A crise do egoísmo
How the Myth of Self-interest Caused the Global Crisis
por Mark van Vugt
www.psychologytoday.com
Traduzido por Dado Salem
Um amigo trabalhou até recentemente no RH de um banco holandês. Ele viveu o período de glória do mercado financeiro quando bancos de investimento ganharam rios de dinheiro com operações complexas envolvendo derivativos. Sua função era distribuir os bonus anuais. Perguntei como os executivos reagiam ao receber aquelas boladas. Eles o agradeciam? Não, ele nunca recebeu um "obrigado". A única coisa que perguntavam era quanto este ou aquele estava ganhando. Desiludido com os bancos, meu amigo agora trabalha no mesmo departamento da universidade que eu, dando aulas de Ética nos Negócios e Gestão de Recursos Humanos.
Em 2013 continuamos na mesma crise global de 2008, mas agora expandida para todos os cantos do mundo. Muitas empresas faliram, alguns países quebraram, e o custo pessoal em termos de desemprego, pobreza e saúde são imensos - desde o início da crise, o desemprego fez muitos homens de meia idade cometerem suicídio.
A crise financeira deveria nos ensinar a respeito de como a economia funciona e a forma como desenhamos nossas organizações. Na veradade, nos equivocamos a sobre a natureza humana. O principal modelo econômico adotado ainda hoje é o do Homo Economicus, aquele em que a pessoa toma decisões racionais baseadas em seu próprio interesse. Conduzidos por uma mão invizível, a do mercado, a busca do interesse pessoal produz, automaticamente, o bem coletivo. Olhando para a crise atual essa idéia não se sustenta. Quando a ganância individual domina, todos sofrem. Poderíamos saber disso antes se tivéssemos olhado com mais atenção a evolução da humanidade.
Economistas costumam representar a competição entre empresas como uma luta darwiniana na qual as mais adaptadas sobrevivem. O historiador britânico Niall Ferguson escreveu "se deixadas por si mesmas, a seleção natural trabalha rápido para eliminar as instituições mais fracas do mercado, que típicamente são engolidas pelas vitoriosas".
Isso pode ser verdade, mas não é o resultado da competição e da ganância individual. Competição entre empresas pressupõe que indivíduos cooperem uns com os outros e que as organizações mais cooperativas sobrevivam e as menos cooperativas sejam extintas. Isso é seleção grupal, onde os melhores grupos sobrevivem.
Um time de psicólogos evolucionistas, biólogos e economistas, liderados pelo biólogo David Sloan Wilson e pelo economista John Gowdy, se juntou nos últimos anos e apresentou um modelo mais preciso de como os negócios e as economias operam. Ele é baseado no Homo Sapiens e não no Homo Economicus. O esforço foi publicado numa edição especial do Journal of Economic Behavior and Organiziation. Há um resumo desses artigos no site www.thisviewoflife.com
Esses cientistas afirmam que seres humanos desenvolveram ao longo de centenas de milhares de anos, instintos cooperativos que os permitiu viver e trabalhar em grupos altamente eficientes. A melhor estratégia de sobrevivência de nossos ancestrais foi de cooperar uns com os outros e de suprimir o egoísmo e a ganância individual, que era boa para uns mas danosa para o grupo. Todas as evidências empíricas mostram que se as condições forem propícias, indivíduos trabalham alegremente juntos para criar organizações altamente eficientes e que buscam o bem comum. O trabalho do cientista político Elinor Ostrom, ganhador de premio Nobel, demonstra, por exemplo, como comunidades administraram recusros de forma sustentável ao longo de séculos com um bom mix de incentivos sociais e individuais. O Homo Sapiens é o único modelo viável de vida organizacional e negar isso é negar a própria natureza humana.
Infelizmente, a forma com que muitas empresas operam nesse início de milênio, ainda nega esse instinto cooperativo. Pessoas ainda costumam ser recrutadas em bancos e empresas de acordo com sua ambição, como se conduzidas por uma mão invisível fossem fazer coisas boas para a empresa ou para a sociedade como um todo. Sabemos bem onde isso termina.
Por exemplo, inspirada pela teoria neo-liberal e persuadida por empresas de consultoria como a McKinsey, a Enron organizou o famoso Talent days, onde recrutava os mais inteligentes e competitivos alunos dos mais prestigiosos cursos de MBA, sem dar atenção às capacidades morais e cooperativas dessas pessoas (coisas que infelizmente não são ensinadas nesses programas de MBA). Não surpreende que na Enron havia uma cultura de competição, mentira e ganância, não surpreende também que a empresa quebrou de maneira espetacular. Bancos, empresas e até mesmo nações quebraram porque insistiram no mito do egoísmo enquanto negavam os instintos sociais humanos. É o momento de uma mudança de paradigma na economia, na ciência e politica da administração.
Johnson, D., Price, M., & Van Vugt, M. (2013). Darwin's invisible hand: Market competition, evolution and the firm. Journal of Economic Behavior and Organization.
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