Um dos guardas do palácio, ao passar pela sala, viu o bobo no trono e foi repreendê-lo.
- O senhor não pode ficar aí. O senhor não é o rei.
Donald Trump lançou uma agressiva guerra comercial contra o mundo e especialmente contra a China. Muitos observadores a interpretaram como uma manobra estratégica, uma tática econômica voltada para reequilibrar déficits comerciais e restaurar a indústria doméstica. Mas sob a superfície política e econômica há outra camada sensível, as forças psicológicas que impulsionam o comportamento do homem no centro disso tudo.
Para entender o desfecho provável de uma crise como essa, é preciso reconhecer que não se trata apenas de um confronto geopolítico, mas também de um drama psicológico, profundamente ancorado na personalidade de Trump. Do ponto de vista psicológico, diversos padrões recorrentes se tornam evidentes.
Somos todos protagonistas de nossas próprias histórias. Assumimos o papel central em nossas decisões, sonhos e ações. Cabe a nós conduzir a narrativa da nossa existência com autenticidade e responsabilidade, lidando com os desafios e escolhas que moldam quem somos. No entanto, ao mesmo tempo em que protagonizamos nossas vidas, desempenhamos papéis de coadjuvantes na história dos outros.
Não vou me aprofundar aqui em reflexões sobre a tensão intrapsíquica entre protagonismo e coadjuvância, como a dificuldade em assumir um protagonismo em pessoas com baixa autoestima ou excessivamente dependentes de aprovação externa que podem se sentir incapazes de protagonizar suas vidas, preferindo papéis de suporte ou submissão. E, por outro lado, a resistência à coadjuvância em pessoas com traços narcisistas exacerbados que podem recusar o papel de coadjuvante, enxergando isso como uma ameaça à sua identidade ou valor.
Na correria da vida, costumamos ignorar algumas coisas humildes que carregam verdades profundas. Entre elas está uma erva discreta que traz nas suas folhas uma história de sabedoria. Conhecida em inglês como "sage", ou "sábia", a planta sálvia transmite lições de saúde, consciência e simplicidade. No latim está relacionada às saudações, "salve!", "saúde!", aos termos "são e salvo", inteiro, puro, e também à sapientia, sabedoria, discernimento.
Essa erva tem sido usada por milênios como tempero e ferramenta de purificação. Mas sua verdadeira sabedoria está no que ela simboliza. O ato de queimar sálvia, prática descartada pela ciência como misticismo, é conhecido por culturas antigas como um ritual de renovação. Quando a fumaça sobe, carregando o aroma dos seus óleos, somos lembrados de algo mais, de que a vida está constantemente se purificando e se renovando. Purificar é deixar ir, e deixar ir é abrir espaço para o que realmente importa.
Perder esse desejo é uma escolha de permanecer. De estar onde estamos. É encontrar prazer naquilo que já faz parte da nossa vida, no que antes parecia comum. Fazer um café pela manhã, preparar a própria comida, realizar um trabalho com atenção, uma pausa para ler um livro, um passeio no jardim, mergulhar no mar, ou mesmo no silêncio de um dia sem planos. É como descobrir que a jornada mais longa e transformadora não exige passaporte ou reservas em hotéis e restaurantes. É encontrar no presente e no que já está ao nosso alcance, as respostas que antes buscávamos em outros lugares.
Ao longo dos últimos 12 anos, a cada 2 ou 3 meses, costumo me reunir com um grupo de Pensamento Sistêmico. Nosso mestre, facilitador das conversas, é Saul Fuks. O que relato a seguir foi um dos presentes que Coco (para os íntimos) nos deu.
Vivemos tempos complexos, onde a busca por sentido se mistura com as rápidas mudanças globais e os desafios individuais. É impossível não sentir o peso das questões que emergem tanto no cenário mundial quanto nas nossas vidas cotidianas. Falamos de guerras, hackers, grandes empresários interferindo no mundo político, inteligência artificial, crise climática... uma trama que revela a fragilidade e a potência da condição humana.
