O caráter, modo se ser e agir de uma pessoa, é um assunto de grandes discussões e foi tema de reflexão do escritor Salman Rushdie ao falar sobre a construção de seus personagens.
Talvez toda a arte do romance seja baseada em algo dito pelo filósofo grego Heráclito há milênios: "o caráter do homem é o seu destino". Caráter é destino. Ele afirmou que o tipo de pessoa que você é determina o tipo de vida que você terá. Toda a arte do romance vem dessa ideia.
Mas o que acontece quando seu caráter não é seu destino? O que acontece quando uma bomba é o seu destino? Quando o colapso econômico é o seu destino? O que acontece quando o tipo de pessoa que você é não determina a vida que você tem? Quando essas coisas aleatórias, que são exteriores à sua vida, entram para determinar e definir sua vida? Esta é uma questão, eu acho que muitos escritores agora refletem a respeito e sentem a necessidade de encontrar respostas.
Eu quero dizer para mim mesmo quando eu escrevi meu romance Shalimar o Palhaço, estava lidando em parte ou grande parte com o fenômeno da ascensão do radicalismo islâmico. O romance se passa na Caxemira, onde o conflito entre o Estado Indiano e a Jihad se tornou extremo, por razões pelas quais se poderia em grande parte culpar o Estado Indiano. Mas eu queria entender, o que faz um jovem pegar uma arma ou uma bomba? O que torna um jovem perfeitamente normal, se transformar num assassino?
O personagem-título é um viajante brincalhão e eu queria torná-lo uma boa pessoa porque é muito fácil criar um personagem desagradável que faz uma coisa desagradável. A questão mais interessante é se você tem um garoto bom, comum, o que será que aconteceu a ele que o transformou naquele assassino?
E a resposta que encontrei tem muito a ver com o caráter, porque eu me perguntei... Você tem dois jovens morando um ao lado do outro, na mesma aldeia, com os mesmos fenômenos históricos políticos agindo igualmente sobre ambos, um deles pega a arma e o outro não. Por que este e não aquele? Porque é uma escolha feita por um indivíduo. Quando as mesmas pressões não conduzem seu vizinho e seu amigo a fazerem a mesma escolha, a resposta é encontrada na personalidade humana. É uma opção que está dentro de uma gama de possibilidades e existem outras pessoas para quem essa não é uma opção, não importa que sintam as mesmas pressões, eles não farão essa escolha. O romance pode explorar e desvendar isso talvez melhor do que qualquer outra forma.
O personagem-título é um viajante brincalhão e eu queria torná-lo uma boa pessoa porque é muito fácil criar um personagem desagradável que faz uma coisa desagradável. A questão mais interessante é se você tem um garoto bom, comum, o que será que aconteceu a ele que o transformou naquele assassino?
E a resposta que encontrei tem muito a ver com o caráter, porque eu me perguntei... Você tem dois jovens morando um ao lado do outro, na mesma aldeia, com os mesmos fenômenos históricos políticos agindo igualmente sobre ambos, um deles pega a arma e o outro não. Por que este e não aquele? Porque é uma escolha feita por um indivíduo. Quando as mesmas pressões não conduzem seu vizinho e seu amigo a fazerem a mesma escolha, a resposta é encontrada na personalidade humana. É uma opção que está dentro de uma gama de possibilidades e existem outras pessoas para quem essa não é uma opção, não importa que sintam as mesmas pressões, eles não farão essa escolha. O romance pode explorar e desvendar isso talvez melhor do que qualquer outra forma.
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