Os 4 atos das Pandemias

Por Dado Salem
Abril 2021



Segundo o historiador da medicina Charles Rosenberg*, epidemias costumam ter quatro Atos, como numa peça de teatro.

No primeiro Ato, que ele chamou de Revelação Progressiva, empresários, comerciantes, politicos e a população em geral relutam em reconhecer a situação por conta da ameaça aos seus interesses e do modo de vida que não gostariam de mudar. O reconhecimento, embora relutante, acaba vindo gradualmente por conta das doenças e do número inegável de mortos. 

O segundo Ato ele nomeou de Gerenciando a Aleatoridade. Trata-se da busca de um acordo coletivo para gerenciar a realidade desanimadora da epidemia. O objetivo é identificar fatores de risco e mudar o comportamento, o estilo de vida. Trata-se de construir uma base lógica para enfrentar o problema. Fechamos o comércio? Deixamos abertas as igrejas? O que fazer com as escolas? Tornamos obrigatório o uso de mascaras? O que dizem os especialistas? Quais são os métodos eficazes de combate à doença? 

Negociando a Resposta Pública, é o terceiro Ato. Neste momento há uma pressão da sociedade para uma resposta decisiva, muitas vezes assumindo a forma de "rituais coletivos” como a imposição de quarentena e outros procedimentos de saneamento que oferecem a garantia e a promessa de eficácia. É quando finalmente concordamos com o que deve ser feito e partimos para a ação coordenada.

Por fim, no Ato IV chamado Decantação e Retrospecção, os índices da doença diminuem gradualmente, e são levantadas questões para julgamento moral retrospectivo a respeito do impacto duradouro de determinados incidentes e as lições aprendidas. 

Grandes epidemias não são apenas eventos de saúde. Elas causam transformações sociais, políticas e seus impactos econômicos podem ser sentidos por décadas. Estima-se que uma queda na atividade econômica pode durar até 40 anos. O exemplo mais evidente é o da Peste Bubônica a quem muitos atribuem o fim do Feudalismo na Europa. 

Uma coisa parece certa, não seremos os mesmos depois dessa Pandemia.


* Charles Rosenberg – Explaining Epidemics, and Other Studies in the History of Medicine


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