A guerra, por exemplo, nos coloca diante de um espelho histórico que parece se repetir. Quando olhamos para o presente, com suas tensões nucleares e confrontos ideológicos, há um eco inquietante do que vivemos no passado. Será que aprendemos algo desde os anos sombrios de 1933 ou 1945? Ou estamos condenados a repetir os mesmos erros, embalados por discursos nacionalistas e pelo poderio bélico? Hoje, o cenário é ainda mais complexo. Atores não governamentais, como hackers e grandes empresários, jogam suas peças no tabuleiro, alterando o curso de conflitos sem sequer estarem à mesa de negociação. As novas dinâmicas do poder global nos fazem questionar até que ponto temos controle sobre nossos próprios destinos.
Independente de qual país, cultura ou momento da história uma pessoa nasce, seu maior desejo foi, é, e sempre será, a realização de seus talentos e a necessidade de reconhecimento.
Cada pessoa nasce com um conjunto único de talentos, características e inclinações, o que podemos chamar de nosso design. Esse design pode ser visto como o projeto do nosso potencial, a matéria-prima a partir da qual somos moldados. Algumas pessoas são projetadas para liderar com força e visão, outras para nutrir, cuidar, criar ou inspirar. Nesse sentido, o design humano não se limita a atributos físicos ou intelectuais, mas inclui os aspectos emocionais, espirituais e psicológicos que formam a essência de quem somos.
No entanto, esse design não é estático ou completo no nascimento. Assim como um escultor molda sua escultura, somos influenciados pela família, pelo bairro, pela cidade, pelo estado, pelo país, pela configuração dos astros, pelos acontecimentos, pelos nossos relacionamentos e pelas escolhas que fazemos ao longo do tempo. Experiências e desafios desempenham um papel no refinamento do nosso design, aprimorando nossos talentos e revelando nosso potencial. Nesse processo, começamos a entender não apenas do que somos feitos, mas também para que fomos feitos.
O Bobo, em sua essência, não está preso às estruturas rígidas da sociedade. Ele é um andarilho, um buscador de verdades que estão além do senso comum. Seus olhos inocentes, livres do cinismo, veem o mundo de maneira pura. Para o Bobo, cada momento é um milagre, cada encontro uma troca significativa, e cada caminho uma jornada.
Na mitologia, o Bobo aparece como um símbolo tanto de começos quanto de finais, um guardião da fronteira entre o conhecido e o desconhecido. Ele está no limiar da aventura, sem medo de cair no vazio, pois confia na benevolência do universo. Esta confiança não nasce da ingenuidade, mas de uma compreensão profunda de que o mundo é um lugar de infinitas possibilidades, onde a alma pode florescer se ousar sonhar.
Por Dado Salem
Junho 2024
O mito do eterno retorno foi utilizado por Friedrich Nietzsche como uma alegoria para examinarmos nossa vida e encontrar significado na nossa existência. Trata-se de um experimento mental que nos desafia a imaginar viver como se nossa vida se repetisse infinitamente. Nietzsche pergunta se aceitaríamos passar por tudo de novo, eternamente, se soubéssemos que teríamos de vivê-la em perpétua recorrência. Não se trata apenas de aceitar a vida, mas de afirmá-la de tal forma que viveríamos com alegria cada momento. Estamos vivendo vidas que estaríamos dispostos a repetir eternamente?
Esta reflexão nos leva a fazer escolhas, valorizar as nossas experiências e assumir a responsabilidade pelas nossas ações. Encoraja-nos a viver de forma autêntica e apaixonada, buscando a realização no presente em vez de adiar a felicidade para um futuro distante.
Por Dado Salem
Junho 2024
Por Dado Salem
Junho 2024
Ele defende a necessidade de reservar um tempo para descansar, observar e simplesmente ser, sem a pressão constante de ser produtivo. Essa abordagem nos permite viver o momento e saborear experiências em vez de correr constantemente para a próxima tarefa. Ele sugere que, ao desacelerar e aproveitar momentos de inatividade, podemos nos reconectar com nós mesmos, com o mundo que nos rodeia, e a vida pode se tornar mais plena e significativa.
