos e familiares. No entanto, o que está em jogo é a felicidade. Ter coragem de mudar é algo muito significante. E quanto antes o profissional se lançar às mudanças, mais vantagens terá. "Posso ter realizado uma escolha e constatar que não foi a melhor. Porém, permanecer nessa escolha é muito prejudicial", afirma Roberto Leite.


Escolha imatura

A escolha profissional, geralmente, é feita na adolescência. Mas o jovem dificilmente tem maturidade suficiente para realizar tal escolha. Por isso, alguns seguem caminhos equivocados; outros são influenciados pelo desejo da família para que siga uma determinada carreira. "O jovem acaba ‘comprando’ uma ideia, sem saber se realmente acredita naquilo”, explica Sampaio. E não adianta escolher a profissão sem levar em conta suas habilidades. De acordo com Grinberg, durante muito tempo, as pessoas buscavam o sucesso profissional para ser feliz. Hoje, muitos estudos defendem que é preciso ser feliz para conquistar o sucesso.

Grinberg dá uma sugestão para você avaliar se está na profissão certa. "Se recebesse uma ‘bolada’ e pudesse ter mensalmente o equivalente ao seu salário atual, o que faria?". Para o especialista, quem ama o que faz, jamais deixaria de trabalhar. "A pessoa pode dizer que diminuiria o ritmo ou abriria um negócio próprio". Já quem está na profissão errada, com certeza, é taxativo: "Pediria demissão imediatamente".

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