Dívida faz mal à saúde

por Thais Fascina e Danielle Brant
Folha de SP
Abril 2015

Débitos em excesso podem causar ansiedade, angústia, pressão alta, depressão e ainda prejudicar seu relacionamento. Inflação e desemprego potencializam o problema.




No dia em que o microempresário notou um zumbido insistente no ouvido a caminho do banco para tentar negociar parte de uma dívida de R$ 40 mil, decidiu procurar um médico.

"Achei que fosse o motor do ônibus em que estava. Desde então, o barulho não sai da minha cabeça."

O empresário, que não quis ser identificado, ficou surpreso com o diagnóstico: estresse causado pelos débitos aparentemente sem solução.

Casos assim são mais comuns do que se imagina e tendem a aumentar em cenário de preocupação com inflação e desemprego.

No ambulatório do Hospital das Clínicas, em São Paulo, a psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do grupo de compradores compulsivos, afirma que, hoje, três novas pessoas procuram o consultório por semana com queixas de ansiedade, angústia e depressão relacionadas a problemas financeiros.

Nos últimos cinco anos, afirma, o número de atendimentos mais que dobrou.

"Quase todos os meus pacientes estão com dívidas que não conseguem pagar, e a consequência é o impacto na vida pessoal."

SEPARAÇÃO

Entre os efeitos comuns, estão brigas em casa, separações, descontrole emocional e problemas no trabalho.

"Com o estímulo ao consumo e a oferta de crédito dos últimos anos, o cenário se tornou propício ao endividamento, sem que houvesse uma educação financeira da população", diz Hermano Tavares, professor do Departamento de Psiquiatria da USP.

O consultor financeiro Mauro Calil diz que os mecanismos de cobrança também estão mais pesados: ligações no trabalho e em casa diariamente, e-mails e mensagens no celular, além do antigo hábito dos cobradores na porta. "E parcelas de dívidas que até poderiam ser pequenas ficaram mais pesadas pela inflação e pelo desemprego."

Para Hermano, da USP, as pessoas que desenvolvem problemas de saúde estão "em uma situação-limite".

DESINTOXICAÇÃO

O consultório médico não é o único caminho para consumidores superendividados em busca de ajuda.

Há grupos de ajuda no estilo do A.A. (Alcoólicos Anônimios), como o D.A. (Devedores Anônimos), nas cidades de São Paulo, do Rio, de Londrina, no Paraná, de Fortaleza, no Ceará, e de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.


TESTE AVALIA SOFRIMENTO COM INADIMPLÊNCIA

Cerca de 54 milhões de pessoas começaram 2015 inadimplentes, o que representa aproximadamente 40% da população adulta, segundo a Serasa Experian, empresa de informações financeiras.

Nem toda dívida é descontrolada, mas é preciso ficar atento e se fazer algumas perguntas: você gasta mais do que ganha? Já ficou nervoso e começou brigas em casas por saber que não conseguirá pagar?

O teste acima foi criado para avaliar o sofrimento psicológico provocado pelo endividamento excessivo e ajudar as pessoas a identificá-lo.

Desenvolvido pela Serasa em parceria com o Ambulatório de Transtornos do Impulso, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, apresenta perguntas que causam reflexão sobre os danos gerados pela falta de controle nas finanças.

As questões foram criadas a partir de estudo da Organização Mundial da Saúde adaptado ao Brasil.


AVALIE SUA SAÚDE FINANCEIRA

Superendividamento afeta saúde física e psicológica; veja se a sua pode estar comprometida no teste da Serasa

PARTE 1

Responda SIM ou NÃO:

1. Você gasta mais de 30% da sua renda com o pagamento de prestações como da casa, carro, carnês, crédito pessoal, consignado ou cartão?

2. Da sua renda, mais de 15% está comprometida com financiamentos sem garantias (como casa ou crédito consignado)?

3. Acha que não consegue pagar todas as dívidas sem comprometer o sustento da família?

Caso tenha respondido SIM para uma dessas perguntas, faça o teste seguinte para ver se as suas dívidas interferem no estado emocional

PARTE 2

Responda SIM ou NÃO:

1. Tem dores de cabeça frequentes?
2. Tem falta de apetite?
3. Dorme mal?
4. Assusta-se com facilidade?
5. Tem tremores na mão?
6. Sente-se nervoso(a), tenso(a) ou preocupado(a)?
7. Tem má digestão?
8. Tem dificuldade de pensar com clareza?
9. Tem se sentido triste ultimamente?
10. Tem chorado mais do que de costume?
11. Encontra dificuldades para realizar com satisfação suas atividades diárias?
12. Tem dificuldades para tomar decisões?
13. Tem dificuldades no serviço (seu trabalho é penoso, causa sofrimento)?
14. É incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida?
15. Tem perdido o interesse pelas coisas?
16. Você se sente uma pessoa inútil, sem préstimo?
17. Tem pensado em acabar com a própria vida?
18. Sente-se cansado(a) o tempo todo?
19. Tem sensações desagradáveis no estômago?
20. Você se cansa com facilidade?


AVALIAÇÃO

Se respondeu de 1 a 5 vezes SIM: sinal verde
Apesar das suas dívidas, seu estado emocional não está comprometido.

Se respondeu de 6 a 20 SIM: sinal vermelho
É possível que suas dívidas estejam interferindo no seu estado emocional. Recomenda-se a ajuda de um psicólogo ou profissional de saúde e aconselhamento financeiro

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