O lazer, para Laferrière, não é apenas a ausência de trabalho, mas um aspecto fundamental da vida que estimula a criatividade, o bem-estar e o crescimento pessoal. O tempo de lazer proporciona espaço para autorreflexão, exploração intelectual e descanso emocional. Numa cultura que muitas vezes glorifica a ocupação, Laferrière defende a procura consciente de não fazer nada como forma de equilibrar as nossas vidas, essencial para manter a saúde física e mental.
Por Dado Salem
Fevereiro 2024
Ao contrário do que muitos acreditam, as favelas são locais de grande potencial e resiliência. Essas áreas são habitadas por pessoas que, mesmo enfrentando desafios significativos, encontram maneiras criativas e inovadoras de sobreviver e prosperar.
Um dos aspectos mais impressionantes das favelas é a sua comunidade. Nestas áreas, as pessoas vivem em uma proximidade incomum, compartilhando espaços e experiências diárias. Essa proximidade cria uma forte rede de apoio, onde os moradores se ajudam mutuamente em tempos de necessidade. Essa solidariedade é uma prova da resiliência das favelas.
Além disso, as favelas são frequentemente centros de atividade econômica. Essas comunidades abrigam pequenos negócios e empreendimentos locais que oferecem produtos e serviços essenciais aos moradores. Esses negócios fornecem uma fonte de renda crucial para as famílias locais e ajudam a impulsionar a economia da área.
Neste sábado fiz um programa incrível com um grupo de empresários e suas famílias. Tinha até criança de colo. Participamos de uma experiência de um dia no Instituto Reação, projeto com quem venho colaborando.
Começamos no tatame com uma aula de humildade: aprender a cair - orientadas por faixas pretas, crias da Rocinha e do Reação, que já caíram muito na vida. Essa atividade é instrutiva tanto pra quem está ficando velho, como eu, quanto para jovens que ainda vão levar um monte de rasteiras da vida. Percebi nesses mestres uma integridade de caráter como raramente se encontra por aí.
Pegamos então as vans e subimos até o topo do morro. Com um comércio atrás do outro e um sobe e desce constante de motos e vans, a Estrada da Gavea é mais ativa que a Avenida Rio Branco. Uma energia vibrante, empreendedora, colaborativa, amistosa, suja e caótica. Dessa efervescência vem a alegria e a criatividade que são a marca da alma brasileira. É o Brasil na veia.
Por Dado Salem
Maio 2023
Por Dado Salem
Abril 2023
Um dos exemplos mais conhecidos é o desenvolvimento da imprensa por Gutenberg no século XV. Na época, os livros eram manuscritos e, portanto, raros e caros. Gutenberg viu a necessidade de uma maneira mais rápida e eficiente de produzir livros e, assim, desenvolveu a imprensa. Essa inovação revolucionou o mundo editorial e tornou os livros mais acessíveis ao público em geral, levando a um aumento significativo nos índices de alfabetização e na disseminação do conhecimento.
Outro exemplo de necessidade impulsionando a inovação é o desenvolvimento da lâmpada por Thomas Edison no final do século XIX. Edison viu a necessidade de uma fonte confiável e duradoura de luz artificial, pois velas e lâmpadas a gás não eram apenas ineficientes, mas também perigosas. Ele passou anos experimentando diferentes materiais até encontrar um filamento adequado que pudesse produzir uma luz constante sem queimar rapidamente. A invenção da lâmpada elétrica não apenas revolucionou a maneira como vivemos, mas também abriu caminho para muitas outras inovações no campo da eletrônica.
Um dos estudos mais recentes nesse campo foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Wisconsin e publicado no Journal of Applied Psychology - "Making a Good Decision: The Relationship Between Decision Quality, Career Decision Self-Efficacy, and Postdecisional Affective States" por Amber N. Gaffney, Leigh Plunkett Tost, e Kristin D. Neff. O estudo examinou a relação entre a tomada de decisões de carreira e os resultados econômicos, observando especificamente os fatores que influenciam as decisões dos indivíduos de seguir carreiras em áreas com altos salários versus áreas que se alinham com seus interesses e valores pessoais.
O estudo descobriu que os indivíduos que priorizam seus interesses e valores pessoais ao tomar decisões de carreira tendem a ter maior satisfação no trabalho e maior sucesso na carreira a longo prazo. No entanto, aqueles que priorizam ganhar um salário alto no início de suas carreiras podem experimentar um aumento de ganhos de curto prazo, mas são mais propensos a se sentiram insatisfeitos com o trabalho ao longo do tempo.
Depois de ter uma ideia geral do tipo de trabalho que você gostaria de fazer, a próxima etapa é começar a aprender mais sobre ele ou sobre o setor específico em que está interessado(a). Você pode conversar com pessoas que trabalham na área, perguntar como é o dia a dia delas, o que há de bom e de ruim, pedir conselhos sobre o caminho a seguir, os conhecimentos e pré requisitos como formação ou experiência. Outra maneira é fazer uma pesquisa online, isso pode dar uma visão geral dessa carreira. Os anúncios de empregos, por exemplo, mostram o que os empregadores procuram nos candidatos. Isso pode ajudar a entender as habilidades, qualificações e experiências específicas que normalmente são necessárias para esse trabalho.
Estamos vivendo uma grande revolução. Vemos um sistema em declínio e outro emergindo. Nessa palestra no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), em julho de 2022, apresentei um apanhado histórico mostrando as principais revoluções que a humanidade passou e a que estamos vivenciando hoje. Com esse rápido exercício, relembramos de onde viemos, em que ponto estamos e percebemos com mais clareza para onde estamos indo. Apresento um quadro com os principais valores do Sociedade Industrial e da Sociedade em Rede. Isso pode trazer mais clareza para empreendedores de startups e para aqueles que administram empresas criadas com a cultura que está em declínio (e não querem ficar para trás), como deveriam estruturar suas organizações. Concluo demonstrando quanto a Comunicação e as habilidades de diálogo são fundamentais daqui em diante.
Gostaria de agradecer ao IPT e ao IEL (Instituto Euvaldo Lodi) pelo convite. Estou aqui com meu querido amigo e parceiro Celso Alvim (Maestro do Monobloco) que vai conduzir depois da minha apresentação um exercício de comunicação. Eu vou sentir que atingi meu objetivo se no final da minha apresentação e do exercício junto com o Celso, vocês tiverem certeza de que a Comunicação é a coisa mais importante que vamos precisar aprender e desenvolver neste momento e daqui para frente. É a Comunicação que vai mandar e a minha palestra vai justamente mostrar por que isso está acontecendo.
Eu nomeei essa apresentação Construindo as Empresas do Futuro, porque inovação é tudo o que estamos conversando aqui, e no subtítulo Comunicação e Gestão do Diálogo Colaborativo, vocês vêem que as palavras Comunicação e Diálogo se repetem justamente para reforçar importância disso. Vou apresentar a vocês um Contexto, mostrar um pouco do meu entendimento sobre o que está acontecendo hoje, mas contando uma história, lá de trás, até o aumento atual.
O presidente do Google falou em 2021 (matéria do The Times) que a inteligência artificial vai ter um impacto maior do que o fogo para a humanidade. Isso mostra que estamos vivendo uma grande revolução, porque sabemos a importância que o fogo teve para nós. Se uma pessoa dessa importância está falando isso, acho bom prestarmos atenção.
Muitos dizem que estamos vivendo a quarta Revolução Industrial. Eu acho que essa denominação não é a mais apropriada perante o tamanho da transformação que estamos passando. Eu vou explicar por quê.
Por Dado Salem
Abril 2022
Tornar-se adulto é um evento traumático e os pais tem um papel importante nesse processo.
O texto mais antigo que se tem notícia, a Epopéia de Gilgamesh, apresenta justamente uma viagem. A do herói em busca da vida eterna, na Terra dos Vivos. Para chegar lá ele atravessa montanhas, florestas, mares, jardins e rios. Outro texto clássico cujo tema é a viagem é a Odisséia de Homero, que conta a longa e tumultuada jornada de Odisseu de volta para casa no final da Guerra de Tróia. Neste mesmo texto há também a viagem de seu filho, Telêmaco, em busca do pai, orientado por ninguém menos que Mentor, que veio dar nome à atividade de aconselhamento e no qual incorporou a deusa da sabedoria, Atená. Mentor (Atená), diz a Telêmaco que é a hora de deixar de ser criança e se tornar um homem. A viagem de Telêmaco representa, portanto, a passagem para a vida adulta.
A passagem para a vida adulta é um dos maiores desafios que enfrentamos. Na infância vivemos num mundo mágico em que as coisas são resolvidas para nós. No processo de nos tornarmos adultos, no qual precisamos prover nosso próprio sustento, arcar com as consequências de nossos atos, nos responsabilizarmos pela nossa vida, somos expulsos de uma zona de conforto.
Tornar-se adulto é um evento traumático. Na natureza, a mãe pássaro empurra os filhotes para fora do ninho para que eles voem. Em sociedades tribais, os jovens passam por rituais em que muitas vezes têm que aguentar um sofrimento. Os Karajá, numa primeira iniciação, perfuram o lábio inferior dos jovens com a clavícula de um macaco. No Hetohoky, o maior ritual dos povos indígenas do Tocantins, as crianças são afastadas do convívio social e fazem uma viagem pela floresta onde adquirem aprendizados, para então retornarem adultas.
Dizem que estamos ficando mais inteligentes. Em países industrializados o QI médio da população subiu 3 pontos por década e aumentou incríveis 30 pontos no século XX(1) . Isso quer dizer que uma pessoa normal hoje seria considerada superdotada no início do século passado. E o que ganhamos coletivamente com esse avanço? Mercados transbordando de comida, água limpa encanada, pílulas que curam doenças, transportes rápidos e seguros, acesso a qualquer informação instantaneamente, uma abundância de bens materiais, maior longevidade etc.
Ao longo do tempo nossa sociedade veio se estruturando em função da métrica da inteligência. O QI é um dos fatores que determinam onde as pessoas vão se formar, trabalhar e consequentemente, seu estilo de vida. Bill Gates foi claro numa entrevista: "o ponto chave para nós, em primeiro lugar, sempre foi contratar pessoas muito inteligentes"(2) . Adam Grant, psicólogo organizacional da Universidade de Wharton, revelou que os processos seletivos da maioria das grandes empresas são testes de QI disfarçados(3). O Google, por exemplo, não mede explicitamente as habilidades cognitivas de seus candidatos, mas quando pede para que eles resolvam oralmente os problemas propostos por um entrevistador, estão fazendo isso indiretamente.
Mas apesar de todo esse progresso cognitivo e material, vivemos uma desigualdade crescente, uma epidemia de ansiedade e depressão, provocamos mudanças ambientais brutais que impactarão nossas vidas e principalmente as de nossos filhos e netos. Produzimos uma quantidade absurda de lixo, poluímos a terra, o ar, rios e mares, criamos armas nucleares potentes suficiente para destruir o planeta e temos líderes não só incapazes de mudar essa realidade como muitas vezes que contribuem para piorar as coisas.
Conhecimento e inteligência podem ser utilizados para o bem ou para o mal, de forma criativa ou destrutiva, e o aspecto negativo ocorre especialmente quando o foco é centrado em interesses particulares, sem observar aquilo que nos cerca, o contexto mais amplo.
A ciência avança progressivamente por meio de um método que organiza e acumula o conhecimento ao longo do tempo de maneira que o saber atual é sempre superior ao de antigamente. O mesmo não pode ser afirmado com relação à sabedoria. Apesar de toda a ciência, não podemos dizer que somos mais sábios que pessoas que viveram há milhares de anos. Ou seja, ganhamos inteligência, conhecimento e tecnologia, mas não sabedoria.
Sabedoria não é acúmulo de conhecimento nem pode ser mensurada num teste de QI. Inteligência é um dom que se recebe ao nascer. Sabedoria não. É algo que se desenvolve por meio de um longo estudo, exige demoradas reflexões que o tumulto e a polifonia da sociedade dificultam. Em geral estamos tão atolados com o dia a dia que não sobra tempo para cultivá-la. A sabedoria deveria ser praticada desde cedo porque alguns erros que poderiam ser evitados custam caro. E de que vale aprender no final da vida como poderíamos ter vivido?
Por Dado Salem
Setembro 2021
Elizabeth Kolbert, jornalista da revista The New Yorker e vencedora do prêmio Pulitzer pelo livro A Sexta Extinção, relata que o mundo passou por cinco extinções em massa, sendo a mais famosa a que aconteceu há 65 milhões de anos quando um asteroide colidiu com o planeta e eliminou os dinossauros, entre uma série de outros animais. Atualmente, os cientistas vêm monitorando uma sexta extinção, que pode ser a mais devastadora da história, só que dessa vez a causa é o nosso estilo de vida insustentável.
O grande desafio é que mesmo se parássemos com 100% das emissões de gases de efeito estufa e passássemos a plantar florestas de forma eficiente e sistemática, os resultados práticos não apareceriam antes de algumas décadas. Esse delay entre ação e a reação do ecossistema, favorece os argumentos de políticos populistas e negacionistas fervorosos, como “provas” de que essas atitudes não trazem benefício algum, o que tenderia a fazer com que continuemos a cavar o abismo onde estamos caindo. O mais assustador é que a maioria de nós vivenciará esse colapso, porque ele já começou.
Esses dias acordei pensando nisso e num exercício de futurismo, imaginei como é viver a situação dolorosa de uma catástrofe. Apesar de não substituir a experiência, saber o que as pessoas fazem para sair dessas situações é no mínimo instrutivo. Lembrei dos Krenak, povo que continua vivendo na margem esquerda do Rio Doce, anos depois da tragédia do rompimento da barragem da Vale e não aceita sair daquele lugar.
Ailton Krenak, possivelmente um dos mais conscientes líderes brasileiros, associa o desastre a um deserto: “Estamos dentro do desastre, ninguém precisa vir tirar a gente daqui, vamos atravessar o deserto, temos que atravessar. Ou toda vez que você vê um deserto você sai correndo? Quando aparecer um deserto, o atravesse”, diz.
Na Hedonia, a felicidade e o bem-estar são obtidos por meio dos prazeres, por desfrutar as coisas boas da vida e procurar evitar a dor, os desconfortos e sofrimentos. Segundo essa visão, somos movidos pela busca de objetos de desejo, alguns naturais e necessários como casa, comida, roupas, proteção, afeto… e outros desnecessários, como luxos de todos os tipos, riqueza, glamour, cargos, poder, honras, etc.
Eudaimônia, frequentemente traduzida como felicidade, seria mais corretamente definida como florescer, pois, significa literalmente o desenvolvimento pleno do daimon, o espírito que nos habita. Equivalente ao design, que contêm um projeto, um esquema em mente, um desígnio, um propósito. Eudaimônia é cumprir seu papel no mundo, o que requer um profundo autoconhecimento. Neste caso, embora as experiências de prazer sejam fortemente positivas, não seriam um objetivo a ser buscado, mas sim um subproduto da expressão dos nossos potenciais, do melhor que existe em nós colocado a serviço da sociedade.
Com vinte e poucos anos, um tempo depois de ter saído da casa dos meus pais, comecei a me questionar que vida deveria levar. Aos poucos fui percebendo que algumas coisas que considerava importantes como, morar num bairro nobre, viajar nas férias para lugares paradisíacos, jantar em bons restaurantes, ter uma família perfeita como num comercial de margarina, trocar de carro a cada 2 ou 3 anos, ter um plano de saúde com acesso aos melhores hospitais, ou seja, viver um padrão de vida elevado, e ainda, ter distinção na sociedade, ser admirado, ter sucesso… eram na verdade parte de um modelo que eu havia aprendido a valorizar. Aprendi isso com a minha família, com meus amigos e amigas, com a nossa cultura, com a publicidade...
Esse sistema de valores culturais, essencialmente hedonistas, na maior parte das vezes costuma dirigir nossos desejos, influenciar nossos pensamentos e definir nossas escolhas. É difícil ficar fora ou ir contra essas regras sociais explícitas ou implícitas. Aquele que transgride, que se desvia, que sai do padrão, que não segue o pensamento convencional, tende a se sentir um estrangeiro na sua própria casa e muitas vezes é criticado e atacado. Não foi diferente comigo.
“Só é poeta o homem que possui a faculdade de ver os seres espirituais que vivem e brincam em torno dele.” Nietzsche
O estudo comparado de mitos indica que houve, logo após a pré-história, uma visão ética comum em toda a humanidade: O ser humano era considerado um microcosmo e deveria viver em harmonia com o macrocosmo.
A consciência dava ao ser humano a possibilidade de perceber a beleza da natureza e do sistema em que estava inserido. Tudo era uma coisa só, tudo estava interconectado. Nada escapava à imensa rede da vida, da qual o homem era apenas um fio. Tudo o que fizesse a esse tecido faria a si mesmo. A consciência diferenciava o homem dos outros seres, mas também dava a ele uma missão: ser o mantenedor, o guardião disso para as gerações seguintes. O ser humano não era dono da terra, ele fazia parte dela, não devia portanto explorar ou mandar na natureza, mas sim respeitá-la, reverenciá-la, aprender com ela para viver bem e em harmonia com os outros seres. O canto e a dança faziam parte do banquete que os homens ofereciam aos deuses para celebrarem a vida, que era considerada uma dádiva.
No entanto, o poder da consciência também nos oferecia a possibilidade de agirmos como substitutos de Deus ou, de viver de acordo com nossos interesses específicos e particulares. Essa pretensão era considerada em muitas tradições como a decadência do homem, pois isso significaria uma desarmonia do equilíbrio cósmico, um rompimento com as potências que regem o Universo e a nós mesmos, representadas pelas divindades e arquétipos.
No Egito antigo, no Oriente, nas tribos africanas e em todos povos e civilizações pré-Colombianas, os líderes eram seres humanos com uma cosmovisão, uma consciência superior que lhes dava a capacidade de ler e interpretar a ordem que agia como “pano de fundo” da vida. A função deles era transmitir essa visão de mundo para a sociedade e procurar fazer com que todos vivessem de acordo com essas Leis não escritas porque, tudo o que prosperava ou fracassava estava ligado à obediência ou infração delas. Sem essa cosmovisão as coisas tendiam a não ir tão bem.
Como parte de seu contrato com esta instituição, Foucault tinha que apresentar, todos os anos, o resultado de seus estudos por meio de 26 horas de aulas abertas. Num anfiteatro para 300 pessoas, se amontoavam cerca de 500 estudantes, professores, curiosos e pesquisadores, que vinham de vários países para ouvir o filósofo. Ao entrar na sala, Foucault, como um acrobata, precisava saltar por cima das pessoas para chegar à mesa, onde ainda teria que abrir espaço entre dezenas de gravadores dos estudantes, para ajeitar suas coisas e organizar seus papéis. Foucault reclamava da situação e da pouca possibilidade de troca com a plateia, por conta do formato estabelecido para a conferência.
O que ele apresentava nessas palestras era um esboço do que depois seria transformado em livro. Neste caso, o conteúdo foi resumido num capítulo do livro O cuidado de si.
Por trás do título enigmático Hermenêutica do Sujeito, Foucault abordou um tema fundamental na antiguidade clássica: o autoconhecimento, traduzido pela famosa frase "conhece a ti mesmo". O filósofo se concentrou principalmente nas práticas que uma pessoa deveria adotar no seu cotidiano para atingir esse objetivo e desenvolver seus potenciais.